A
psicóloga Maria Teresa Claro Gonzaga, professora da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), conversou ontem com O Diário sobre filhos de
casais separados, novas estruturas familiares e guarda compartilhada.
Ela entende que a aprovação da proposta de guarda compartilhada é uma
iniciativa interessante, mas que deve ser acompanhada de um processo de
preparação de pais e mães envolvidos.
Maria Teresa acredita que a manutenção dos vínculos é um dos pontos
positivos e que as crises que surjam dentro desse novo contexto devem
ser enfrentadas com tranqüilidade. "A vida das pessoas não é evitar as
crises, mas como elas serão encaradas. Não existe vida sem sofrimento",
afirma.
O Diário - A guarda compartilhada á uma boa iniciativa?
Maria Teresa Claro Gonzaga - É muito legal e muito
interessante, desde que os pais estejam preparados para isso. Não
adianta o faz-de-conta, é preciso que exista um processo consensual.
Tem que haver uma conscientização, o filho não pode ser usado nem por
um lado nem por outro.
E, se existe qualquer problema entre pai e mãe, ele não pode ser
transformado em problema entre pai e filho, ou mãe e filho. E é preciso
saber respeitar e entender as crianças na sua tristeza e nas
dificuldades decorrentes desse processo. Sempre de forma tranqüila.
- Qual é a principal virtude desse novo arranjo?
É dada à criança a possibilidade de ter o carinho do pai e da mãe, sem
necessidade de cortar vínculos com ninguém, tendo um crescimento
saudável e estando preparada para viver esses novos arranjos
familiares.
A iniciativa é bacana, principalmente porque mostra que os novos
arranjos familiares precisam ser assumidos e a sociedade deve se
comprometer com essa nova realidade.
- Pais e mães estariam preparados para esse processo?
Do que eu vejo na minha atuação, na maioria dos casos ainda não estão,
mas pode caminhar para isso. É preciso internalizar o processo, com
maturidade. Principalmente porque temos estruturas familiares
diferentes de alguns anos atrás.
Temos filhos de outros casamentos, uma madrasta e um padrasto que não
substituem o pai ou a mãe, e isso tem que ser muito trabalhado para as
crianças.
- A guarda compartilhada pode ajudar a minimizar os problemas causados à crianças pela separação do casal?
Os prejuízos de uma separação traumática são grandes para a criança.
Não ter um vínculo bem sedimentado com o pai e a mãe atrapalha o
crescimento e o desenvolvimento natural. E tudo depende de como os pais
vão conduzir esse processo.
Se a separação for bem conduzida, onde não aconteçam brigas ou que
essas brigas não sejam passadas para a criança, é mais simples. A
separação deveria ser feita dentro de princípios, sem que a mãe usasse
a criança contra o pai, ou vice-versa.
- O mais comum é que a separação seja conflituosa?
Não tenho números, mas os casos que meus alunos atendiam no trabalho
com a assistência judiciária proporcionada pela universidade à
população eram conflituosos, com a criança vivendo um turbilhão, o que
acaba sendo um fator complicador.
- Para adolescentes, esse tipo de situação é mais simples de ser explicada e entendida?
Nunca é simples cortar vínculos, e a adolescência já é por si só uma
fase complicada. E uma coisa é o lado racional da situação, outra é o
afetivo. Mas se pais e mães tiverem respeito entre si e para com os
filhos, isso é que é importante e já é um bom começo.
A vida das pessoas não é evitar as crises, mas como elas serão encaradas. Não existe vida sem sofrimento.