“Não tivemos problema aqui”,
define o economista Joilson Dias, em relação ao crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) de Maringá. Apesar de o município ter perdido seis
posições entre os cem municípios brasileiros com maior PIB entre 2009 e
2010, o consenso é de que o baixo desempenho da economia brasileira se
distanciou daqui.
De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) na última passada, Maringá perdeu a 62ª posição de
2009, caindo para a 68ª em 2010. Em contrapartida, o PIB do município
cresceu 13,44% no período, saltando de R$ 7,28 bilhões para R$ 8,26
bilhões.
“Tivemos um crescimento excepcional. A perda de colocação na lista
destes cem municípios, em termos relativos, se deve ao crescimento
acentuado em outras cidades de porte médio. A indústria petroleira e de
automóveis desses locais, por exemplo, apresentou desempenho diante dos
incentivos do governo federal e, por isso, ficaram à nossa frente”,
explica o economista Neio Lúcio Gualda, professor da Universidade
Estadual de Maringá (UEM).
Maringá está mais bem posicionada em relação a algumas capitais
brasileiras, como Porto Velho (RO), que ocupa a 72ª colocação da lista.
Em relação à Londrina, o PIB per capita de Maringá chegou aos R$ 23.142
em 2010, ante os R$ 19.610 registrados na segunda maior cidade do
Estado. O município, entretanto, perde para outras cidades do interior
da região Sul, a exemplo de Joinville (SC), no 25º lugar.
O índice maringaense está em contínuo crescimento desde 2010, analisam
ambos os especialistas. Para 2013, Joilson Dias projeta um crescimento
real entre 6% e 8,5% no PIB do município, fechando o ano entre os R$ 9,5
bilhões e os R$ 10 bilhões. “Em 2012, tivemos um índice muito próximo
ao da economia chinesa, se desconsideradas as taxas de inflação. Algo em
torno de 8,5% e de boas expectativas”, afirma o também economista da
Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim).
Se as perspectivas positivas se confirmarem, Maringá deve retomar
números expressivos na geração anual de empregos. “Nossa economia pode
ter um salto em comparação ao desempenho que é esperado para o Brasil.
Os novos postos de emprego devem acompanhar o ritmo”, destaca Neio
Gualda.
“Provavelmente, um número na casa das 7 mil contratações, o que se
aproximaria do saldo de 8,6 mil registrados em 2008, antes da crise
internacional”, conclui Dias.
Diante do crescimento do PIB de Maringá em 13,44% e o decréscimo no
consumo das famílias, o Jornal do Povo procurou os economistas Joilson
Dias e Neio Lúcio Gualda para avaliar o cenário e as perspectivas
econômicas do município.
JP: O crescimento do consumo, incentivado pela política econômica
nacional durante os últimos anos, apresentou um primeiro sinal de recuo.
O que explica esta queda?
Neio Gualda: Na verdade, não é uma queda, mas sim um crescimento mais
lento. A principal razão deste recuo é o endividamento das famílias, que
apresenta boa parte da renda comprometida com as prestações. Parece ter
chegado a hora de equilibrar as contas e conter o consumo.
Uma segunda causa, pode-se dizer, é que as pessoas começam a perceber um
crescimento econômico menor daquilo anunciado pelo governo. Há queda do
otimismo e a população tenta se precaver de algumas possíveis
situações, como o desemprego, por exemplo. Fazendo reservas em casa, as
expectativas nacionais continuam não sendo muito positivas.
JP: Desde o ano passado, o governo federal mudou o foco de seus
incentivos e passou a investir mais na produção. Isto contribuiu para a
desaceleração?
Neio Gualda: Com a volta do preço integral, tanto aos carros, quanto aos
eletrodomésticos, houve diminuição da compra. Os segmentos ajudados
pela redução do IPI provocaram a antecipação do consumo. Naturalmente,
as famílias estão “aparelhadas” e não precisam de novos produtos
imediatamente.
JP: Pode-se associar este menor desempenho do consumo ao fraco PIB nacional registrado em 2012?
Neio Gualda: Sim, pois afeta a expectativa e o estado de confiança do
consumidor. As pessoas, de modo geral, estão mais receosas e um
resultado puxa o outro.
JP: O setor de serviços, um dos principais pilares da economia
maringaense, segurou o PIB nacional em 2012. Quais são as perspectivas
para o município este ano?
Joilson Dias: Não tivemos tanto problema em relação ao consumo e aos
serviços aqui em Maringá. A expectativa de confiança na confiança tem um
diferencial na cidade, já que persiste muito alta. Os indicadores estão
em crescimento.
JP: Uma pesquisa divulgada pela Associação Comercial e Empresarial de
Maringá (Acim), em janeiro, apontou que o índice de confiança do
consumidor registrou recorde (aproximadamente 153 pontos). Em
compensação, 48% dos maringaenses estavam endividados. Há uma armadilha
entre otimismo e poder real de consumo?
Neio Gualda: O otimismo leva as pessoas a se endividarem. O excesso de
confiança é causado pela saciedade momentânea de sobra de emprego, de
maiores salários e promoções rápidas. Esta expectativa aparentemente
favorável é comum, principalmente, nas médias cidades, como Maringá.
Joilson Dias: O valor médio das prestações das famílias em dezembro (R$
1.244,98) me surpreendeu. O ritmo frenético de compra, em especial de
eletrodomésticos, fez com que o endividamento saltasse.
JP: Segundo recente pesquisa divulgada pelo Serviço de Proteção ao
Crédito Nacional (SPC Brasil), 85% dos entrevistados compraram por
impulso e outros 47% admitem comprar em momentos de ansiedade, tristeza e
angústia. Como driblar esta armadilha?
Neio Gualda: Acredito que a educação financeira, elaborada desde a
infância é o melhor a se fazer. Aqui na UEM, por exemplo, desenvolvemos
um grupo de orientação aos colaboradores que, como mostram os dados da
pesquisa, também compram por ansiedade.
Não existem exageros em 85%. Há fraqueza do consumidor no ato da compra,
que, na hora de pagar, encontra dificuldades. Estamos falando de uma
questão cultural e que tem de ser retrabalhada desde a juventude.
Costumo dizer que determinam 100% do nosso salário. Mas, quem determina
100% das nossas contas somos nós. Ou seja, a lógica é sempre gastar
menos do que se ganha.
Joilson Dias: A dica é sempre a mesma: questione-se antes de efetuar o
gasto. Eu preciso disso? Preciso comprar agora ou posso economizar? Se a
resposta for negativa, a atitude é óbvia. |