Não fui afetado pela greve de 170 dias da UEM em 2001/2002. Entretanto, é impossível esquecê-la.
Os acadêmicos da universidade foram prejudicados. Milhares de alunos que estavam concluindo o ano letivo… Outras centenas que esperavam poucos dias para o fim do curso, para a formatura. Eles tiveram que, após o fim da greve, em março, concluir os estudos. O ano também começou mais tarde.
Professores e técnicos sofreram com a greve. E não apenas por trabalharem mais. Desgastaram-se mais, inclusive junto a colegas, estudantes, sociedade e lideranças políticas.
Quem tinha negócio nas proximidades da universidade também perdeu. Perdeu dinheiro.
A economia da cidade sentiu o impacto da greve.
Era o governo Jaime Lerner. O bonachão governador não cedia aos apelos dos grevistas e, só depois de quase seis meses de paralisação, atendeu parcialmente as reivindicações dos professores e funcionários.
Vale dizer que a greve só aconteceu porque durante todo o mandato, Lerner manteve uma política que sacrificou a educação, em especial, o ensino público superior do Estado.
Lerner deixou o governo no final de 2002. Vieram os anos do governo Roberto Requião. Se os professores e trabalhadores não ficaram contentes com os investimentos, pelo menos, foram suficientes para evitar qualquer ameaça de paralisação.
Depois dos dois mandatos de Requião, Beto Richa foi eleito, em 2010.
O discurso de prioridade na educação ajudou a elegê-lo. O bom moço e ex-prefeito de Curitiba prometeu que o ensino seria contemplado com especial atenção pelo Estado. Entretanto, apesar de mostrar-se simpático à imprensa, manter-se aparentemente acessível, o governo tem frustrado educadores e profissionais ligados ao setor.
Os orçamentos estavam defasados. Mas Beto ignorou a realidade das instituições de ensino superior. As universidades perderam verba. Projetos estão parados, porque o Estado cortou dinheiro. Anda faltando até para pagar a conta de luz. Em Maringá, dias atrás, motoristas estavam sem receber diárias e pagando as contas com recursos próprios.
A insatisfação é imensa. E, na quarta-feira, um primeiro dia de paralisação. Não apenas na UEM, mas em todas as universidades estaduais. Na quarta-feira da próxima semana, dia 14, outro protesto.
Nos bastidores, existe a certeza de que uma greve de proporção semelhante à de 2001-2002 será deflagrada. É só uma questão de tempo. Já falam em paralisação de pelo menos 90 dias.
Algumas perguntas que ficam são:
- Os cortes no orçamento são uma necessidade ou visam atender outras
prioridades do governo, já que se trata de um ano eleitoral?
- Como Beto Richa irá reagir à ameaça de greve – ou se a paralisação for deflagrada?
- Até que ponto a educação é discurso ou prioridade em seu governo?
- Politicamente, que efeitos práticos têm uma greve na conta da popularidade de Richa?
http://ronaldonezo.com/2012/03/05/greve-na-uem-e-nao-por-apenas-1-dia/