No começo de 2011, um calouro de Ciências Contábeis da Universidade
Estadual de Maringá (UEM) recebeu do professor a tarefa de levar um
palestrante para falar de empreendedorismo. Ele escolheu uma turma
instalada bem pertinho: o pessoal da Adecon, que em agosto seria
premiada pela confederação do setor como a melhor empresa júnior do
Brasil.
Jamila Chaves, de 20 anos, era a presidente da Adecon na época e foi
uma das palestrantes. “Fiquei bem feliz com o convite porque lutamos
para estreitar as relações com os alunos.” Hoje no 4.º ano de
Administração, Jamila preside o conselho consultivo da empresa, formado
por ex-membros, e trabalha na área financeira de uma construtora. Ela
faz parte da elite das juniores, foco de empreendedorismo nas
universidades e a melhor oportunidade para alunos entenderem problemas
do mundo real.
Esse grupo de elite do qual Jamila faz parte está sempre mudando. A
rotatividade acelerada é uma característica das EJs, que têm de se
adaptar ao ciclo de calouradas e formaturas. Matheus Doná, também de 20,
entrou na Adecon em abril de 2010 e chegou a presidente em janeiro
deste ano. A meta de sua gestão é faturar R$ 104 mil até dezembro. Como
as juniores não têm fins lucrativos, o dinheiro será reinvestido em
livros, computadores e cursos.
“Este ano teremos mais de dez treinamentos”, conta Matheus. Ele quer
chamar consultores e executivos para ensinar negociação, oratória e
liderança, e também assuntos mais técnicos, como finanças e marketing.
Os cursos são dados nos fins de semana. “A gente aproveita o tempo ao
máximo, daí vem a nossa capacitação”, diz. “Aceitamos trabalhar de graça
porque buscamos contato com o mercado. Ninguém quer só se formar.”
Para Matheus, a liderança no ranking da Confederação Brasileira de
Empresas Juniores (veja abaixo o perfil de 4 das 20 primeiras colocadas)
se explica por dois fatores. “Estamos em um polo universitário muito
forte do Paraná. Nosso vínculo com a universidade ajuda a fechar muitos
projetos de consultoria”, diz. “E estudamos muito, somos críticos.
Ninguém entra na Adecon achando que vai brincar. Levamos tudo a sério,
como se fosse nosso primeiro emprego.”
Quem também subiu rápido na carreira foi Alexandre Bolina, de 20
anos. No 3.º semestre de Engenharia de Produção na UFMG, ele já preside a
Produção Júnior, depois de ter sido trainee quando calouro e assistente
da presidência no 2.º semestre. Isso mesmo, trainee. O processo
seletivo da PJ, eleita a segunda melhor do País, lembra empresa de gente
grande. Em um semestre, chegou a ter mais de 80 inscritos para cerca de
20 vagas. Outro orgulho da empresa é o certificado ISO 9001, igualzinho
ao obtido pelas empresas “seniores”. Uma das metas de Alexandre para
este ano, além de faturar R$ 70 mil, é revalidar o ISO.
Bruno Madureira, de 23, deixará a presidência da Esalq Jr. no meio do
ano. Ele entrou na EJ no começo do curso de Engenharia Agronômica da
USP Piracicaba, ainda como trainee. “Quis ter contato com o mercado logo
que possível, porque às vezes a universidade tem dificuldade em mostrar
o lado prático das coisas”, diz. “Aprendi a trabalhar em equipe e a
lidar com softwares usados pelas empresas, além de ter tido contato mais
estreito com professores.”
Entrar na EJ também foi a maneira que Matheus encontrou de se
destacar no mercado. “Fiz consultorias, tive contato com empresários,
representei a Adecon em eventos no Brasil todo e hoje sou responsável
por uma empresa de renome. Amadureci muito. A sala de aula não é
suficiente.” / COLABOROU CARLOS LORDELO
ADECON
Fundada em 1992 na Universidade Estadual
de Maringá, a Adecon fez 18 consultorias em 2011. Foi também a
responsável pelos mais de mil questionários aplicados em todos os
bairros da cidade para a realização do prêmio Top of Mind de Maringá. A
reputação já se reflete no preço: segundo o presidente da empresa,
Matheus Doná, o faturamento ano passado subiu 45%, “com apenas duas ou
três consultorias a mais”. Um dos projetos mais importantes foi o plano
de negócios de uma exportadora. O aluno responsável acabou integrando a
nova empresa. Com cerca de 40 membros, a Adecon aceita estudantes de
Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas da UEM. Cobra de
R$ 3 a R$ 5 mil pelos projetos mais simples de consultoria, mas o preço
sobe com demandas mais específicas.
PJ PRODUÇÃO JÚNIOR
O primeiro presidente da PJ,
Rogério Coura, é hoje diretor financeiro da Braskem, gigante do setor
petroquímico. Em outubro, ele contou ao Estadão.edu
valorizar na empresa candidatos que, como ele, mostram iniciativa. Entre
os 19 projetos realizados ou iniciados por essa EJ da UFMG em 2011 está
uma nova máquina para produzir em larga escala espetinhos de churrasco.
“Se der certo, poderemos até pedir patente”, diz o atual presidente,
Alexandre Bolina. A CZM, fabricante de equipamentos de construção civil,
já contratou a PJ para oito projetos. Três dos atuais estagiários e uma
analista de controle de produção da empresa saíram de lá. Entre as
preocupações da PJ está a de guardar as informações de cada projeto. “A
cada semestre, de 15 a 20 alunos saem da EJ. Não podemos deixar o
conhecimento ir embora também”, diz Alexandre.
MECATRON
Essa EJ de Campinas quer crescer quase
30% este ano - aumentar o faturamento de R$ 46 mil, de 2011, para R$ 60
mil. Os clientes vão desde o laboratório de química da própria Unicamp
até uma empresa de sistemas de automação de Jundiaí. Um dos projetos que
está dando trabalho é o vencedor da 2ª edição do Projeção M, concurso
no qual a própria Mecatron pede às empresas que lhe mandem problemas - o
vencedor paga só uma cesta básica pela consultoria. Danielle Batocchio,
dona do restaurante Açaizeiro de Campinas, encomendou um serviço
automatizado para despejar microorganismos na caixa de gordura do
estabelecimento, reduzindo a necessidade de limpeza manual e o impacto
ambiental de produtos químicos. ”Eles podem até patentear a nova
tecnologia”, diz Danielle.
ESALQ JR.
Ancorada num dos mais importantes
centros de pesquisa agronômica do Brasil, esta EJ faturou quase R$ 77
mil no ano passado. Em 2012 o objetivo é ganhar R$ 111 mil no
desenvolvimento de projetos de adequação ambiental, viabilidade
econômica e produção vegetal e animal, entre outros serviços. Para
divulgar seus produtos, a Esalq Jr. participa de eventos do rico setor
do agronegócio, onde também faz captação ativa de clientes. Segundo o
presidente da EJ, Bruno Madureira, duas ações se destacaram nos últimos
anos: a criação de um vinho de laranja em parceria com professores da
faculdade e a realização de um plano de negócios para estudar a redução
do volume da vinhaça que sobra da destilação da cana-de-açúcar. “Isso
diminui os custos de transporte e torna a produção sustentável.”
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,como-subir-ao-podio,853671,0.htm