O médico Francismar Leal levou os dois filhos, Pedro, de quatro anos, e Francis, de seis, para escolher os presentes de Natal, na sexta-feira. Em uma loja de brinquedos, as crianças sentiram os efeitos da crise econômica.
"Limitei o valor máximo de R$ 25,00 para que eles escolhessem os brinquedos", explicou o médico, acrescentando: "Em momentos como este é preciso ter bom senso, ou não sobra dinheiro para o básico".
A postura mais conservadora dos consumidores diante da crise mundial é comprovada por uma pesquisa da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim) e do Departamento de Economia, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O levantamento apontou que 15% dos consumidores pouparão o 13º salário; 14,4% usarão o dinheiro para pagar contas em atraso; e apenas 13,1% comprarão presentes.
Os empresários da cidade reviram as projeções de contratação para baixo. Inicialmente, a projeção era gerar 1,2 mil postos de trabalho temporário para o fim de ano. Depois da crise, o número máximo de vagas abertas em Maringá deve ser mil.
Para o comerciante José Pedro Sanches Lavalhos, as vendas não devem ultrapassar as do ano passado.
"Se for igual a 2007, sobrevivo", prevê.
"As pessoas preferem comprar presentes mais baratos, embora não abram mão da qualidade".
Para ele, as vendas de Natal estão garantidas, mas o problema vem depois.
"Quando for repor o estoque, em janeiro, os produtos, que estão cotados em dólar, poderão estar até 40% mais caros", explica.
Assim como Lavalhos, a maior parte dos comerciantes de artigos importados já estava com o estoque comprado antes da crise. Em agosto, o dólar custava R$ 1,55.
A partir de 15 de setembro, com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, a cotação disparou e a moeda chegou a ser cotada na sexta-feira, a R$ 2,44.
O estoque comprado com o dólar barato esgota-se em dezembro.
"O dólar estava muito barato e as importadoras podem ter feito muita reserva, segurando descontos, para poder absorver o impacto agora", avalia Eduardo Silva.
Ele revela que as poucas importadoras que repassaram o aumento do dólar reajustaram os preços em até 10%. No entanto, em 2009 o aumento deverá ser maior.
O empresário Marcelo Santos de Oliveira acredita em repasses entre 10% e 15% a partir de janeiro.
"As importadoras não vão repassar tudo de uma vez", analisa.
Cerca de 60% dos brinquedos no Brasil são importados. Oliveira acredita que terá crescimento em relação às vendas de dezembro de 2007, mas com a crise o aumento este ano não deve ser tão acentuado.
"Se chegarmos a 8% está ótimo, até porque o ano passado foi muito bom", avalia.