Com texto de Gustavo Hermsdorff e direção de Lucas Fiorindo, "Florescerro" estreia nesta sexta, grátis
Em cartaz no Teatro de Oficina da UEM, espetáculo compõe a programação da Temporada Universitária
Já aos 19 anos, pulsava poesia nas veias do jornalista Gustavo
Hermsdorff, hoje com 23, nascido em Campinas e radicado em Maringá desde
pequeno. Em 2010, após participar do Núcleo de Dramaturgia do Sesi, ele
conquistou ferramentas teóricas suficientes para transformar as suas
intuições e inquietações poéticas na peça dramatúrgica "Erro que Vive",
que, montada sob o nome "Florescerro", estreia na sexta-feira, 20h30, no
Teatro de Oficina da UEM, pela Temporada Universitária. A entrada é
franca.
Dono de um texto lírico e arrebatador, Hermsdorff
transformou poesia em uma proposta dramatúrgica dividida em seis cenas e
que consiste em um diálogo – simples, na forma, e denso, no conteúdo –
entre os falantes A e B, interpretados pelos atores André Fabrício e
Vinicius Huggy. A direção da montagem é assinada por Lucas Fiorindo.
A
vida, nesse mundo construído pelo autor, consiste numa espécie de duelo
– sem dualismos, pois há mudanças de pontos de vista das personagens a
todo momento – entre o realismo de alguém que, sempre disposto a apontar
e solucionar (voz da razão?), prevê cuidados com o cão raivoso, com o
tempo e com os erros, e o otimismo de alguém que enxerga a alegria do
cão que persegue a carroça ou de quem viu num gesto errado e cheio de
medos o milagre da vida em flor.
A existência, para Hermsdorff, é
atrofiadora: "Estamos todos presos do lado de fora de um abraço",
profere um dos falantes, em dado momento.
"A primeira fala, por
exemplo, é 'A alegria do cão que persegue a carroça'. O que dá pra
entender por isso? É a simplicidade do sorriso despercebido ou
despretensioso, de um ser de amor gratuito que, mesmo podendo perseguir
uma Ferrari ou outro carro, prefere aquele que mais lhe parece
carinhoso. É sobre isso (a peça), acima de tudo", diz .
Da teoria à prática
Junto do autor havia primeiro o poder da
observação, a sensibilidade poética, um texto e o conhecimento teórico.
Faltava dar vida a isso tudo. É quando entram "em cena" os amigos do
teatro maringaense, gente disposta a estudar e a fazer teatro de
pesquisa.
A proposta de Hermsdorff era contemporânea, delicada,
sujeita a errâncias, a depender da maneira como seria transportada aos
palcos. Para Lucas Fiorindo, ator que estreia na direção, conduzir o
processo criativo de "Florescer" era chance de compartilhar experiências
e conhecimentos.
O diretor, então, tinha em mãos algumas
problematizações, chaves para o êxito do espetáculo, a enumerar: a lida
com um texto subjetivo e poético; uma necessidade interpretação
relevante (atores e atuações em primeiro plano por conta do diálogo
denso); e a suma importância da voz como ferramenta de imprevisibilidade
e verdade no texto. Para isso, sugeriu a todo o grupo alguns
ensinamentos partidos de Antonin Artaud, Antunes Filho e Roberto Alvim.
"Tínhamos,
a princípio, a vontade e a obrigação (pela característica da
dramaturgia) de pesquisar e desenvolver um teatro ontológico-metafísico.
De Artaud, a visão profunda do teatro como uma poesia para os sentidos.
De Antunes Filho, as técnicas 'sagradas' para o ator. De Alvim, a
ênfase na fala e em uma dramaturgia que funciona como 'máquina
desejante' via procedimentos inventivos que trazem imprevisibilidade e
tensionamento (a opsis e não o mitos)", conceitua o diretor.
Noite de estreias
O resultado disso tudo poderá ser visto no palco
do Teatro de Oficina da UEM, quando teremos, na sexta, uma verdadeira
noite de estreias. Além de Hermsdorff debutando na dramaturgia e
Fiorindo na direção teatral, será a primeira vez de Vinicius Huggy como
ator e figurinista e a primeira também de Rachel Coelho na produção.
André Fabrício, que embora faça teatro desde o fim dos anos 1990, monta
seu primeiro espetáculo totalmente maringaense. E Ana Paula Siste assina
o cenário.
"O ponto fundamental e mais potente desse formato é
aproveitar o conhecimento, o trabalho e a inspiração de todos os
envolvidos, afunilando as diversas influências, através do debate, para
um resultado denso", opina Fiorindo. E completa Hermsdorff: "O que o
público deve ter em mente é que não há uma lição ou mensagem a ser
passada, mas sim uma experiência. Se conseguirmos 170 experiências
diferentes (o número de cadeiras do teatro), então nós fizemos um bom
trabalho."
PARA VER|
FLORESCERRO
Pela Temporada Universitária da UEM
Quando: sexta-feira
Horário: 20h30
Onde: Oficina de Teatro da UEM
Entrada franca
Ficha técnica
Texto: Gustavo Hermsdorff
Direção: Lucas Fiorindo
Elenco: André Fabrício e
Vinicius Huggy
Cenário: Ana Paula Siste
Figurino: Vinicius Huggy
Confecção de figurino: Ana Brás Furlan
Produção: Rachel Coelho
Arte gráfica e assessoria de Imprensa: Vila Ópera
Fotografia: Rafael Saes
http://digital.odiario.com/cultura/noticia/1242419/poesia-cenica-de-hermsdorff/