Perseguido pela ditadura, o movimento estudantil brasileiro se tornou símbolo da luta pela redemocratização do País. Nas décadas de sessenta e setenta do século passado, a liberdade era pauta comum de diretórios e centros acadêmicos. Em uma época de políticos de poucos ouvidos, estudantes recorriam a invasões, promoviam protestos radicais e conseguiam arrastar expressivo número de universitários e secundaristas.
Ex-membros do movimento estudantil, em Maringá, que viveram o temor de represálias da ditadura, veem a nova geração afastada da política e recordam que as ações iam além das atuais manifestações combinadas pelas redes sociais.Rafael Silva - Arquivo/DNP
A ação mais marcante do DCE, em uma década, foi a ocupação da Reitoria da UEM, em 2011
Ademar Demarchi, 53 anos, foi presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) por três anos na década de oitenta do século passado. Assumiu o cargo, em 1983, aos 22 anos, enquanto cursava Letras.
À frente do Diretório, promoveu passeatas a favor da gratuidade do ensino na UEM, organizou boicote ao reajuste das mensalidades ao recolher carnês de pagamentos e orquestrou a invasão ao Restaurante Universitário, contra o aumento dos preços
“A forma de participação mudou.
Hoje, o jovem é diferente. Tem
curso profissionalizante e
trabalha”
Gustavo Andres Barros
Presidente da Umes
A gratuidade foi conquistada quatro anos depois, em 1987. “Hoje, não se tem o mesmo interesse até porque o movimento político é mais desinteressante”, comenta. “Naquele momento, vivíamos um empenho pela redemocratização do País. Agora, o momento é mais de reflexão e debate intelectual com professores do que de reivindicações. Não faz sentido fazer passeata. Passeata contra o quê, né?”, questiona.
A União Maringaense dos Estudantes Secundaristas (Umes) tenta se reerguer com uma nova gestão, eleita há três semanas. Ofuscada pela baixa adesão dos alunos, a saída tem sido mostrar as ações na internet e recrutar participantes pelas redes sociais.
“A forma de participação mudou. Hoje, temos um jovem, totalmente, diferente, que tem curso profissionalizante e trabalha. Ele não vai só para escola”, destaca o novo presidente da entidade, Gustavo Andres Barros, 16.
O advogado Humberto Boaventura participou da Umes, em 1992, ano do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Naquele ano, 20 mil estudantes foram às ruas, em Maringá, para protestar. Dois anos depois, foi eleito presidente do DCE da UEM.
“Em 1994, as universidades passavam por enorme dificuldade, falta de financiamento e arrocho salarial dos professores”, ressalta. Naquele ano, universitários acamparam, por três dias, em frente à reitoria. O DCE criticava o sucateamento dos cursos da área da Saúde, especialmente, o de Enfermagem.
O historiador Reginaldo Dias, professor da UEM, frequentava assembleias do DCE, entre 1983 e 1987. Uma geração que defendia, além da gratuidade do ensino, eleições para chefe de Departamento, diretores de Centros e reitor. “Eram pautas coletivas que envolviam professores e funcionários”, conta.
Autor de um livro sobre o movimento estudantil, em Maringá, ele afirma que as mobilizações de hoje não são melhores ou piores que as de três décadas atrás. “Na minha época, existia inflação galopante, ditadura militar e ensino pago. Mesmo assim, não considero que a nossa participação era maior que a de hoje. Elas são equivalentes e a mesma angústia que os líderes têm hoje a gente tinha naquela época”, avalia.