UEL investe na conservação de orquídeas
Instituição busca parcerias para obter sementes; espécie paranaense é usada em pesquisa contra o câncer
Londrina deve ganhar em breve o primeiro banco de sementes de orquídeas do Brasil. A iniciativa é da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em parceria com a Universidade da Flórida (EUA). O objetivo é reunir amostras de cerca de três mil espécies nativas das matas e cerrados brasileiros, incluindo algumas ameaçadas de extinção. Em uma delas foi descoberta uma substância eficaz contra o câncer de ovário.
Algumas sementes de orquídeas já estão sendo conservadas no laboratório do Orquidário da UEL em nitrogênio líquido a uma temperatura de -196 graus centígrados, por meio de um método chamado de cliopreservação. ''Esse processo permite guardar a semente por até 70 anos'', destaca Ricardo Faria, professor do curso de Agronomia com pós-doutorado em Genética e Biotecnologia e coordenador do Orquidário da UEL.
Ele explica que inicialmente estão sendo armazenadas sementes de orquídeas nativas do Paraná. ''Iniciamos esse trabalho em 2009, quando através de uma parceria com a Universidade da Flórida conseguimos uma verba de R$ 60 mil para a compra dos equipamentos para realizar a cliopreservação.''
De acordo com o docente, somente no Paraná existem cerca de 400 espécies. ''Começamos armazenando algumas amostras paranaenses e vamos buscar parcerias com universidades do país para obter sementes típicas de outros Estados'', salienta.
Sarcoma
A amostra de uma orquídea rara cultivada no Orquidário da UEL serviu de base para um estudo que pode representar uma nova alternativa contra o câncer de ovário. ''Trata-se de uma espécie nativa do Norte do Paraná. Nela foi encontrada uma substância com princípios ativos que ajudam a frear o desenvolvimento do sarcoma de ovário'', explica Armando Mateus Pomini, doutor em Química Orgânica, docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e coordenador do estudo, que está sendo realizado em parceria com a Unicamp.
Segundo ele, as pesquisas tiveram início em março de 2011 e os princípios ativos da orquídea em questão já foram testados em ratos e em células cancerígenas. ''Em ambos os casos, a substância se mostrou eficaz e menos tóxica que tratamentos convencionais, como a quimioterapia. Além disso a substância não faz com que o paciente perca cabelo durante o tratamento'', afirma.
O docente revela que o estudo está em fase de patenteamento. ''Após patentear a substância, vamos procurar parcerias com a secretaria estadual de Saúde e com outras universidades para aprofundar as pesquisas. Depois disso, pretendemos negociar com alguma indústria química a produção da substância em grande escala. Esse processo deve demorar aproximadamente 12 anos'', avalia.
Pomini diz que este é o primeiro estudo do gênero no mundo. Ele revela que os resultados da pesquisa serão apresentados em um congresso mundial de estudos contra o câncer que acontece em Nova Iorque no mês de julho.
O pesquisador diz que por questões estratégicas prefere não divulgar a espécie da orquídea que serviu de base para os estudos. ''É uma espécie que se encontra em risco de extinção. Se divulgarmos seu nome haverá coleta predatória dela nas matas agravando ainda mais essa situação'', analisa.
Propriedades
Segundo Pomini, a recente descoberta reafirma a importância da preservação ambiental. ''Atualmente alguns antibióticos já não fazem efeito devido ao surgimento de bactérias super-resistentes e muitos medicamentos contra o câncer não surtem tanto efeito. A natureza é que servirá de fontes de pesquisas de novas substâncias medicamentosas. Por isso é importante preservá-la.''
O coordenador do Orquidário destaca outras propriedades descobertas nas orquídeas. ''Já foi comprovado que a espécie cyrtopodium tem ação cicatrizante. A baunilha é produzida com vanilla, outro tipo de orquídea. Já as orquídeas dendobrium são consumidas pelos chineses como salada, pois acredita-se que elas são afrodisiácas.''
'Processo demora nove meses'
O coordenador do Orquidário da UEL, professor Ricardo Faria, afirma que as orquídeas são consideradas uma das plantas mais desenvolvidas do planeta. ''Isso porque elas estão espalhadas pelo mundo todo. Somente no deserto e na Antártida não existem orquídeas. Ao todo são cerca de 25 mil espécies'', explica.
Entretanto, o professor diz que algumas espécies já se encontram em risco de extinção. ''Isso ocorre devido à destruição das matas e coleta predatória realizada pelas pessoas'', contextualiza Faria.
Visando diminuir esse impacto, a UEL mantém um laboratório de propagação de orquídeas. ''Na natureza, apenas de 2% a 5% das sementes de orquídeas germinam, gerando novas mudas da planta. Em laboratório, conseguimos elevar esse índice a 95%, fazendo a germinação com carvão, água de coco, açúcar e adubo. O processo demora nove meses. É como se produzíssemos orquídeas de proveta'', esclarece Faria.
Espaço aberto para a comunidade
Criado em 1997, com o objetivo de servir de cenário para aulas de floricultura e paisagismo do curso de Agronomia, o Orquidário da UEL abriga cerca de 30 mil mudas de orquídeas. Visando diminuir o volume de coleta predatória da planta em seus habitat natural, o espaço comercializa algumas mudas todas as sextas-feiras, das 8 às 16 horas.
''Vendemos plantas que já foram pesquisadas por alunos e professores e aplicamos a renda obtida na manutenção das pesquisas científicas'', explica o coordenador do Orquidário da UEL, professor Ricardo Faria. Segundo ele, outro diferencial do espaço é o preço cobrado pelas mudas. ''Enquanto o preço médio de comercialização varia entre R$ 30 e R$ 250, aqui as orquídeas são vendidas por valores que variam de R$ 8 a R$ 30'', argumenta.
A distância percorrida de ônibus entre Ibiporã, onde mora, e a UEL é considerada curta para a dona de casa Lucélia dos Santos. ''Para quem já viajou de ônibus até para São Paulo só para comprar orquídeas, vir até o Orquidário é tarefa fácil'', brinca aos risos.
Ela conta que somente há 15 dias descobriu que o Orquidário da UEL vende mudas. ''Agora pretendo voltar a cada duas semanas. Aqui tem muita variedade e os preços são bons'', enfatiza. Lucélia conta que cultiva orquídeas há 20 anos e já que tem mais de 300 vasos da planta em casa. ''Dá trabalho cuidar delas, mas quando elas florescem é sempre uma festa e uma beleza'', afirma.
O entusiasmo de Lucélia acabou contagiando sua vizinha. ''Ela me deu a primeira muda de orquídea e eu me apaixonei pela planta desde então. Hoje em dia a gente vive trocando mudas e sempre viajamos para comprar novas espécies'', revela a dona de casa Márcia Regina Defende.
O Orquidário da UEL também oferece à comunidade cursos sobre o cultivo. Faria informa que os cursos são realizados sempre na primeira semana de setembro e a reserva de vagas pode ser feita pelo telefone (43) 3371-4224. O orquidário fica no campus da UEL, próximo ao Hospital Veterinário.
Preço varia conforme idade e raridade
De acordo com o professor do curso de Agronomia da UEL, Ricardo Faria, em 2010 o mercado mundial de floricultura movimentou US$ 20 bilhões. ''Somente o Brasil movimentou US$ 3,8 bilhões no mercado interno e US$ 28 milhões em exportação'', afirma o docente.
De acordo com Faria, pesquisas revelaram que enquanto nos países desenvolvidos cada pessoa gasta em média R$ 70 por ano com flores, no Brasil esse gasto anual gira em torno de apenas R$ 8. ''Como o Brasil está em pleno desenvolvimento, a tendência é esse mercado passar por um grande crescimento nos próximo anos'', contextualiza.
Segundo ele, as orquídeas têm um grande potencial de comercialização dentro deste nicho de mercado. ''Em uma área de 120 metros quadrados, é possível cultivar cerca de quatro mil vasos de orquídea. Levando em conta que o preço médio de cada vaso gira em torno de R$ 30, é possível movimentar um capital de R$ 120 mil'', avalia.
Faria diz que o preço de cada orquídea varia conforme a idade, raridade e estado da planta. ''O preço de espécie rara pode chegar a R$ 250. As plantas mais velhas costumam ser mais caras. Os vasos floridos também custam mais que os que ainda estão por florir'', diz Faria.
Em relação ao cultivo, o professor ressalta que o ideal é que se reproduzam características dos ambientes onde as espécies brotam naturalmente. ''As orquídeas gostam de lugares sombreados, com meia luz. Essas espécies não sobrevivem com acúmulo de água, que podem causar seu apodrecimento. Por isso deve-se aguá-las, mas sem deixar água no fundo do vaso. Também é recomendado adubá-las uma vez por mês'', ensina.
Marcos Roman - Reportagem Local
Mobilização no Dia de combate ao abuso de crianças
No Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, 18 de maio, haverá uma mobilização no Calçadão, próximo ao Teatro Ouro Verde, das 9h30 às 18 horas. A atividade será comandada pelo professor Alex Eduardo Gallo, do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Para desenvolver a ação educativa Gallo levará alunos de Psicologia que farão panfletagem. Ele reforça: ''Tudo para sensibilizar, informar e chamar a atenção da sociedade, que precisa ficar atenta aos sinais que as indefesas vítimas de abuso sexual estão dando, ao mesmo tempo alertando pais, familiares e o público em geral, para que adotem medidas preventivas no combate ao mal, que muitas vezes ocorre na própria família ou entre amigos muitos próximos''.
A equipe também vai informar os telefones de órgãos que podem ser procurados para denúncias: Conselho Tutelar Norte (fone 3378-0375); Conselho Centro (3378-0374); Conselho Sul (3378-0397); Delegacia da Mulher (3322-1633); Disk Denúncia da Polícia Militar (181); Disque 125 - do Conselho Tutelar ligado ao Programa de Formação Complementar da UEL; e o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.