De Gustavo Scherbaty:
Ontem uma imagem humorística
feita por mim – que mostrava um “arraiá” em meio ao campus da UEM – foi
publicada aqui no blog. Fiz a montagem de forma despretensiosa,
relaxada, sem qualquer intenção de julgar valores, ideologias,
motivações ou meios relacionados à paralisação dos servidores da
Universidade, mas com o único objetivo de amenizar um pouco o clima de
tensão que se construía acerca do episódio e fazer com que alguns
colegas pudessem sorrir com uma brincadeira boba. Entretanto, de forma
inesperada, a imagem logo começou a ganhar popularidade e se espalhou
entre estudantes, promovendo um debate de opiniões por vezes acalorado.
Muito se falou sobre a queima de pneus e sobre as conseqüências trágicas
que esse tipo de prática pode trazer ao meio-ambiente. Muito se falou
sobre violência e vandalismo. De forma rasa e um tanto desprovida de
sentido, manifestantes foram chamados de bolcheviques. Em praticamente
todos os portais de notícia da cidade havia imagens da fogueira. Poucos
mencionavam, entretanto, que ela teria tido uma duração breve e fora
apagada pouco tempo depois de acesa, assim que a maioria dos
manifestantes – contrários à idéia – tomou conhecimento do feito.
Mas o estrago já havia sido feito e a discussão perdia seu foco:
ignoravam-se as razões e motivos que levaram à paralisação dos
funcionários e buscava-se invalidar um ato de protesto em virtude de
imagens de uma fogueira divulgadas pela imprensa da cidade.
Queimar pneus é, sim, um ato prejudicial ao meio-ambiente. Infelizmente
é, também, um ato um tanto quanto comum nas mais diversas manifestações.
Queimar pneus não foi, entretanto, uma decisão tomada em conjunto pelos
manifestantes. Foi um ato praticado de forma isolada e reprovado pela
maioria daqueles que protestavam.
Não devemos, desta forma, voltar nossos olhares somente às chamas e
ignorarmos todo o resto. Enxergar as coisas desta maneira reducionista é
enxergar com um cabresto. Devemos estender nossos olhares ao protesto
de forma integral e às razões que mobilizaram funcionários, professores e
estudantes da UEM em torno de uma causa comum. Devemos estender nossos
olhares ao violento corte de verbas e bolsas de pesquisa promovido pelo
governador e ao risco de sucateamento que corre uma das melhores
universidades do país – o que, certamente, é mais grave, violento e
prejudicial à comunidade que um pneu queimado numa manhã de
quarta-feira.
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(*) Acadêmico do quarto ano de Direito da Universidade Estadual de Maringá.
http://angelorigon.com.br/2012/03/15/sobre-os-pneus-queimados/