Está
aumentando a distância entre a intenção e a ação que efetiva a educação
dos filhos. Vários estudos vêm demonstrando que os pais não só perderam
sua autoridade, mas também o bom senso de como devem educar e se
comportar diante dos filhos. Impotentes, eles esperam que os
professores sejam próteses dos pais. O profissional que cair nessa
armadilha vai fracassar e o sintoma maior é o estresse.
Depois do estudo de E. Badinter, caiu o mito do instinto materno.
Ninguém nasce mãe e pai, faz mãe e pai. Que fazer se a nova geração de
mães e pais não herda a sabedoria prática de como cuidar e educar os
filhos? Os conservadores insistem que conseguem.
Os progressistas provam que o que aprenderam dos seus pais não funciona
para educar a geração atual. Parece existir uma ruptura entre ambas as
gerações, e o preço quem paga são os filhos mal-educados.
A escola pode não ser boa, mas pelo menos evita que muitos jovens
continuem incivilizados ou bárbaros. São visíveis os sinais de
barbárie: na negligência dos pais, nas infrações de trânsito, no
esquecimento dos filhos na escola, em atos que podem machucar ou matar.
Pesquisa norte-americana vem confirmar com números que a nova geração
de pais dos EUA são esclarecidos e bons no discurso, mas são péssimos
na prática educativa dos filhos. Vejamos os valores:
90% dos pais têm consciência de que precisam estimular os filhos nos estudos, mas só 69% o fazem.
84% deles acham que precisam estabelecer regras e limites, mas só 42 % conseguem fazê-lo.
80% sabem que devem ensinar valores como honestidade, responsabilidade e igualdade, mas só 45% o fazem.
77% pretendem ensinar respeito às diferenças culturais (por exemplo,
respeitar a cultura: indígena, negra, asiática, etc) mas só 36% dos
pais conseguem aplicar a si mesmos esse respeito. De 75%, só 34% dos
pais conversam sobre temas importantes com seus filhos.
Dedução: de todos os valores positivos que os pais têm em mente, só conseguem cumprir a metade.
Pesquisa séria realizada em 1993, no Brasil, aponta que somente 32% dos
pais conversam sobre sexo com seus filhos; 50% nunca chegaram a ter
essa conversa, ou seja, de cada 10 pais, somente três conseguem
conversar com os filhos, atualmente.
Paradoxo: vivemos a era da informação e em casa convivemos com a falta
de comunicação entre pais e filhos. A linguagem que usam na internet
não serve para se comunicar conosco. Nossa linguagem de adultos não
serve para comunicar com os jovens.
O exemplo dos pais, os costumes da família e a experiência de cada um
pesam muito mais na educação do que os discursos e sermões cheios de
moral. Boa ambiência familiar educa melhor do que saber teorias. Pais
respeitosos, honestos, leitores podem influenciar seus filhos
inconscientemente.
Nunca os pais tiveram tanto acesso a livros e revista sobre educação.
Nunca estiveram tão informados sobre como devem educar, mas nunca
estiveram tão perdidos, confusos, culpados de estarem errando, coisa
que não se preocupavam nossos avós.
Não se nega que é bom conhecer teorias pedagógicas e psicológicas, mas
é melhor saber como aplicá-las. O conhecimento científico é importante,
mas vale mais a sabedoria prática de como usá-los no dia-a-dia. O que é
melhor para a sociedade: ter pais práticos ou ter doutores teóricos em
educação?
É preocupante saber que os pais hoje ainda não sabem conversar com seus
filhos sobre os assuntos da vida, como revela a pesquisa acima. Eles
estão bem informados sobre o crescente risco dos filhos usarem drogas,
de ver sua adolescente engravidar, da possibilidade de contaminação
com o vírus HIV se não usar camisinha na relação e tantos problemas.
Mesmo assim, os pais não conseguem fazer de sua intenção um ato
verdadeiramente educativo. Os filhos merecem mais.
► Raymundo de Lima é Psicólogo, doutor em educação pela Universidade de
São Paulo (USP) e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM).