Maria Júlia Uchôa Benício nasceu há cinco meses em terra de gente feliz. Por conta disso, a primeira filha do casal Marco Antônio, 41 anos, e Karliny, 35, tem tudo para se tornar a maringaense típica revelada pelo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas no quesito felicidade. De acordo com a pesquisa, 95,83% dos entrevistados revelam que são felizes por viver em Maringá. Apenas 1,67% se diz infeliz; 1,88%, mais ou menos; e 0,63% não sabe.
O ambiente feliz no qual o bebê vai crescer começou a ser construído em 1956, quando o avô paterno, Antônio Benício Sobrinho, chegou a Maringá com a família vindo de Pereiro, no Ceará. “Arara”, apelido recebido na infância e herdado pelos filhos Marco e Fabiano, 39, revela que, a exemplo de outros nordestinos, acalentou o sonho de fazer a vida no Sul para um dia regressar à terra natal. “Chance nós tivemos, mas ficamos aqui, pois a cidade parece ter um imã que só atrai coisas boas.”
Metodologia da pesquisa
Na pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, a pedido da Gazeta Maringá, 480 moradores com pelo menos 16 anos foram ouvidos, em várias regiões do Município, de 14 a 18 de abril.
Entrevistados aprovam qualidade de vida em Maringá
A pesquisa também aponta que 33,33% dos maringaenses avaliam a qualidade de vida de Maringá como ótima; 55,63%, boa; 10,83%, regular; e 0,21%, ruim. Nenhum dos entrevistados ouvidos diz considerar a qualidade de vida péssima.
Natural de Tupã, no interior de São Paulo, Jandira Gomes Gonçalves, 91 anos, mudou-se de Loanda, no Noroeste do Paraná, para Maringá em 1977, para buscar aviamentos finos para as roupas que costurava.
Depois, ela passou a produzir peças artesanais para uma entidade assistencial e há mais de 20 anos integra o grupo São Francisco, formado por 13 mulheres que doam tempo e talento para a Associação de Apoio ao Fissurado Labiopalatal de Maringá (Afim).
Jandira tem familiares espalhados em várias cidades e Estados brasileiros, além dos Estados Unidos. Convidada inúmeras vezes para morar mais perto dos netos, ela garante que está muito bem aqui, onde mora com a filha. “Gosto muito de Maringá. Não tenho vontade de morar em outro lugar. Meu desejo é que toda a família morasse aqui perto de mim”, confessa. (J.D.)
Maringaense se define como orgulhoso, alegre e solidário
O maringaense revelado na pesquisa sente orgulho do Município (28,13%), é alegre (25,83%) e solidário (18,54%). Outros 16,67% se consideram simpáticos; 13,13%, empreendedores; e 12,92%, abertos ou extrovertidos. A francesa Laura Nevoret, 22 anos, está em Maringá há oito meses. Acadêmica de Ciências Sociais, ela está na cidade por meio de um intercâmbio entre a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a instituição onde estuda em Lyon, na França.
A avaliação dela é um pouco diferente daquela que os próprios moradores têm a respeito deles mesmos. Laura diz que encontrou pessoas com as características descritas acima, mas também outras bem diferentes.
“Acho que o maringaense em geral é conservador e não é tão fácil fazer parte do círculo de amigos dele. Mesmo se, ao primeiro contato, ele parecer simpático, para conseguir ficar amigo já é outra coisa”, diz. Pela pesquisa, apenas 6,67% dos entrevistados se assumem conservadores e 5,63%, fechados ou introvertidos. (J.D.)
O amor por Maringá contagiou os dois filhos, Marco e Fabiano, que passaram a infância, a adolescência, a juventude e, agora, educam os filhos no Município. Sobre o número de habitantes, trânsito e violência, a cidade na qual os netos de “Arara” estão crescendo é diferente daquela que serviu de cenário às brincadeiras dos próprios filhos, mas ainda permite práticas dignas de localidades pequenas.
É o que Fabiano e alguns vizinhos promovem toda semana na “calçada da fama”, na Rua Mário Burali, no Parque da Gávea. As famílias dividem bons momentos ao redor de uma churrasqueira em qualquer fim de tarde entre segunda e sexta-feira. “É muito bom para resgatar a convivência e as crianças se divertem”, diz Caciana, mulher de Fabiano e mãe de Davi, 8, e Mateus, 6.
Gratidão
A psicóloga e estudiosa da ciência da felicidade Helen Messias Guzmán afirma que atingir o contentamento interior é uma das atitudes das pessoas mais felizes, pois estas não ficam focadas em querer o que não têm, mas, sim, em apreciar e aproveitar o que possuem.
Segundo ela, estudos realizados na última década por pesquisadores indicam que vínculos afetivos com amigos, espiritualidade desenvolvida, contentamento interior, de sentimento de gratidão e engajamento são ingredientes de uma vida feliz. “Nossa população parece agradecida por viver em Maringá, o que ajuda a explicar os resultados da pesquisa”, diz.
Antes de se mudar para Maringá, em 2005, a também psicóloga Karliny, mãe de Maria Júlia, só conhecia o Município pela letra da canção de Joubert de Carvalho. Natural de Fortaleza, ela possuía apenas a graduação. Hoje, com três especializações, divide a semana entre o trabalho em uma clínica e em duas escolas de educação especial.
“Sou felicíssima aqui”, confessa. “Maringá é a cidade ideal para se morar.” Apesar disso, sente também saudades da própria terra natal, para onde pretende voltar um dia. “Meu plano é voltar para o Ceará daqui a dez anos e morar em Taíba, um município pequeno a 40 quilômetros de Fortaleza, embora hoje me sinta completa em Maringá.” O marido ainda não tem opinião formada a respeito e brinca com a ideia de fazer o caminho inverso ao do pai. Para ele, o importante é ser feliz. “Amo Maringá, mas minha felicidade está junto da minha família, onde quer que seja.”
Leia na sexta-feira (11) mais reportagens especiais sobre o aniversário de Maringá.