Nesta semana, foram de impressionar duas notícias
sobre Maringá, que repercutiram nacionalmente. São notícias opostas,
que em alguns pontos se conectam, pelo menos na fantasiosa imaginação
deste cronista, e não faria o menor sentido colocá-las no mesmo
contexto se não fosse numa crônica, que é uma espécie de armarinho de
transformar as coisas em miudezas e permite fazer especulações
esdrúxulas.
A primeira delas é que a Folha de São Paulo publicou uma criteriosa
pesquisa sobre a qualidade das universidades brasileiras e a UEM
apareceu nela com a 19ª colocação, o que é um grande feito, à frente de
várias universidades federais, que são as que lideram esse ranking, que
tem à frente a USP, uma estadual.
É interessante notar que a UEM está à frente de todas as outras
universidades estaduais do Paraná, até mesmo a de Londrina, que é ótima
e à frente também da PUC, lá de Curitiba.
A UEM é a segunda do Paraná, que tem a UFPR em primeiro, na sétima
posição, de acordo com os critérios da pesquisa que levam em conta
"qualidade de pesquisa", "qualidade de ensino", "avaliação do mercado" e
"indicador de inovação", que considera a quantidade do pedido de
patentes.
Para a qualidade da pesquisa foram consideradas apenas
as instituições mais completas, com ensino e pesquisa em diversos campos
do conhecimento e com capacidade de cumprir exigências mais rígidas
para se caracterizarem como universidades, como pesquisa científica e
número de professores qualificados, entre outras.Ou seja, a UEM está
muito bem.
Essa notícia me fez ficar imaginando os laboratórios, as bibliotecas,
a vida intensa que há na UEM, que pude vivenciar como aluno,
experimentando o ar de futuro que se aspira em muitos dos seus espaços.
Ocorre que, com a segunda notícia - tenha calma que já conto - minha
imaginação desses laboratórios foi parar nos laboratórios da fantasia
distópica de Aldous Huxley, no romance Admirável Mundo Novo, que li na
juventude pré-UEM.
Quem o leu deve se lembrar dos laboratórios antissépticos daquele
mundo no futuro, onde a reprodutibilidade era coisa de animais apenas,
pois os humanos transferiram o que se tornou para eles a nojeira toda
que era fazer sexo para a reprodução in vitro nos laboratórios.
E não é exagero dizer isso, pois Huxley faz seus personagens
impecáveis, limpíssimos, livres de doenças vivendo numa sociedade
cuidadosamente organizada por castas. A liberdade, lá, foi trocada pelo
condicionamento e por drogas que proporcionavam felicidade, conjugadas
com a lavagem cerebral ideológica aplicada durante o sono.
Pois a segunda notícia, então, foi sobre um grupo de jovens
maringaenses que, afinados com a vanguarda (!) do conservadorismo
crescente no Brasil nesta era de populismo e evangelismo retrógrado,
decidiram aderir a um movimento nacional chamado ‘Eu Escolhi Esperar’.
No começo fiquei pensando, "esperar e não ir para o futuro?"
"Esperar nenê?" Leda fantasia. Eles aderiram foi à distopia do
Admirável Mundo
Novo, de não se tocarem, de não pensar em sexo, de manter e defender
uma castidade que somente pode se alterar após o casamento. Seguindo
essa lógica, logo teremos os que defenderão que sexo só deve existir
para procriação, enquanto a coisa toda não se transfira de vez para os
laboratórios.
Esse movimento do antimovimento (...) mostra-se ultracontemporâneo,
pois tem até uma página no Facebook, com mais de 680 mil pessoas que,
segundo eles, "curtiram" a ideia. Ou com a cara deles, segundo me diz o
diabinho que está pousado aqui no meu ombro. Vade!
Chama a atenção a forma de pensar dos líderes desse movimento, que
preconizam justamente aquela ideologia do Admirável Mundo Novo, de um
mundo planificado, organizado, em que há limites para tudo, há hora
certa para comer, há uma quantidade certa, o sexo deve ser na hora
certa, enquanto não se abole ele, por certo, pois essa hora certa
certamente chegará...
Vai daí que voltamos à UEM e seus organizadíssimos laboratórios...
que podem estar justamente à espera e à disposição desses jovens se o
futuro que nos espera for esse preconizado por esse pensamento, com o
crescente conservadorismo que se alastra pelo país.
Ora, claro que há um exagero nisso, mas para quem adora apocalipses
como fantasias literárias, eu não poderia deixar de, como o Brás Cubas
defunto, delirar...
http://www.odiario.com/colunas/noticia/599950/admiravel-mundo-novo/