Reportagem acompanha mais uma operação policial entre a noite de quinta e a madrugada de sexta nos arredores da UEM e constata som alto, consumo excessivo e chiadeira de todos
Todas
as quintas-feiras, a cena se repete. Jovens e adultos se reúnem na
Avenida Paranaguá e Rua Lauro Werneck, no Jardim Universitário, em
Maringá, para se divertir. Muitos são estudantes da Universidade
Estadual de Maringá (UEM) que moram próximos à instituição e são
atraídos pelos bares e aglomeração de pessoas que há ali.
Alguns ligam em volume alto o aparelho de som que têm nos automóveis.
Outros, bebem exageradamente e, também, vendem e consomem drogas. Há
também aqueles que só estão lá para se distrair, sem nada fazer de
"errado". A bagunça de alguns enraivece moradores que querem dormir
depois de mais um dia de trabalho.
Depois de tantas reclamações e denúncias de tráfico de drogas no Jardim
Universitário, a PM realiza operações regulares no local em dias de
movimento. Na madrugada de ontem, ocorreu mais uma. No total, 30
policiais foram escalados - dez deles da Rondas Ostensivas Tático Móvel
(Rotam), tropa de elite da Polícia Militar.
Antes de ir para o local, logo após à meia-noite, os policiais se
reuniram no 4º Batalhão, onde o comandante da operação, tenente Rodrigo
Pereira, passou algumas orientações. Entre as quais estava o uso da
força, caso fosse necessário - o que não foi. "Os estudantes acham que
as leis são feitas para todo mundo, menos para eles", comentou Pereira
à reportagem de O Diário, que acompanhou toda a operação, desde o 4.º
BPM.
Enquanto isso, na Avenida Paranaguá, a aglomeração de pessoas aumentava
pouco a pouco, conforme os estudantes iam deixando a UEM, cujas aulas
terminam às 23h. Uma equipe de oito policiais militares foi antes do
fim das aulas para o Jardim Universitário, com o objetivo de prevenir
exageros daqueles que já estavam lá, o que resultou na apreensão de
duas motocicletas e uma pick-up.
Mesmo com a presença de policiais, o volume de aparelhos de som estava
alto, tocando repetidamente músicas de sucesso no momento, como a
"Dança do Créu". Copos plásticos e garrafas iam se acumulando na
avenida e nas calçadas. Logo após a meia-noite, quando bares da
Paranaguá já estavam de portas fechadas, os outros 22 policiais saíram
do 4º BPM em direção ao Jardim Universitário. Mesmo sem os bares, a
aglomeração de pessoas permanecia igual. No instante em que as viaturas
entraram na Paranaguá, com o giroflex ligado, o som alto que havia
desapareceu.
Sem demora, os policiais formaram uma corrente e desceram a avenida.
Com cacetetes e armas de bala de borracha em mãos, ordenaram -
primeiramente em tom de voz moderado - que cada pessoa que estava lá
fosse para casa. Alguns, sem nada dizer, obedeceram aos policiais. Os
que tentaram contestar a ordem foram reprimidos verbalmente. Policiais
batiam com o cacetete em portas de metal de estabelecimentos comerciais
para dispersar as pessoas. Alguns moradores observavam a ação da PM
pela sacada dos apartamentos. Em pouco mais de meia hora, a Avenida
Paranaguá estava praticamente vazia. Ninguém entrou em confronto físico
com a polícia.
Expulsos da Paranaguá, os jovens foram em direção à Rua Lauro Werneck.
Por ali, entraram na UEM e participaram do sarau que estava ocorrendo
no câmpus. Por conta do bota-fora da PM, o público do sarau aumentou
bastante de uma hora para outra. Quem entrava ali deparava-se, sem
dificuldade, com jovens bêbados e cheiro de maconha. O comboio de
policiais parou próximo aos portões da universidade - a polícia, por
lei, não pode entrar em um câmpus universitário, a não ser que seja
oficialmente solicitada.
Um estudante de 20 anos que não quis se identificar disse que o consumo
de maconha é bastante comum na UEM. "Se quiser, podemos arranjar a
droga agora mesmo", comentou durante a entrevista. "O barulho não é
mais o maior problema", disse, depois, o tenente Pereira, sobre as
freqüentes muvucas nos arredores da Zona 7. "O pior, agora, é o tráfico
de drogas."
O tenente disse ainda que a situação no Jardim Universitário é
complicada. Mesmo depois de seguidas operações, segundo ele, as pessoas
continuam desrespeitando a lei e incomodando os moradores. "É
impossível resolver aquilo de forma tranqüila. Fazemos de tudo para não
partir para a briga, até porque, se fizermos isso, temos de responder a
inquérito depois", ressaltou Pereira. "A pedido dos moradores, vamos
continuar com as operações."