Os gastos com ciência e tecnologia cresceram 82% no Paraná nos últimos cinco
anos, reflexo do aumento da arrecadação do governo estadual. O investimento
passou de R$ 164,2 milhões, em 2008, para R$ 299 milhões no ano passado. Na
prática, isso representa mais pesquisas e melhorias na infraestrutura das
universidades e instituições paranaenses. Atualmente, cerca de 4 mil projetos
estão em andamento no estado.
O montante é oriundo do Fundo Paraná, que recebe 2% da Receita Tributária.
Esse recurso é transferido da seguinte forma: 1% é aplicado em projetos de
pesquisa do próprio sistema, do Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar) e da
Fundação Araucária. A outra metade é repassada diretamente para Tecpar, Iapar,
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM)
e Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Na prática
Pesquisa testa dieta para diabéticos
Uma pesquisa em andamento na PUCPR testa uma dieta diferente em pacientes
diabéticos que já apresentam disfunções renais. O coordenador do estudo,
Roberto Pecoits Filho, diz que a proposta é avaliar se a redução de consumo de
sódio em diabéticos é capaz de melhorar os sintomas da doença renal. “São
realizados cardápios diferentes, um considerado mais normal e outro com baixo
consumo de sódio aos pacientes. Vamos analisar se a doença renal desaparece
após seis meses de uma dieta diferenciada”, explica. O projeto conta com aporte
de R$ 38 mil do Fundo Paraná. A pesquisa faz parte de um edital que priorizou
projetos que possam ser aproveitados pelo Sistema Único de Saúde. “Um terço dos
diabéticos apresentam doenças renais, por isso a importância da pesquisa”,
explica.
“Todo esse repasse é revertido em pesquisa. O dinheiro enviado para as
universidades pode ser direcionado para reformas do espaço físico. No entanto,
é fundamental ter estrutura para realizar as pesquisas”, afirma o coordenador
da Unidade Gestora do Fundo Paraná, Luiz Cezar Kawano.
Distribuição
Do total de recursos que fica para o Fundo, 50% são destinados a projetos da
Unidade Gestora do Fundo Paraná; 30% para a Fundação Araucária; e 20% para o
Tecpar. Universidades públicas, privadas e institutos de pesquisa podem
apresentar projetos para que seus trabalhos sejam financiados. O valor aplicado
diretamente no Fundo aumentou 83% nos últimos cinco anos - chegou a R$ 157,5
milhões, contra R$ 86 milhões de 2008.
“Isso se deve ao aumento da arrecadação tributária do Estado, que irá
possibilitar mais pesquisa e investimento em ciência”, aponta Kawano. A
arrecadação de impostos pelo governo do Paraná cresceu 10,9% em 2012. O Estado
recolheu R$ 27,83 bilhões no ano passado ante R$ 25,09 bilhões em 2011.
Segundo Kawano, a queda de investimentos em 2011, período em que menos de 2%
arrecadado junto à Receita Tributária foi aplicado (veja infográfico), deve-se
a revisões de projetos. “Como era o primeiro ano de governo, foi realizado uma
revisão dos investimentos e do direcionamento dos recursos”, justifica.
Segundo o pró-reitor de pesquisa da UEPG, Benjamim de Melo Carvalho, é
fundamental investir em ciência e tecnologia para o desenvolvimento
socioeconômico do Paraná. “Para ter empresas competitivas, é preciso
conhecimento. Nesse aspecto as universidades são fundamentais”, diz. Ele
ressalta ainda que o país não pode ficar importando pacotes tecnológicos. “Não
há necessidade de comprar pacotes de tecnologia do exterior que já estão
defasados. O conhecimento pode e deve ser produzido no Brasil e para isso o
investimento é fundamental”, afirma.
Pró-reitor aponta isolamento entre empresas e universidades
Apesar do aumento no investimento na área, um desafio ainda é tornar as
pesquisas realizadas nas universidades acessíveis à sociedade. Para o
pró-reitor de pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR),
Waldemiro Gremski, que integra o Conselho do Fundo Paraná, há uma cultura de
isolamento entre o setor empresarial e as universidades. “Isso faz com que 90%
das pesquisas terminem logo que são publicadas. Não se transformam em produto
ou benefício para a comunidade”, diz Gremski.
Segundo ele, é papel do poder público tentar unir empresas e universidades.
“Investir em tecnologia representa lucro e desenvolvimento no futuro. Enquanto
isso não for levado a sério ainda seremos exportadores de matéria-prima, quando
poderíamos exportar mais produtos finalizados, gerando tecnologia e emprego”,
salienta.
Gremski diz ainda que a Lei de Inovação paranaense, que entrou em vigor em
fevereiro, contribui para realização de pesquisas junto ao setor empresarial,
mas é insuficiente para garantir que a tecnologia produzida nas universidades
chegue à população. A lei possibilita que professores concursados se licenciem
para desenvolver projetos junto à iniciativa privada, e também permite que
empresas e universidades públicas trabalhem em conjunto no desenvolvimento de
patentes.
“A lei abre um caminho, mas o governo precisa criar estímulos, como
financiamentos, para que a empresa utilize de fato a pesquisa universitária na
prática”, afirma o pró-reitor.
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