Se as previsões do Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM) se confirmarem, Maringá, em 2030, poderá se parecer com o "Admirável mundo novo" de Aldous Huxley, publicado em 1932. Uma cidade maravilhosa, moderna e sofisticadíssima, habitada por seres especialmente escolhidos – concebidos em laboratório –, mas cercada pelo caos e pela selvageria.
Fora da redoma, habitando favelas e cidades semidestruídas, o resto da raça, ainda se reproduzindo como animais, sobrevive como pode. Não há tecnologia, não há educação e a violência é parte da rotina.
Esta visão, nada otimista, é pintada pela professora Ana Lúcia
Rodrigues, do Departamento de Ciências Sociais e coordenadora do
Observatório das Metrópoles. Ela se baseia em indicadores econômicos e
iniciativas do poder público. A professora observa que os estudos
mostram que os erros cometidos no processo de crescimento urbano nas
áreas metropolitanas, levam a problemas sociais graves.
"Se a
cidade erra na priorização de alguns interesses em detrimento de
outros, acaba empurrando a população para a periferia, onde vão vão
faltar equipamentos públicos e elevar principalmente o crescimento da
violência. Infelizmente, Maringá segue este caminho", diz.
Ana
Lúcia Rodrigues afirma que o mais contundente dos erros cometidos nos
dias de hoje, que seccionou a cidade e terá graves repercussões no
futuro, foi a construção do Contorno Norte dentro do perímetro urbano.
Pela análise, o contorno vai desencadear um processo de segregação e
exclusão das populações que estiverem além daquela linha divisória.
Entre os planos de Maringá para
2030 -- dentro de um conjunto
de metas estabelecido pelo
Conselho de Desenvolvimento
Econômico (Codem) -- estão a
integração e desenvolvimento
da Região Metropolitana de
Maringá. O objetivo é reduzir as
desigualdades econômicas e
sociais, por meio de projetos que
gerem incentivos fiscais e
financeiros para investidores que
vierem à região. Entre as metas,
está reforçar a saúde e o
transporte regional.
"O Contorno é um um vetor de problemas sociais e isso não vai demorar
20 anos para acontecer. Já está acontecendo e a média prazo vai
explodir. O próprio O Diário mostrou em reportagem recente que aquela é
a região da cidade que mais cresce. A construção do contorno, aliada a
um outro grande erro, que foi a privatização de áreas públicas em toda
a região norte, terá consequências catastróficas", afirma a
professora.
"Mais de 57 áreas públicas, onde deveriam ser
construídas escolas, creches, postos de saúde, núcleos de convivência
etc. foram privatizadas, deixando grandes regiões sem espaços para
equipamentos públicos. Então, vejo que aquela vai se tornar uma região
precária, onde vão explodir os problemas sociais. É um vetor de
problemática social de toda ordem", acredita.
http://www.odiario.com/maringa-65-anos/noticia/568471/admiravel-mundo-novo/