CARTA ABERTA
À COMUNIDADE DO VALE DO IVAÍ E À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA
O Campus Regional do Vale o Ivaí (UEM/CRV) e
a roupa do rei.
Num
tempo, não muito distante, um alfaiate se dispôs fazer para o seu rei
vestes especiais. Tratava-se de uma roupa que apenas as pessoas
inteligentes e astutas poderiam vê-la. Embevecido pela vaidade, o rei
aderiu à proposta e encomendou o traje de gala. E, de imediato, ordenou liberação de generosos recursos ao alfaiate.
Findado o prazo acordado entre as partes, o alfaiate, de posse do baú
de riquezas que lhe fora dado para a confecção da roupa, procurou sua
majestade e após garantir a qualidade no processo de produção dos trajes
reforçou sua ponderação: apenas os tolos não compreenderão a beleza
desta vestimenta. Ao ver a mesa de trabalho do alfaiate vazia o rei
exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”, embora
não visse nada além de uma simples mesa. Obviamente, dizer que nada via
seria admitir diante de seus súditos sua incapacidade para o reinado. Os
nobres ao redor do rei soltaram falsos suspiros de admiração pelo
trabalho do alfaiate, nenhum deles querendo ser identificado como
incompetente ou incapaz. Ou ainda, por medo de represarias.
Encantado com os elogios, o rei resolveu marcar uma grande festa na
cidade para que ele exibisse as “vestes especiais”. Todos rendiam
aplausos à majestade.
Entretanto, desinformada do contexto de produção das vestes, uma
criança gritou vigorosamente: “O rei está nu!”. Assustados com a
afirmação, os conselheiros do rei tentaram intimidar a criança, soldados
buscaram prendê-la; afinal, talvez ela tivesse razão.
Este
conto dinamarquês do séc. XIX não está distante da nossa realidade aqui
em Ivaiporã. Nossas vestes começaram a ser tecidas no dia 27/03/2006
quando, por meio da portaria 322/2006, a reitoria da nossa universidade
instituiu a “Comissão para Elaboração do Projeto de Implementação do
Campus da UEM no município de Ivaiporã”.
No ano seguinte a reitoria informou que recebera notificação da
Vice-Governadoria que os custos para implantação do referido campus
deveriam sair da proposta orçamentária de 2007 da UEM (Oficio
340/06-CTB), além deste montante é solicitado ao governo do estado
a viabilização de R$ 11.401.556,00; ambos os recursos garantiriam a
continuidade dos trabalhos referentes a implantação do Campus.
Aulas são ministradas provisoriamente no Colégio Estadual Barão do Cerro Azul
Em maio de 2010, o Magnífico Reitor da UEM – através do ato
executivo 012/2010 – cria o nosso campus regional; e por meio dos atos
executivos seguintes (013, 014, 015/2010) cria os cursos de graduação em
Educação Física, História e Serviço Social em Ivaiporã. No mês
seguinte, a reitoria encaminha a Secretaria de Estado da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (SETI) solicitação de liberação de mais
recursos, desta feita para garantir o inicio de funcionamento do Campus
da UEM (Oficio 125/2010); mais tarde, em 19/07/2010, a reitoria
liberaria R$ 250.000,00 para efetivar a reforma do Colégio Estadual
Barão de Cerro Azul – local em que provisoriamente seriam atendidas as
atividades do Campus até a construção definitiva de suas instalações.
Apenas em 22 de março de 2013, em pomposo evento na sala de convenções
da Associação Comercial Industrial e de Serviços de Ivaiporã (Acisi), a
ordem de serviço para a construção do primeiro dos sete blocos previstos
para o Campus Regional do Vale do Ivaí é assinada na presença de nobres que rendiam sucessivos elogios às vestes do rei.
Hoje,
20 de agosto de 2013, o Campus Regional do Vale do Ivaí da
nossa estimada UEM vive em estado de letargia. Nenhuma parede se ergueu,
utilizamos provisoriamente uma estrutura precária generosamente cedida
por uma escola da cidade.
Todos
os cursos funcionam debilmente. Alguns – como no caso de Educação
Física – com todos os professores temporários, sem equipamentos para
realização de atividades práticas imprescindíveis para a formação
profissional do aluno; outros – como no caso de Serviço
Social, sem estrutura mínima para garantir ao aluno condições de
habilitação ao término do curso. Sem mencionar detalhadamente, a
ausência de bibliotecários, servidores de apoio operacional (limpeza,
motorista, vigilância, etc) e de um número insuficiente do apoio
técnico. Não possuímos armários adequados, lousas, rede de wi-fi e
tampouco livros tombados. Alguns de nossos professores precisam comprar
caixa de giz para trabalhar, outros conduzem os alunos para uma aula
prática na piscina não aquecida mesmo no rigoroso inverno da nossa
região.
A despeito disto, ouvimos aplausos, elogios, exaltações ao rei.
Concordamos que de fato uma Universidade pública e gratuita é uma
conquista para a região; mas por meio deste instrumento denunciamos a
ausência de condições mínimas para efetivar um ensino de qualidade. E,
foi neste cenário tenebroso, que nossos alunos decidiram gritar: o rei
está nú!
Não partilhamos com os interesses que tentam intimidá-los e, por
conseguinte silenciá-los. Diante do nosso cenário deplorável,
reforçamos: sim, o rei está nú.
Em
defesa de uma Universidade Pública, gratuita e de qualidade para o Vale
do Ivaí, Professores da Universidade Estadual de Maringá Campus Regional do Vale do Ivaí.
http://outrosoutubrosvirao.wordpress.com/2013/08/27/trabalhadores-da-uempr-em-luta/