Coordenador do MST argumenta que poucas empresas controlam os valores dos produtos agrícolas no mundo e são as responsáveis pela alta nos preços
Condenando o controle dos preços dos produtos agrícolas por empresas multinacionais, a ingerência da Organização Mundial do Comércio (OMC), as aplicações dos megainvestidores em ativos fixos e a monocultura extensiva, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, estará nesta quinta-feira (8) em Maringá para participar da apresentação de uma proposta de produção de agroenergia no norte e centro-norte paranaenses.
A proposta será divulgada durante o Seminário Economia Solidária, Soberania Alimentar e Agroenergia, que começa às 8 horas no Teatro Marista, onde Stédile fará a palestra "A Agroenergia e o Agronegócio - o modelo de desenvolvimento e a soberania alimentar".
Em conversa com a imprensa nesta quarta-feira na sala dos Conselhos Superiores da Universidade Estadual de Maringá, o coordenador do MST criticou o avanço de monoculturas extensivas, como a da cana-de-açúcar e a da soja, que ocorre na maior parte do território brasileiro. Segundo ele, esse é um modelo burro de agronegócio, em que pouco mais de meia dúzia de empresas ganham dinheiro e o restante do setor produtivo é prejudicado.
"Esse modelo de agronegócio de grandes extensões já não deu certo em outros países e no Brasil está fadado ao fracasso dentro de no máximo 20 anos", disse.
Segundo ele, essas grandes extensões de soja e cana expulsam o homem do campo e causam o inchaço das áreas urbanas. "É necessário voltar a estimular a agricultura familiar, porque é ela que segura o homem no campo e evita a migração para as cidades."
Com relação à suposta crise dos alimentos, Stédile esclareceu que não há falta de alimentos no mundo e que a crise atual é provocada por empresas que chegaram ao estágio de oligopólios, com poder de controlar preços.
"Em média, os preços em dólar dos principais grãos no mercado internacional dobraram, mas não houve nenhuma queda de produção - ao contrário, houve um aumento de 4% em relação ao crescimento da população - e nem houve queda nos estoques mundiais de alimentos", esclarece, frisando que "hoje o comércio mundial dos produtos agrícolas é controlado por menos de 10 empresas", algumas delas estabelecidas no Brasil, como a Bunge, Cargil, Nestlé e outras.
Essa situação, segundo ele, coincide com uma crise financeira no mundo provocada pela migração de megainvestidores para ativos fixos. "Os donos do dinheiro não aplicam mais a juro porque não dá dinheiro e estão migrando esse capital para aplicações em mercadorias, como o petróleo (foi na bolsa que houve a disparada do preço), soja, milho." O pior, segundo ele, "é que já estão vendidas no mercado de futuros quatro vezes o volume anual de produção".