Até que não demorou tanto. Dois anos após o
lançamento de Volta, Björk reaparece nas prateleiras de CDs com Voltaic, um
combo nada modesto, composto por dois CDs e dois DVDs.
O título traz o
tão esperado registro da turnê do último trabalho, que excursionou, inclusive,
por terras brasileiras a edição especial de Volta para a América Latina, com
capa diferente e encarte ínfimo em número de páginas, foi um indicativo de que a
popstar islandesa passaria pelo País.
Voltaic tem material extenso,
para a felicidade dos milhares de seguidores da cantora e compositora. Enquanto
os DVDs somam videoclipes e apresentações gravadas na França e na Islândia, os
CDs trazem remixes e versões ao vivo.
Alguns trechos dos vídeos caíram
na internet antes do dia mundial do lançamento, na última terça-feira, como a
performance arrepiante para Where Is The Line, do álbum Medúlla
(2004).
O lançamento dedica espaço a todos os seis álbuns de estúdio da
islandesa, mas o foco está, evidentemente, em Volta, cuja produção contou com
a colaboração de Timbaland, o rapper mais badalado do momento nos Estados
Unidos. O álbum rendeu músicas de peso, como Declare
Independence,
Earth Intruders, Innocence e The Dull Flame Of Desire, um dueto com o
cantor Antony da banda Antony & The Johnsons.
Volta e Voltaic
estão ligados não apenas pela relação entre estúdio e turnê, mas, também, pelos
nomes. Em 2007, Björk revelou que o título de Volta foi escolhido durante a
busca dela por uma palavra que contivesse energia.
Foi então que
descobriu o nome do inventor da bateria, o italiano Alessandro Volta
(1745-1827), que serviu de inspiração. Já Voltaic, como o próprio nome sugere,
refere-se à eletricidade.
Estilo
Mesmo sendo
uma artista pop, Björk usa e abusa de muitos elementos da música erudita,
sobretudo da eletroacústica dos anos 50. A referência pode ser vista,
principalmente, nas populares batidas eletrônicas e nas distorções criadas na
voz dela a partir do aparato técnico disponível.
Muitas pessoas que ouvem
os álbuns de Björk pela primeira vez podem imaginar que se trata de uma artista
vanguardista.No entanto, ela não é, pelo menos na música erudita.
Os
trabalhos dela são um rescaldo simplificado da música eletroacústica, explica o
mestre em Música e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Rael
Gimenes.
Apesar disso, e diferentemente de outros cantores e bandas,
Gimenes considera que, na esfera da música de mercado, Björk trabalha de forma
inteligente, sem abrir tantas concessões a modismos.
Ela encontrou um
filão interessante na união entre pop e erudito, que, até então, não tinha sido
explorada de forma tão direta.
Thiago Ramari
Gimenes acrescenta que ela seleciona
elementos da eletroacústica e os insere no padrão da música pop, que comporta
linhas melódicas comuns, regularidade de tempo e ritmo.
A impressão de
que se trata de uma artista vanguardista está no fato de que poucas pessoas têm
contato com a música erudita para traçar a referência. Os recursos que ela
utiliza são antigos para nós.
O doutor em Música e professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rafael dos Santos, afirma que esse
hibridismo está muito presente no rock também. A referência aos aspectos
estilísticos eruditos estão na voz empostada, que vem da ópera e, também, na
montagem dos acordes.