Morrem
35 mil pessoas por ano no trânsito brasileiro. Maringá vem batendo o
seu próprio recorde de acidentes no trânsito: só em abril mais 7
pessoas perderam a vida, é uma morte a cada 5 dias. E quantos perdem
uma parte do corpo? São 1968 ocorrências registradas no centro da
cidade.
Sábado é o dia mais trágico em nossa cidade. 56,5% é o percentual de acidentes com envolvimentos de motociclistas em Maringá.
As causas podem ser o álcool, drogas, buracos, animais na pista,
sinalização inadequada, desrespeito a sinalização, sensação de
impunidade, velocidade irresponsável, falta de atenção, motoqueiros
"costurando" etc.
Tais infrações acima apontam para uma causa maior: a falta de educação
e falta de responsabilidade para dirigir. Existe "falta de respeito às
leis do trânsito" observa o Tenente Roberto de França (O Diário,
4/5/08, p. A4). Há causas de fundo: o irracionalismo dos vereadores que
viram as costas para as pesquisas sobre as causas dos acidentes de
trânsito, a morosidade do poder público para impor regras duras,
fiscalizar e disciplinar os motoristas.
Por que não proíbem os motoqueiros de trafegarem perigosamente entre os carros, colocando em risco a vida deles e dos demais?
Os pais falham na educação dos filhos, sobretudo quando conduzem bebês
no colo e crianças no banco da frente, ou quando presenteiam
adolescentes com motos. Adolescentes são os que mais exageram na
bebida. Ainda que o veículo seja conduzido por um maior habilitado, um
grupo de adolescentes alcoolizado aumenta dez vezes a chance de cometer
um acidente. As pesquisas alertam que os jovens entre 18 e 25 anos são
os que mais matam e se matam no trânsito brasileiro.
As auto-escolas falham nos seu propósito de ensino-treino, ou seja,
além de aprender a dirigir, também deveria proporcionar uma verdadeira
educação da cidadania do sujeito. Não acredito que um pit bull no
trânsito pode ser pequenez em casa. Ainda não se leva a sério a
formação da nova geração de motoristas.
A barbárie de nosso trânsito também tem influência cultural. O carro é
um objeto-fetiche, dá poder, prazer de vida e gozo de morte. Sábado
indica maior probabilidade de acidentes no trânsito, porque Maringá
recebe um maior número de visitantes de cidades menores cujos
motoristas foram condicionados a dirigir despreeocupados na sua
tranqüila cidade. Sábados, os motoristas se sentem mais relaxados, daí
sua falta de atenção.
Existe em Maringá motoristas viciados de avançar o último sinal
vermelho ou aproveitando o último verde. Duvido a eficácia dos nossos
sinaleiros. Câmeras instaladas em alguns sinaleiros espalhados pela
cidade coíbem transgressões dos motoristas, mas não é suficiente.
Faltam guardas de trânsito demonstrando autoridade para motoristas e
pedestres.
Não vemos guardas nos finais de semana coibindo crianças viajando no
banco da frente. Deixar uma criança no banco da frente, no futuro, os
pais não impedirão que ele, ainda menor, dirija sem carteira de
habilitação.
Incivilizados tomam o espaço público com seu carro espaçoso. Pode ser
propriedade privada, mas o uso do veículo tem que respeitar as regras
públicas do trânsito. Para estes, as regras do trânsito cuja finalidade
é ordenar o espaço público serve apenas para os outros. No dia-a-dia é
visível a falta de educação e desrespeito dos motoristas para com
pedestres e outros motoristas. Na frente das escolas há mães que param
em local proibido e acham que estão certas. E quando ainda atendem ao
celular? E quando jogam lixo pela janela? E quando xingam?
Parafraseando o sociólogo Wight Mills, se o problema de nosso trânsito
fosse de apenas 1% da população, pode-se dizer que se trata de um
problema pessoal. Mas quando existe um alto índice de acidentes no
trânsito, sem dúvida, é um problema social e educacional. A primeira
medida urgente é melhorar a educação dos motoristas, sobretudo, da nova
geração.
► Raymundo de Lima é Psicólogo, doutor em Educação pela Universidade de
São Paulo (USP), e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM).