Perseguido pela ditadura, o movimento estudantil
brasileiro se tornou símbolo da luta pela redemocratização do País. Nas
décadas de sessenta e setenta do século passado, a liberdade era pauta
comum de diretórios e centros acadêmicos. Em uma época de políticos de
poucos ouvidos, estudantes recorriam a invasões, promoviam protestos
radicais e conseguiam arrastar expressivo número de universitários e
secundaristas.
Ex-membros do movimento estudantil, em Maringá, que viveram o temor de
represálias da ditadura, veem a nova geração afastada da política e
recordam que as ações iam além das atuais manifestações combinadas pelas
redes sociais.
Rafael Silva - Arquivo/DNP
![](http://src.odiario.com/Imagem/2013/06/15/g_1606a-1110.jpg)
A ação mais marcante do DCE, em uma década, foi a ocupação da Reitoria da UEM, em 2011
Ademar Demarchi, 53 anos, foi presidente do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) por três anos
na década de oitenta do século passado. Assumiu o cargo, em 1983, aos
22 anos, enquanto cursava Letras.
À frente do Diretório, promoveu passeatas a favor da gratuidade do
ensino na UEM, organizou boicote ao reajuste das mensalidades ao
recolher carnês de pagamentos e orquestrou a invasão ao Restaurante
Universitário, contra o aumento dos preços
PERFIL
“A forma de participação mudou.
Hoje, o jovem é diferente. Tem
curso profissionalizante e
trabalha”
Gustavo Andres Barros
Presidente da Umes
A gratuidade foi conquistada quatro anos depois, em 1987. “Hoje, não
se tem o mesmo interesse até porque o movimento político é mais
desinteressante”, comenta. “Naquele momento, vivíamos um empenho pela
redemocratização do País. Agora, o momento é mais de reflexão e debate
intelectual com professores do que de reivindicações. Não faz sentido
fazer passeata. Passeata contra o quê, né?”, questiona.
A União Maringaense dos Estudantes Secundaristas (Umes) tenta se
reerguer com uma nova gestão, eleita há três semanas. Ofuscada pela
baixa adesão dos alunos, a saída tem sido mostrar as ações na internet e
recrutar participantes pelas redes sociais.
“A forma de participação mudou. Hoje, temos um jovem, totalmente,
diferente, que tem curso profissionalizante e trabalha. Ele não vai só
para escola”, destaca o novo presidente da entidade, Gustavo Andres
Barros, 16.
O advogado Humberto Boaventura participou da Umes, em 1992, ano do
impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Naquele ano, 20
mil estudantes foram às ruas, em Maringá, para protestar. Dois anos
depois, foi eleito presidente do DCE da UEM.
“Em 1994, as universidades passavam por enorme dificuldade, falta de
financiamento e arrocho salarial dos professores”, ressalta. Naquele
ano, universitários acamparam, por três dias, em frente à reitoria. O
DCE criticava o sucateamento dos cursos da área da Saúde,
especialmente, o de Enfermagem.
O historiador Reginaldo Dias, professor da UEM, frequentava
assembleias do DCE, entre 1983 e 1987. Uma geração que defendia, além
da gratuidade do ensino, eleições para chefe de Departamento, diretores
de Centros e reitor. “Eram pautas coletivas que envolviam professores e
funcionários”, conta.
Autor de um livro sobre o movimento estudantil, em Maringá, ele
afirma que as mobilizações de hoje não são melhores ou piores que as de
três décadas atrás. “Na minha época, existia inflação galopante,
ditadura militar e ensino pago. Mesmo assim, não considero que a nossa
participação era maior que a de hoje. Elas são equivalentes e a mesma
angústia que os líderes têm hoje a gente tinha naquela época”, avalia.