Estudo da UEM aponta que quase 75% dos jovens entre 12 e 17 anos já consumiram algum tipo de bebida alcoólica; influência dos amigos é determinante no hábito
Balada sem álcool não tem graça. É o que pensa a
jovem de 22 anos, Evelin Delefrati. Em feriados e finais de semana, ela e um
grupo de 20 amigos sempre organizam festas e churrascos regados à cerveja e
jurupinga bebida produzida a partir da combinação de vinhos. Festa tem de ter
bebida para a gente dar risada dos bêbados, diz.
A bebida preferida de
Evelin, que é webdesigner, é a jurupinga. Nunca falta nos churrascos, conta.
Se deixarem, tomo até quatro garrafas sozinha. O excesso de álcool já provocou
muitas dores de estômago, mas ela garante nunca precisou ser ancorada por amigas
durante uma balada. Sou eu quem as ajudo, brinca. A gente sempre tem uma
história engraçada de alguém bêbado do grupo para contar.
O
comportamento do grupo de Evelin é cada vez mais popular entre jovens e
adolescentes. Beber muito, mesmo que só em finais de semana, transformou-se em
hábito para meninos e meninas cada vez mais novos.
Em Maringá, a
comprovação de que os adolescentes estão bebendo muito e com pouca idade foi
feita por um trabalho orientado pela professora Alice Maria Souza Kaneshima e
co-orientado pelo professor Edilson Nobuyoshi Kaneshima, ambos do Departamento
de Análises Clínicas, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Conforme o
levantamento, 74,71% dos adolescentes entrevistados disseram consumir bebida
alcoólica.
Os meninos dizem que bebem para mostrar que são maduros
perante os amigos. As garotas afirmaram que consomem álcool para acompanhar as
amigas.
Dependência
Em 2005, uma pesquisa da
Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco) com 50 mil estudantes
brasileiros do ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas em 14
capitais apontou que 34,8% deles tomam bebidas alcoólicas o que representa um
contingente de 17,4 milhões de jovens. Do grupo dos adolescentes que bebem, 10%
têm chances de desenvolver quadro de dependência alcoólica.
Beber muito
quando se é adolescente traz consequências mais pesadas para o organismo. Nessa
faixa etária, o corpo está em processo de formação e desenvolvimento
intelectual. A absorção de álcool pelo organismo nessa idade é muito maior. Os
sintomas de embriaguez surgem com mais velocidade e, com isso, o adolescente
torna-se agressivo e briga na escola, diz a professora Alice. Os efeitos do
álcool no corpo dos jovens são mais nocivos que nos adultos.
O fato de
beber com frequência quando se é muito jovem acarreta problemas de aprendizado
no futuro e predispõe ao aparecimento de complicações hepáticas.
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Pais sabem
O estudo da UEM revelou ainda que 67,7%
dos pais estão cientes que o filho adolescente consome bebida alcoólica. Este
resultado, para Kaneshima, mostra que os pais são permissivos.
Beber
muito é algo que a sociedade está assimilando cada vez com mais naturalidade,
diz. Festas infantis são regadas à cerveja. Nas fotografias, as crianças veem
adultos brindando com bebida alcoólica. Aí ela pede para experimentar e o pai
não hesita em atender ao pedido.
Na casa de Evelin, os pais não têm o
hábito de consumir bebida alcoólica, mas sabem que a filha, quando sai com
amigos, bebe. Se eles aprovam? Só pedem que eu tenha juízo, diz ela.
O
primeiro contato com a bebida tem sido cada vez mais cedo. Dos adolescentes
entrevistados na pesquisa da UEM, 9,24% começaram a beber quando tinham menos de
10 anos. Aos 12 anos, 12,3% afirmaram que experimentaram bebida alcoólica pela
primeira vez. Um terço dos entrevistados começou a beber entre os 12 e 14 anos.
Nessas faixas etárias, o consumo frequente em grandes quantidades é considerado
normal por pais e filhos.
O estudo constatou que 36,92% dos adolescentes
bebem todo fim de semana. A bebida não é mais considerada um perigo, avalia
Kaneshima. O acesso fácil às drogas, como maconha, ecstasy, crack e cocaína, fez
com que os pais se tornassem permissivos ao uso de álcool. Dentro de casa e na
televisão, educa-se contra as drogas, mas não contra a bebida, aponta Alice. A
sociedade mostra o tempo todo os perigos e os riscos da droga, mas a propaganda
que estimula o consumo de álcool continua na TV.