Livro do pioneiro Geraldo Altoé mostra história das emissoras de rádio em Maringá; pesquisa traz documentos inéditos sobre o assunto
"Senhoras
e senhores, esta é a ZYS-23, Rádio Cultura de Maringá, em 1270
quilociclos, inaugurando suas atividades". A voz de Francisco Rocamora
entrava pela primeira vez na casa daqueles poucos milhares de
habitantes de Maringá através de um aparelho de rádio naquele distante
15 de junho de 1951. A cidade tinha, então, quatro anos de idade.
Rocamora era um sujeito de São José do Rio Pardo (SP), que chegou à
cidade em 1950 com o sonho de montar uma emissora de rádio. Era um
sonho que cultivava desde moleque, quando teve negado seu pedido para
se tornar aprendiz em uma oficina de conserto de rádio. Não conseguiu o
emprego, mas soube, na explicação que recebeu pela negativa, que o
rádio era uma profissão de futuro.
Esta é uma das histórias que Geraldo Altoé conta em seu livro "O Rádio
em Maringá - O Pioneirismo, O Alcance e a Bela Trajetória do Mais Ágil
Meio de Comunicação", que será lançado terça-feira no Teatro Calil
Haddad. A obra, com 188 páginas, foi publicada com recursos da
Secretaria de Cultura de Maringá, após a família de Altoé ter
apresentado um projeto para a atual administração. Os mil exemplares da
primeira edição serão distribuídos para escolas e universidades.
Deve-se ao ineditismo do tema o interesse de se publicar a pesquisa que
Geraldo Altoé, professor aposentado da Universidade Estadual de Maringá
e do Estado, realizou durante dois anos, entrevistando pioneiros e
pesquisando nos jornais da cidade. Altoé lembra que era comum ele ser
procurado por estudantes, principalmente de jornalismo, que queriam
conhecer mais sobre a história do rádio em Maringá, mas encontravam
pouco material em livros sobre a cidade.
O livro conta a história das quatro rádios pioneiras em Maringá: a
Rádio Cultura (que por ser a primeira tem um destaque maior), a
Difusora, a Rádio Jornal e a Atalaia. Nos anos 50 e 60, as rádios eram
a principal forma de se saber o que acontecia na cidade e uma das
poucas formas de distração.
A Cultura chegou a implantar alto-falantes pela avenida Brasil para as
pessoas poderem ouvir sua programação. "A rádio foi importante nesse
período porque era um meio importante, não só para a cidade, mas também
para a região, de informar a população sobre problemas políticos,
sociais, econômicos. O rádio era o único meio que chegava. E teve um
papel importante para a construção da cidade, pois chegava a toda
população, principalmente a mais humilde", conta Altoé.
"E parece que hoje há uma tendência de voltar essas rádios caipiras
para que as populações mais humildes, principalmente do interior,
possam acompanhar todo o processo de transformação e desenvolvimento."
A rádio também tinha um importante papel cultural na época. Os
programas de auditório da Rádio Cultura eram uma verdadeira coqueluche
e se formavam filas, na entrada da rádio, de pessoas que queriam
assistir às transmissões. "Eram programas específicos para determinados
setores da sociedade, como o Clube do Caçula, para a juventude, aos
domingos. Eram uma grande atração na época. Eu ia com minha esposa no
Clube do Caçula e, se chegava um pouco atrasado, não entrava mais", diz.
Altoé lembra que a maioria dos sítios e das famílias tinham uma rádio
em casa. O aparelho se tornava um companheiro de todas as horas. "O
rádio era a única maneira de socializar o analfabeto, de integrar ao
que estava acontecendo na sociedade e a rádio tinha um linguajar
voltado para essa população. Essas pessoas tinham um contato familiar
com o rádio, fazia parte do dia-a-dia dele".
Número
300 era a quantidade de poltronas do auditório da Rádio Cultura em 1953