A Comissão Estadual da Verdade Paraná (CEV/PR)
Tereza Urban e o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e
Justiça, realizam audiências públicas em Maringá e Londrina (a 99
quilômetros de Maringá) a partir desta terça-feira (5). Os eventos foram
agendados para investigar graves violações de direitos humanos
ocorridas nos dois municípios e região, no período de 1946 a 1988, em
especial, durante a vigência da Ditadura Militar brasileira instaurada a
partir de 1964.
Em Maringá, a audiência será nesta terça, no Auditório Hélio Moreira,
na Prefeitura Municipal, das 9h as 18h, com três focos: serão colhidos
depoimentos de militantes políticos, sindicais e estudantis que viviam
na Região Norte do Estado e que tiveram seus direitos políticos e civis
cassados e/ou foram presos e torturados durante a Ditadura Militar; de
lideranças indígenas dos povos Kaigang e Xetá, que sofreram violações
dos seus direitos, durante a Ditadura Militar e; por fim, em sessão
solene e simbólica, na Câmara de Vereadores, será restituído o mandato
do vereador Bonifácio Martins.
Para a audiência, estão confirmados, ainda, depoimentos de Ruth Lima,
militante e ex-presa política; João e Helga Preiss, irmãos de Arno
Preiss, morto pela ditadura; José Tarcísio Pires Trindade, militante e
ex-preso político; Padre Orivaldo Robles, perseguido pelo Departamento
de Ordem Política e Social (Dops) e; Jorge Haddad, militante e ex-preso
político. Também prestarão depoimento os indígenas Claudemir da Silva
(Xetá), Julio Cezar da Silva (Xetá) e um outro integrante da etnia
Kaingang. A confirmar o depoimento de Osvaldo Alves, médico em
Mandaguari (a 33 quilômetros de Maringá), militante e ex-preso pela
Operação Marumbi.
Martins foi vereador em Maringá por duas legislaturas (1956/60 e
1960/64). Com o golpe militar de 1º de abril de 1964 e a instauração do
Primeiro Ato Institucional, em 9 de abril daquele ano, foi indiciado no
Inquérito Policial Militar (IPM) conhecido como "Zona Norte do Paraná",
em que dezenas de militantes de esquerda, sindicalistas e estudantes
foram presos e processados. Frente ao quadro de insegurança então
existente no país e sabendo que seu nome era visado, o vereador
evadiu-se de Maringá em abril de 1964, acompanhado da esposa e de duas
filhas, uma delas ainda criança de colo. Deixou para trás sua empresa de
prestação de serviços, uma residência que havia construído, localizada
no antigo aeroporto, e uma vida de lutas políticas e cidadãs. Cinquenta
anos depois, por iniciativa da Câmara de Vereadores e de pesquisadores
de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM), com o aval e
participação da CEV/PR, haverá a restituição simbólica do mandato do
vereador. Estarão presentes na ocasião as duas filhas dele, Ilvana
Martins da Costa Neves e Ildene Martins Scola, que receberão a homenagem
póstuma pelo pai.
Em Londrina, a audiência terá duração de dois dias. Na quarta (6),
será das 9h às 18h , na Câmara Municipal. Na quinta (7) será no Centro
de Estudos Sociais Aplicados, da Universidade Estadual de Londrina
(UEL), das 9h às 21h.
As Comissões Estaduais da Verdade (CEV) são braços auxiliares da
Comissão Nacional da Verdade (CNV) e objetivam efetivar o direito à
memória e à verdade histórica. Os trabalhos das Comissões Estaduais, bem
como da Comissão Nacional, tem centrado foco em identificar os agentes
públicos do Estado brasileiro que cometeram crimes de assassinatos,
torturas e outras violações contra os direitos humanos.