Dirce Gonçalves Santos, 54 anos, não costuma brincar em serviço. Dá um duro para cuidar de um barracão, onde cria bicho-da-seda, dos filhos e da pequena propriedade de 5 mil metros quadrados na Vila Rural "Esperança", localizada no município de Nova Esperança (a 46 quilômetros de Maringá).
Apesar de nem sonhar em passar perto de um estádio da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, ela e um grupo de produtoras esperam fazer bonito aos olhos da comunidade internacional que virá acompanhar a competição.
Rogério Recco/Flamma Comunicação
Associadas mostram cachecol e outras peças; atrás, o técnico da Emater Osvaldo Pádua e o presidente do Instituto Vale da Seda, João Berdu
Como se vê, a Copa não será apenas futebol. Para essas mulheres, o evento pode ser a oportunidade que faltava para impulsionar os negócios e proporcionar melhoria na qualidade de vida delas e das famílias.
Elas integram um projeto sustentável denominado "Vale da Seda", desenvolvido desde o início da década passada, pelo Instituto Vale da Seda e a Incubadora Tecnológica da Universidade Estadual de Maringá (UEM).O objetivo é possibilitar a agricultoras ligadas à produção de casulos um complemento de renda, com a elaboração artesanal de tecidos finos em seda pura, como cachecóis, lenços e xales.
São mulheres simples, moradoras na vila rural instalada em Nova Esperança, há 13 anos. Das cerca de quarenta mulheres, que demonstravam habilidade para artesanato e, em 2009, foram reunidas para participar da fundação de uma cooperativa, várias cuidam de pequenos barracões, onde se cria o bicho-da-seda, em lotes mantidos pelas famílias delas. A renda é modesta e elas dependem de outras fontes para sobreviver, mas a receita com os artigos de seda tem tudo para deslanchar.
Prestígio, pelo menos, elas já conquistaram, inclusive, no exterior. Há alguns anos, os produtos da cooperativa foram parar na França, oferecidos em sete das 174 lojas da exigente Artisans du Monde, uma rede que só vende mercadorias credenciadas pelo mercado solidário.
Antes, porém, de atravessar o oceano, os produtos e a cooperativa passaram por uma criteriosa avaliação feita por uma especialista, que visitou Nova Esperança, especialmente, para conhecer o projeto e saber como as peças eram confeccionadas.
A autorização de embarque só foi concedida, depois de se constatar que não havia envolvimento de crianças, qualquer tipo de exploração de mão de obra e, muito menos, o uso de produtos agressivos à saúde e ao ambiente no processo de fabricação.
Com o passaporte para ingressar no universo do mercado solidário, surgiu o projeto Artisans Brasil. As vendas para o exterior ocorreram entre 2007 e 2009, mas perderam fôlego, quando começou a crise europeia.
De acordo com o presidente do Instituto Vale da Seda, João Berdu, o projeto - único do gênero no Brasil - é tão promissor e exemplar, que foi selecionado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para ser exibido nas 12 cidades sedes da Copa do Mundo, em uma exposição intitulada "Talentos do Brasil Rural". A mostra vai reunir 99 iniciativas sustentáveis do País. A de Nova Esperança é uma das quatro de artesanato da Região Sul.
"Estamos avançando bem", destaca Berdu. Ele lembra que, no início de 2012, o "case" da cooperativa venceu a segunda edição do Prêmio Fecomércio de Sustentabilidade, instituído pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, na categoria microempresa.
40
é o número de mulheres,
que se uniram para
fundar a cooperativa
Em decorrência dos bons resultados, o presidente afirma que vários outros parceiros passaram a apoiar a iniciativa. Ele cita a empresa multinacional Bratac que faz a compra de casulos e a fabricação de fios, a fiação artesanal Casulo Feliz, o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Prefeitura de Nova Esperança.
Especializado em sericicultura, o técnico agrícola, Osvaldo Silva Pádua, da Emater, diz acreditar que a produção de tecidos finos, de forma artesanal, por mulheres ligadas à cooperativa, tende a crescer nos próximos anos.
"Nova Esperança, que já é o principal município produtor de casulos do bicho-da-seda do Brasil, também será, no futuro, a referência em seda no País", prevê.
http://www.odiario.com/regiao/noticia/731145/copa-do-mundo-vai-colocar-agricultoras-na-berlinda/