Vespersaurus paranaensis. Pesquisadores apresentaram ontem o fóssil de 90 milhões de anos, o exemplar carnívoro mais bem preservado do país
Rochas do noroeste paranaense de um passado desértico guardaram por dezenas de milhões de anos uma espécie única, o Vespersaurus paranaensis, anunciado ontem em Maringá por paleontólogos da UEM (Universidade Estadual de Maringá), USP (Universidade de São Paulo) e do Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste. A nova espécie de dinossauro, o primeiro do Paraná, teve seu fóssil encontrado em um sítio paleontológico em Cruzeiro do Oeste, no noroeste do estado e, por isso, o animal foi nomeado a partir da palavra vesper (do latim para oeste/entardecer). A descoberta foi publicada no periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature.
O dinossauro era pequeno, com cerca de 80 cm de altura e 1,5m de comprimento, braços curtos, bípede e carnívoro pelo formato dos dentes: serrilhados, com lâminas cortantes, segundo o paleontólogo da USP de Ribeirão Preto e líder do estudo, Max Langer.
“A caraterística mais interessante é a pata modificada, na qual apenas um dedo central sustentava o peso do bicho [como um cavalo] e os dedos laterais eram como garras, que serviriam para atacar e ferir presas, outro indício de ser carnívoro”, explicou Langer ao Metro Jornal.
O animal faz parte dos terópodos, grupos dos dinossauros carnívoros bípedes, que incluem o tiranossauro e velociraptor. E dentro dele, o Vespersaurus entra no subgrupo dos noasaurídeos, de animais de pequeno porte com registros apenas na Argentina e Madagascar (África), durante o período Cretáceo, posterior ao Jurássico, há cerca de 90 milhões de anos. “Isso indica que as regiões ainda eram conectadas [logo antes do surgimento do Oceano Atlântico] e eles eram bem distribuídos”, disse Langer, que também teve a ajuda de pesquisadores do Museo Argentino de Ciências Naturales.
Além de ser o primeiro paranaense, o Vespersaurus paranaensis é o oitavo dinossauro carnívoro descoberto no Brasil e o mais completo. “Os sete anteriores estavam muito mais incompletos, com crânios incompletos ou ossos isolados. Esse tem metade do esqueleto conhecido, é de longe o carnívoro mais bem preservado, completo do país”, afirmou.
Langer diz que os paleontólogos pretendem retomar as escavações no sítio de Cruzeiro do Oeste, paradas nos últimos dois anos. “É muito rico, único. A chance de encontrar fósseis relevantes é muito grande”, completou.
Cruzeiro do Oeste
Na década de 70, o paleontólogo Giuseppe Leonardi havia descoberto um estranho conjunto de pegadas fósseis, que batem com as caraterísticas do hoje batizado Vespersaurus paranaensis. Os primeiros fósseis do local foram descobertos em 1971 por homens do campo, mas eles se tornaram conhecidos apenas em 2014, quando da divulgação da descoberta do pterossauro (réptil voador do período Mesozóico) Caiuajara dobruskii. Os estudos sobre o Vespersaurus começaram nesse mesmo ano. O museu da cidade exibirá o fóssil a partir de 19 de julho.