“Na última quinta-feira (5), à noite, depois do fim das aulas, a Diretoria de Serviços e Manutenção e a chefia da Vigilância da UEM perceberam o início de um evento não autorizado. Os servidores da UEM conversaram pacificamente com os estudantes, tentando fazer com que eles não realizassem o que vem sendo denominado de Sarau. E ainda explicaram aos acadêmicos os motivos da ação. Segundo informações internas, em nenhum momento a vigilância cometeu excessos.” [1]
Não houve excessos?! “Mesmo assim, a UEM está instaurando uma sindicância para apurar os acontecimentos, reunindo todo o material necessário à análise dos fatos, como vídeos e fotos, visto que a Administração Central, repudia, veementemente, qualquer ato de violência”, afirma a Nota da UEM.[2] Se afirma-se tão categoricamente que “em nenhum momento a vigilância cometeu excessos” por que a necessidade de instaurar sindicância? Se a Administração Central “repudia, veementemente, qualquer ato de violência”, porque, diante das imagens e dos fatos, insiste que não houve “excesso”? Devemos aceitar a violência no campus como normal? O que é considerado “excessos”?!
!['Enquanto eu cuspia sangue, os vigias riam lá de dentro da universidade', diz a estudante Tamires Schmitt, atingida por uma pedra durante a confusão (Foto: Honório Silva/RPC TV) – Fonte: http://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2013/09/estudantes-dizem-ter-sido-agredidos-por-vigilantes-dentro-da-uem.html](http://antoniozai.files.wordpress.com/2013/09/clipboard01.jpg?w=812)
‘Enquanto eu cuspia sangue, os vigias riam lá de dentro da universidade’, diz a estudante Tamires Schmitt, atingida por uma pedra durante a confusão (Foto: Honório Silva/RPC TV) – Fonte: http://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2013/09/estudantes-dizem-ter-sido-agredidos-por-vigilantes-dentro-da-uem.html
Qual é o grau de violência excessiva? Terá que ocorrer algum ferimento mais grave – nem ouso pensar em ferimento fatal – e mais feridos gravemente para ser classificado como “excessos”? Ainda que chegássemos a esta infeliz situação, há uma questão precedente: numa instituição educacional é admissível o uso da violência contra os estudantes? É esta a função da vigilância patrimonial?
Conheço muitos dos profissionais vigilantes. São trabalhadores, pais de família, muitos deles com filhos e filhas na idade dos estudantes. Alguns já são avôs! São pessoas pacíficas, gentis, sempre atenciosas diante das solicitações que envolvem o cotidiano. Como os técnicos administrativos e docentes, exercem uma função importante para a comunidade universitária. Respeito-os e não consigo imaginá-los batendo em jovens, espancando mulheres. Imagino que não aceitem os atos de violência da última quinta-feira!
As imagens mostram um grupo em confronto violento com os jovens. Não os reconheço. Quais as razões para agirem assim? Quem atirou a pedra na jovem? Por que espancaram o estudante e a moça que o defendeu? Há rixas pessoais? Terá sido uma “crônica anunciada”? Quem ordenou? Por que, enfim, tanta violência em vez do diálogo e a busca de meios pacíficos para enfrentar o problema? Por que deixamos que chegasse a este ponto? O que é preciso fazer para evitarmos que fatos como estes se repitam?
O que é mais preocupante, a violência ou as tentativas de justificativa desta? O discurso legalista legitima atitudes violentas com o argumento da defesa da ordem e faz eco aos preconceitos e estigmas lançados contra os estudantes. Se aceitarmos o veredito dos que justificam a violência, os estudantes são um bando de desordeiros e viciados. Parece que basta ser aluno de Ciências Sociais, Filosofia e outros cursos estigmatizados, para ser desqualificado. Sim, há o problema das drogas, na UEM e fora dela. Mas, por que generalizar?
Muitos preferem o estereótipo e a acusação aos agredidos. “Por que estavam ali naquele horário?” A resposta legitima a violência. Não tenta-se compreender as motivações dos estudantes, mas parte-se do pressuposto de que reuniam-se para drogarem-se e consumirem álcool – o que é negado por eles e elas – e termina-se por concordar com a violência e até mesmo a estimulá-la. Justifica-se o injustificável!
Fico a pensar: “E se fosse a minha filha?” Não faltaria o dedo acusador a apontar-me a “culpa”. Não é suficiente aos pais o sofrimento de ver a filha ferida, é preciso que responda ao julgamento moral. Tento entender a atitude de quem espanca e fico a perguntar-me: “E se fosse a tua filha, o teu filho?!”
Por ironia, naquela quinta-feira o tema da aula foi o pensamento de um filósofo que acreditava na razão e na persuasão racional contra a força e a violência. Seu nome, William Godwin. Se estivesse vivo, estaria em choque e precisaria rever suas ideais!
http://antoniozai.wordpress.com/2013/09/08/violencia-na-uem-e-se-fosse-a-tua-filha/