Não adianta girar o botão do dial do rádio em
busca de estações de Maringá e região que tragam programações culturais
consistentes. Com o propósito mais comercial e popular, a esmagadora
maioria das rádios opta mesmo pela programação limitada na execução das
músicas que estão fazendo sucesso no País e internacionalmente, além, é
claro, do disparo da incansável publicidade comercial.
Mas há luz no fim do dial; programas de rádio que se prestam a
divulgar a cultura, seja envolvendo literatura, cinema, teatro e a
música que não caiu no gosto popular, podem ser ouvidos diariamente nas
duas rádios educativas de Maringá: a Rádio Universitária UEM FM (106,9
MHZ) e a Rádio Universitária do Cesumar, a RUC FM (94,3 MHZ).
Arquivo pessoal
![](http://src.odiario.com/Imagem/2012/10/10/g_1110d-0101.jpg)
O jornalista Andye Iore, criador
do "Zombilly no Rádio", em sua casa, onde montou uma espécie de
mini-estúdio: "Faço tudo sozinho em casa"
Há mais de 15 anos trabalhando em rádios maringaenses, Elias Gomes de
Paula, 43 anos, hoje é coordenador da RUC FM e locutor na UEM FM. Para
ele, a cultura não é rentável. E, pensando no lado comercial das
rádios, cada minuto no ar vale ouro.
Para quem aprecia ouvir no rádio algo envolvendo a boa cultura
passando ao largo das músicas de sucesso, o jeito é ficar atento às
rádios educativas. "Até por serem rádios universitárias, creio que seja
um dever estimular a cultura por meio de uma programação que não se
limite apenas às músicas que a massa quer ouvir nos rádios".
OUÇA BEM
Sobre programação musical
e também para ouvir na
internet, acesse:
RUC FM: radiocesumar.com.br
UEM FM: uem.br
E se não focam tanto na programação cultural, diz Gomes de Paula, as
rádios comerciais da cidade tendem pelo menos a serem promovedoras e
estimuladoras da divulgação da cena cultural através de eventos
artísticos que chegam a Maringá. "As rádios comerciais estão certas.
Tocam o que a grande maioria do público quer ouvir".
Paulo Petrini, 50, coordenador e produtor da UEM FM, afirma que há
uma infinidade de programas na rádio que estimulam a discussão e
propagação na área cultural. O próprio departamento de Música da UEM
estimula a criação de programas voltados para músicas mais alternativas
ou eruditas.
Além disso, o foco da rádio é disparar, em sua programação de faixas
executadas, a chamada MPB de qualidade, de diferentes épocas da
história da música brasileira.
Rádio e internet
Uma das figuras mais rodadas nas rádios universitárias maringaenses é o
jornalista Andye Iore, 42. Disposto a sempre agitar a cultura da
cidade, principalmente com propostas mais alternativas, entre elas a
propagação do rockabilly, ele começou no início da década de 1990 a
fazer programas culturais nas rádios.
Para auxiliar o programa "Zombilly no Rádio", no ar desde 1999 na
UEM FM, Iore se apropria das convergências digitais envolvendo o rádio e
também a internet. "O Projeto Zombilly foi criado nessa concepção de
metalinguagem: relacionar a internet, a rádio e os shows no Tribo’s
Bar.
Hoje, temos essa interatividade ampliada para Londrina, Paraíso do
Norte e Cianorte. E ainda conseguimos um patrocínio de uma marca de
roupas de São Paulo, entre outros apoios fixos e temporários".
No pendrive
O programa "Zombilly no Rádio" vai ao ar na UEM FM aos sábados às 18h,
com reprise às quartas-feiras, às 23h59. Já na rádio Alma Londrina, o
mesmo programa é exibido sempre ao domingos, às 21h, com reprise de
terça, sexta e sábado. Morador de Cianorte, Iore montou uma espécie de
mini-estúdio em casa e depende apenas de um pendrive para transportar
para as rádios seu programa cultural radiofônico.
"Faço tudo sozinho em casa. Uso um notebook, um microfone especial
para computador e um programa de edição de áudio. Tenho um acervo com
aproximadamente 5 mil títulos entre CDs e discos de vinil. Então,
elaboro a pauta, seleciono as músicas, pesquiso sobre as bandas,
gêneros e novidades, gravo, edito e levo na rádio em Maringá, em um
pendrive.
Para a rádio de Londrina, salvo o arquivo em MP3 num site de
armazenamento de conteúdo e mando o link para download para o
coordenador da rádio".
Sem retorno
O
jornalista Thiago Soares, 24, também conhecido por inúmeros programas
culturais de rádio criados desde 2006 passeando nas duas rádios
educativas da cidade, nunca deixa de pensar na relação rádio e internet.
Para ele, hoje em dia, uma não vive sem a outra.
"É necessário ter um blog, um site ou qualquer coisa assim. É como
se fosse a casa do seu programa de rádio. É lá onde as pessoas vão
achar mais informações sobre você, o programa e até ouvir outras
edições. Mas, acho que em termos de público, mais importante do que
saber usar o seu site ou blog de um jeito favorável, é saber usar as
redes sociais. É basicamente lá que o público está hoje em dia".
Diferentemente de Iore, Soares admite ainda não ter conseguido
encontrar um jeito de obter retorno financeiro com os programas de
rádio. Assim como ele, a maioria dos fomentadores culturais da cidade
faz a "correria" mais por gostar do que propriamente pensando em
lucratividade.
"Realmente não dá retorno e nunca deu. Nunca ganhei um centavo
fazendo programa de rádio em Maringá. Nem dinheiro, nem patrocínio, nem
qualquer coisa do tipo. O máximo que eu ganhei até hoje foi CD de
banda querendo tocar no programa. Eu não sei o que me move, acho que eu
gosto de ter um lugar para falar das coisas que eu curto e para poder
tocar o que eu gosto de ouvir. Todo mundo deveria fazer isso. Assim,
muita gente que não tem espaço, ia ter sua vez. Todo artista tem um
fã", afirma Soares.
O jornalista é idealizador e produtor do "180gramas", que vai ao ar
semanalmente pela RUC FM (às quinta-feira, às 18h, com reprises na
sexta, às 15h, sábado às 22h e domingo às 16h). No programa, Soares
fala sobre a indústria musical em vinil, fita K7 e outros formatos, além
de sempre escolher algum vinil para tocar.
No "180 gramas", Soares tem também como proposta manter o ouvinte
atualizado sobre selos, gravadoras e bandas que ainda lançam cópias
físicas de discos. É sintonizar e ouvir.
http://www.odiario.com/dmais/noticia/609758/cultura-busca-sintonia/