31AGO
Tomada de reitoria é coisa antiga, um protesto tradicional que ocorre em quase todas as instituições de ensino público, nas privadas, se ocorrer, é caso de política. Por isso que a tomada da administração da UEM foi tranqüila, a tolerância é um dos princípios das instituições educacionais. Nunca chegar ao estremo para não ser confundido com a realidade.
Os alunos ocuparam o prédio na semana passada. Entre eles, os que associaram a manifestação à depredação, o que é comum neste tipo de ação, afinal a adrenalina para ativistas não esta no ideal a ser defendido, mas nos excessos que o movimento permite. Viver em permanente estado de guerra.
De uma forma geral a ação dos alunos da Universidade Estadual de Maringá, que tomaram a reitoria, não pode ser condenada. Ao longo destas ações já se obteve sucesso. Entre os membros desta estratégia de luta, participaram personagens importantes da vida pública, em alguns casos, raros seres humanos, que tem uma qualidade um pouco mais requintada para a liderança, o que é raro em nossos dias.
Vale lembrar, que exercício democrático nas universidades está longe de ser a realidade repressiva da cidadania no dia a dia. As manifestações dos alunos dentro dos espaços acadêmicos já foram reprimidas durante o período militar com veemência. Mas nos anos após a abertura política e a redemocratização do país, estas manifestações não encontram resistência extrema. Afinal, os pais modernos temem erguer a mão e se verem como a geração que o antecedeu, “de cassetete em punho”.
Os alunos, com o menor sinal de vigilância, lembram os “anos de chumbo” da Ditadura Militar (1964 a 1985). Eles reivindicam o direito a liberdade sem repressão. Apontam para uma ameaça que não existe. Eles jamais sentirão o peso da mão do aparato de segurança em seu corpo, isto é coisa do passado. Mantemos o folclore dos anos de repressão para ter a sensação de grandeza de uma ação pequena. Este é o culto de matar saudade olhando a comédia e lembrando-se da tragédia que marcou nossas vidas.
Volto a considerar que a invasão tem motivos justos, mas não requer coragem ou ousadia, ela é tolerada e excessiva. Não há isolamento e sim organização. Os invasores montaram comissões e demonstraram agilidade. Entre os atos dos invasores está a emissora de rádio da UEM, que foi desligada. Mas, nos três dias que mantiveram o controle sobre o meio de comunicação, eles entraram com informes sobre o movimento, faziam críticas ao governo do estado e declaravam suas lutas. Mas tiraram o brinquedo da tomada.
A internet também foi desligada, e os meios de contato com o mundo exterior foi cortado. Calculo que alguns dos manifestantes preferiam que tivessem cortado a água à internet. Os meios de comunicação seduzem e divulgam com mais intensidade, valorizam a ação. Pode, inclusive, ser que, quando estiver lendo este texto a invasão tenha chegado ao fim. Espero que as reivindicações sejam atendidas. Mas caso não sejam, novas invasões virão. Sem se comparar aos conflitos do passado, ou a vida além dos muros da escola, a luta continua!