Pesquisadora comprova que ele descontamina os efluentes do tingimento, que são tóxicos, protegendo, assim, o meio ambiente
O bagaço da laranja pode ser utilizado para descontaminar, e a baixo custo, o líquido resultante do processo de tingimento, chamado efluente, antes de descartá-lo no meio ambiente. A descoberta é da engenheira química Leila Denise Fiorentin Ferrari, que dedicou a ela sua tese de mestrado, defendida em fevereiro, na Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O uso oferece vantagens para a indústria têxtil e, também, para a de sucos, defende a pesquisadora.
O maior problema dos efluentes são os corantes, afirma Leila. Essas substâncias precisam ser retiradas antes do descarte, porque podem alterar as condições ambientais. O material mais utilizado para o tratamento é o carvão ativado, que custa caro. O bagaço da laranja, que corresponde a até 50% dos resíduos da fruta, existe em abundância e é utilizado quase que somente para a produção de ração animal por causa da quantidade elevada de fibras.
Leila garante que o bagaço tem praticamente o mesmo desempenho do carvão ativado. Para ser destinado à finalidade que a pesquisa propõe, o resíduo da fruta tem de passar por uma secagem, para livrar-se de todo o líquido. Depois, o bagaço é colocado em um tubo de vidro ou aço inox, por onde o efluente passará.
Durante o processo, chamado de adsorção, o corante é retido nos microporos do resíduo e o líquido que sai do outro lado só precisa ter regulado seu potencial higrogeniônico (pH) para ser, então, descartado. A pesquisadora acrescentou que, depois, o corante pode ser retirado dos microporos para reutilização, a partir de um procedimento chamado dessorção. No fim, sobra apenas o bagaço, cujo descarte é isento de risco.
O estudo focou o corante reativo azul 5G, utilizado para tingir jeans e o mais utilizado em Maringá e região. Leila não trabalhou com efluentes, mas com solução ideal, que é a mistura de corante e água. Ela terminou sua tese, mas a UEM dá continuidade ao trabalho, estudando o processo com outros corantes a partir de resíduos industriais.
Segundo Leila, o método, já comprovado, é viável e,
além de custar mais barato para a indústria têxtil, pode ser uma fonte de renda
a mais para as fábricas de sucos e contribuir para a preservação do meio
ambiente. Se os efluentes não forem tratados, a conseqüência é a poluição e até
morte de algumas espécies,
comentou.
Importância
Para o presidente do Sindicato
da Indústria do Vestuário de Maringá (Sindvest), Carlos Roberto Pechek, a
pesquisa é de grande importância para a busca de soluções dos problemas
ambientais. É uma questão que envolve todos, disse, acrescentando que existem
empresas que estão irregulares nesse aspecto e que a possibilidade de economia é
incentivo para que busquem cumprir as normas.
Um dos doutores na área que orientou o trabalho de Leila, Nehemias Curvelo Pereira, observa que, entre as descobertas das universidades e a aplicação efetiva no dia-a-dia, há um período de tempo, às vezes longo. Futuramente, esse estudo poderá ser utilizado em escala industrial, considerou.