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O médio Irno Azzolini, diretor do IML, disse que a doação na época foi autorizada por dois juízes. |
O médico Irno Azzolini, diretor geral do Instituto Médico Legal (IML) de Francisco Beltrão, concedeu entrevista para a imprensa no início da tarde de ontem para explicar o procedimento adotado — ainda no ano de 2005 — para a doação do cadáver de Osvaldo Thomé de Brito ao laboratório de anatomia e necropsia da Unioeste, em Cascavel. O caso ganhou repercussão na mídia nacional esta semana, depois que a família descobriu que o corpo desaparecido de Brito estava sendo objeto de estudo em uma universidade. A família procurava pelo homem há 17 anos.
O corpo foi localizado por uma sobrinha, estudante da Universidade Estadual de Maringá (UEM), depois de uma pesquisa pela internet. Ela entrou em contato com o IML de Francisco Beltrão e recebeu a informação de que o corpo do tio havia sido doado e avisou a família que mora em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Brito residia sozinho em Santa Izabel D’Oeste, onde foi encontrado morto aos 54 anos. O corpo deu entrada no IML dia 7 de março de 2005. Segundo Irno Azzolini, como ninguém compareceu para reclamar o corpo, foi doado para a Comissão Estadual de Destinação de Cadáver, que faz o encaminhamento para as instituições de ensino. O médico destaca que todo o procedimento obedeceu a legislação. A doação foi autorizada na época por dois juízes: Carolina Amarantes da Conceição (Comarca de Beltrão) e Fabiano Berber (Comarca de Realeza), obedecendo aos preceitos da Lei 8.501/1997. A doação foi autorizada pela justiça, porque foi morte natural. O médico salienta que as faculdades de medicina enfrentam sérios problemas atualmente porque não há mais cadáveres para serem doados para estudos.
Entrevista
Confira trecho da entrevista do diretor do IML: "As únicas formas de conseguir doar um corpo é doar-se em vida, convencendo a família a aceitar a sua decisão. Fora isso, só pode ser doado para instituições de ensino o cadáver de morte natural, ou seja, não pode ser de morte violenta (homicídio, suicídio e acidentes). Depois que o cadáver chega no IML, nos casos em que não há identificação, não há uma reclamação da família, se espera 30 dias, divulgando na imprensa. A partir disso, o IML pode dispor este corpo não diretamente para uma universidade, mas para uma comissão estadual que regula todo o processo de doação, para que não surja qualquer desconfiança sobre eventual comércio de corpos. Nesse caso, Osvaldo estava identificado, nós aguardamos quase 60 dias à espera de que alguém viesse reclamá-lo. Não houve a reclamação de nenhum parente. Solicitamos à justiça a liberação para doação e dois juízes de Direito concordaram. Felizmente, a família encontrou o corpo, porque se tivesse sido enterrado talvez nunca mais fosse localizado".
Dr. Irno conta que durante todo o tempo de funcionamento do IML foi o primeiro caso de doação. A família reside em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, e desde a separação, ocorrida em 1996, tentava localizar Brito, que inicialmente teria ido morar no litoral paranaense, mas nunca fora encontrado por lá.
Pensei que iria encontrá-lo vivo
A filha Solange Brito, em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, disse que as buscas foram "meio desnorteadas", pois recebia informações diferentes sobre o possível destino do pai. "Eu tinha informação que ele teria ido para a Argentina", afirma. A descoberta sobre a morte de Brito, em 2005, aconteceu após a filha pedir a uma prima de Maringá para auxiliar na tentativa de localização. "Sempre pensei que iria encontrá-lo vivo", declarou. Solange encontrou o pai na última sexta-feira, dia 1º e, no dia seguinte, o corpo foi enterrado em Campo Largo.