Em março, O Diário denunciou casos de poluição em muitos fundos de vale; a Prefeitura diz que custa caro resolver todos os problemas, promotor e ambientalistas dão dicas
Em março deste ano, a reportagem de O Diário percorreu alguns dos fundos de vale do perímetro urbano de Maringá.
Nas visitas, constatou-se que a denúncia feita ao jornal, por ambientalistas, era pertinente: áreas de preservação ambiental agonizam em meio à poluição e outras conseqüências do crescimento populacional.
A Prefeitura informou, naquela ocasião, que tem projetos de recuperação das áreas degradadas, mas reconheceu que faltam recursos financeiros para resolver todos os problemas.
Na época da denúncia, entre os locais visitados por O Diário, o fundo de vale cortado pelo Rio Nazareth, próximo à esquina da Avenida Colombo com a Rua Vereador Arlindo Planas, apresentou a pior situação.
Havia no local um grande acúmulo de resíduos sólidos, como pneus, embalagens de óleo automotivo e materiais recicláveis de todo tipo. Passados quase três meses, a poluição aparente é praticamente a mesma de antes. Para quem mora ou trabalha nos arredores, a situação piorou.
Ninguém mais agüenta isso aqui. Fora o lixo, o local virou ponto de consumo de drogas, reclamou Ademir Veronese, que trabalha em uma empresa vizinha ao fundo de vale.
Quando acaba a droga, para sustentar o vício, eles invadem a primeira firma ou casa que vêem pela frente, acrescenta.
O relato de Veronese é semelhante à reclamação de outros moradores. Vários fundos de vale, especialmente onde não há fiscalização regular, estão virando pontos de consumo de drogas.
Fora os problemas sociais, o promotor de Defesa do Meio Ambiente de Maringá, Manoel Ilecir Heckert, e ambientalistas ouvidos por O Diário afirmam que o pouco que resta da mata nativa do município não está sendo devidamente preservada.
Isso inclui áreas de preservação permanente (margens de rios, córregos e nascentes), unidades de conservação (como o Parque do Ingá) e reservas legais (na área rural, 20% das propriedades devem ser mantidas intactas).
O coordenador do Observatório Ambiental da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Jorge Villalobos, explica que os gestores públicos têm a obrigação de preservar o meio ambiente.
Por isso, ele diz torcer para que todos os pré-candidatos apresentem, durante a campanha eleitoral, propostas práticas para resolver problemas antigos.
Penso que o meio ambiente não pode ser tratado desassociado da pessoa humana. A prática da gestão política, então, tem de envolver o meio ambiente, com fiscalização e preservação. Os governantes têm a obrigação constitucional de cuidar da água, do solo, da flora e da fauna, esclarece.
Na opinião do presidente da ONG Brasil Flora e Fauna Sul, Carlos Klichowski, os esforços no sentido de preservar o meio ambiente, em Maringá, estão surtindo efeitos positivos - embora lentamente.
Há problemas nos fundos de vale que vêm se arrastando há mais de 15 anos. Porém, graças à preocupação de gente como o promotor Ilecir, que luta pelas áreas de preservação permanente (APP), a situação está melhorando, declara Klichowski.
O líder da ONG destaca que, antes de punir, é preciso investir em campanhas educativas.
Nossa gente é leiga em assuntos ambientais e, por isso, muitas vezes responde por um crime que nem sabe que cometeu, argumenta, alegando que a punição só é justa se a pessoa tiver consciência do erro que cometeu.
Além de campanhas, o líder da ONG sugere, como medidas práticas, o isolamento das APP e a recomposição das áreas degradadas.