Imprimir

Oração performática em NY

Atriz maringaense Dai Fiorati faz performance em Nova York para homenagear amiga que morreu
Radicada no Rio e com retorno marcado, ela celebra boa fase na carreira com turnê a partir de janeiro

Após a perda, após a dor, há pelos menos dois caminhos a seguir: o da eterna lamentação ou o do enfrentamento corajoso, que tende a resultar na fortificação do ser. Depois de perder uma grande amiga de infância num fatídico 30 de novembro de onze anos atrás, Dai Fiorati, 28, atriz de Maringá radicada no Rio, resolveu caminhar em busca do seu maior sonho, que era seguir os tortuosos – mas muito bonitos – caminhos da arte.

E para homenagear a amiga querida que se foi, exatamente às 14h30 deste último 30 de novembro, encarou pela primeira vez uma atuação performática em plena Union Square Park, Nova York, cidade onde passou quase três meses e da qual se despede amanhã, quando retorna ao País.

"Protegida" e coordenada pelo amigo e mestrando em Performance Marcelo Asht, Dai estrelou a performance "StarPath with Butterflies and Flowers or Amor(te)", ficando em meio ao passeio público nova-iorquino sem visão (olhos vendados) e ouvidos (equipada com fones), desenvolvendo uma série de ações, entre dança, mudrás e leitura de partitura física. Enquanto isso, o público – mantido totalmente alheio pela atriz – podia ouvir um texto que estava escrito e gravado em áudio em inglês (voz e tradução de Patrícia Almeida).

"Construí uma estrutura estético-visual com base no movimento brasileiro da Tropicália, por ser um movimento tipicamente antropofágico e brasileiro, e estrutura poético-narrativa inspirada no universo da poeta brasileira Ana Cristina César, da qual tenho trabalhado há quase três anos em um espetáculo teatral com base em profundas pesquisas poéticas e biográficas", diz.

Debutante em performances, o desafio havia sido lançado. E tudo conspirava a favor, diz Dai: a bela cidade visitada para descanso e para conhecimentos acerca do cinema, a eterna lembrança afetiva da amiga hoje moradora em outras paragens e algumas certezas no peito, sendo a principal delas a de que, há muitos anos, quando desistiu do curso de Psicologia na UEM, havia seguido as placas corretas em busca da carreira como atriz.

Em meio a um público pacífico e acostumado a intervenções artísticas no meio da rua, no centro do mundo, sentada, sozinha, sem ouvir nada, sem ver absolutamente nada, a homenagem estava posta, e foi em oração que Dai se recordou com o mesmo carinho de sempre da amiga e de como ter tido tamanha perda na vida foi dolorosamente essencial para que se tornasse forte, se tornasse mulher, já aos 17, disposta a não temer os desafios vindouros.

"Realizei a performance como uma celebração desse novo momento que estou vivendo, de profundas mudanças, crescimento e evolução artística, e como uma oração a essa amiga, que em sua tão breve passagem, me proporcionou um encontro forte e sincero o suficiente para gerar desdobramentos e caminhos definitivos em minha vida", diz a atriz, que, agora, com data marcada para voltar, já pensa em 2015, quando, em janeiro, entra em cartaz no Teatro Poeirinha, em Botafogo, no Rio, com a peça "Antiga", dirigida por Charles Asevedo, dramaturgia assinada por Gustavo Damasceno e que tem como consultora a atriz Vera Holtz.


INTERVENÇÃO. Atriz maringaense Dai Fiorati performando na Union Square Park, em Nova York: "Realizei a performance como uma celebração desse novo momento que estou vivendo". —FOTO: MARTA GRASSO

 

http://digital.odiario.com/cultura/noticia/1243201/oracao-performatica-em-ny/