Doutor Camargo, município da Região Metropolitana de Maringá, teve mais mortes do que nascimentos em 2007, segundo o IBGE; falta de casa e de emprego também são problema
Desde
o final de 2006, nascem menos camarguenses do que morrem. A informação
é do Registro Civil 2007, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Com 40 nascidos vivos em 2007, contra 47 óbitos,
Doutor Camargo que só tem 5.069 habitantes encolhe. É o único dos
13 municípios da Região Metropolitana de Maringá (RMM), segundo o IBGE,
onde o fenômeno ocorreu. Fato que pegou o prefeito Alcídio Delapria
(PP) de surpresa. Não deixa de ser uma informação chata, preciso
checar esses dados com a tributação, comentou.
Após confrontar os números do IBGE com o banco de dados do município,
Delapria ligou novamente para O Diário e concordou com os dados, já com
uma explicação para o fenômeno. Tem muita gente que morre em Maringá e
é enterrado aqui, declarou, observando que não há a mínima
possibilidade de Doutor Camargo se tornar uma cidade fantasma. Não
acredito nisso. Este ano, até o momento, temos 38 óbitos e posso
garantir que nasceram bem mais crianças que isso, disse, sem saber
precisar o número de nascidos. Pedi a informação no cartório, mas
ainda não tive retorno, justificou o prefeito.
Nas estatísticas do IBGE, consta que Doutor Camargo teve 40 nascidos
vivos em 2007 por lugar de residência da mãe e igual número por local
de registro. Isso significa que lá, ao contrário do que ocorreu em
cidades como Sarandi e Paiçandu, no ano passado, as mães não deixaram a
cidade para ter filhos. Fato que derruba o argumento, dado pela
Secretaria da Saúde de Doutor Camargo, de que muitas famílias optaram
pelo parto em Maringá. Na Secretaria de Saúde, ninguém quis dar
entrevista.
Situação delicada
Delapria, no entanto, reconhece que Doutor Camargo passa por uma
situação delicada. Faltam moradias e empregos na cidade. Temos que
gerar empregos e construir casas. Foram feitas mais de 200 residências
(por particulares) nos últimos quatro anos, e mesmo assim faltam
moradias, disse o prefeito. Segundo ele, 350 camarguenses estão na
fila da casa própria, porém, a Companhia de Habitação do Paraná
(Cohapar), diz ele, deve liberar apenas 66 casas do tipo popular, em
2009. Hoje, mesmo quem precisa alugar uma casa não encontra nada
disponível, diz.
O Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM)
aponta que, na década passada, Doutor Camargo foi a única cidade da RMM
a registrar uma diminuição da população. E de lá para cá, explica a
coordenadora do observatório, a doutora em Sociologia Ana Lúcia
Rodrigues, a cidade não conseguiu se tornar atrativa, principalmente
aos olhos dos jovens. Ninguém mais se muda para Doutor Camargo, porque
não há uma dinâmica econômica que atraia novos moradores. Se essa
população hoje tem mais idosos e não está mais em idade fértil, então
não haverá uma reposição populacional, explica. Num cenário em que
faltam oportunidades de trabalho, diz Ana Lúcia, a tendência dos jovens
é optar por cidades maiores ou onde, ao menos, haja empregos.
De fato, é o que tem ocorrido na cidade. Descontentes com a falta de
emprego e também de diversão, os jovens deixam Doutor Camargo em
debandada. É o que pretende fazer o casal Diane Tieme e Lucas Hashiura,
ambos com 24 anos. Os mais velhos sempre dizem que os jovens têm de
trabalhar, mas não tem emprego para todos em Camargo, reclamou Diane.
Ela e o companheiro já cogitaram se mudar para Maringá, porém,
decidiram esperar a crise financeira mundial passar para voltar a
trabalhar no Japão. Pintor, Hashiura trabalha na vizinha Ivatuba
porque, segundo ele, está faltando até casa para pintar em Doutor
Camargo.