Especialistas em economia dizem que crianças que recebem mesada têm grande potencial para adotar maior controle de gastos e visão mais empreendedora
Os
cerca de R$ 40 de mesada que a estudante Gabriela de Paula Oliveira, 13
anos, recebe dos pais, por mês, são gastos com produtos de maquiagem,
brinquedos e ingressos para o cinema. A mãe de Gabriela sempre ensinou
a garota a poupar e ela faz questão de seguir os conselhos. "Eu já
juntei dinheiro para comprar roupas e jóias", diz, com orgulho, a
estudante da 7ª série.
O pai da menina, Ivanildo Rodrigues de Oliveira, conta que a iniciativa
de dar mesada para Gabriela surtiu efeito positivo, pois ela começou a
ter noção do quanto precisa para comprar o que quer. "A Gabriela tem
aprendido a administrar bem o dinheiro e ver como as coisas são caras."
Favorável à mesada, o economista e professor da Universidade Estadual
de Maringá (UEM) Neio Lucio Peres Gualda diz que a remuneração tem
importante papel pedagógico para a criança. "Administrar 30 dias de
despesas faz com que muitas crianças desenvolvam o senso de poupar. A
preocupação em fazer uma poupança nasce assim", diz.
A também professora do Departamento de Economia da UEM Maria de Fátima
Garcia afirma que a mesada nada mais é do que um aprendizado das noções
de economia. "A criança vai perceber que o dinheiro não é fácil de
conseguir e, com isso, ela aprende a ter responsabilidade financeira."
Para que o aprendizado tenha sucesso, porém, é preciso orientação e
disciplina dos pais. Se o dinheiro acabar antes dos 30 dias, Maria de
Fátima alerta para que os pais não cedam ao apelo dos filhos e nem dêem
mais dinheiro a eles. Na opinião da professora, os filhos precisam
aprender a organizar as finanças para que, no futuro, tornem-se
consumidores conscientes.
A partir de 10 anos de idade, a criança já tem capacidade de
discernimento e é um bom momento para começar a receber pequenas
quantias. Entre os 10 e 15 anos, a orientação é que os pais optem pela
semanada. Para a criança, controlar o dinheiro em um intervalo de sete
dias é mais fácil do que em um espaço de 30.
Já a partir dos 15 anos, é mais instrutivo se a quantia passar a ser
dada mensalmente. "Dessa forma, a mesada se iguala ao período salarial,
criando ainda mais controle financeiro", aponta Maria de Fátima.
Administrar o próprio dinheiro é uma oportunidade e tanto para pôr em
prática as orientações prévias dos pais; por isso é tão importante a
participação deles nas finanças dos filhos. "Os pais precisam orientar,
mas não intervir", pontua Gualda.
Economistas são categóricos em afirmar que a criança que recebe mesada
tem grande potencial para se tornar um adulto com mais controle sobre
seus gastos. "Um adulto que recebeu mesada na infância ou na
adolescência, e soube poupar, tem visão mais empreendedora", considera
Gualda. "Os pais não podem passar a imagem de que todo o dinheiro que a
criança recebe tem que ser gasto", arremata.
A quantidade de dinheiro que será colocada na mão dos pequenos precisa
ser calculada de acordo com o estilo de vida que a criança leva, mas
uma regra deve ser seguida: não dar muito dinheiro.
A estudante Gabriela concorda. "Eu acho legal a mesada, só não sou a
favor de dar muito dinheiro", afirma. "O pai e a mãe dão tudo para mim.
Imagina só, se eu ganhasse R$ 100. Iria gastar só com bobagem, sendo
que o pai precisa muito mais do dinheiro do que eu."
A menina, que há dois anos recebe mesada, aprendeu uma lição. "Consigo
controlar o dinheiro e vi que não é fácil para consegui-lo".
Números
► 5% é a fatia de um orçamento familiar de R$ 1 mil que deve ser destinada à mesada.
► R$ 1.208,10 foi a renda mensal do trabalhador brasileiro, em abril, segundo o IBGE.