Suicídios acontecem todos os dias nas grandes, médias e pequenas
cidades. Mas, só é notícia se a vítima é do meio artístico, intelectual,
político: Champignon, Chorão, Walmor Chagas, Pedro Nava, Louis
Althusser, Getúlio Vargas; existe até um dicionário de suicidas
ilustres, da Ed. Record.
O número de suicídios aumentou em 60%,
nos últimos 45 anos; 1900% em homens entre 15 e 24 anos, alerta Paula
Fontenete no seu livro publicado em 2008. Levantamento da Organização
Mundial de Saúde (OMS) apresenta o suicídio entre as dez causas de
morte no mundo, para todas as faixas etárias. Pesquisa com 637
universitários que responderam ao questionário, 52,45% disseram que
sentiam vontade de morrer, e 48 haviam tentado se matar, relata a
pesquisadora Elza Dutra, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. "O que faz com que os jovens não estejam desejando viver?"
Família,
grupo de trabalho, classe profissional, geralmente consideram o ato
extremo 'acidente' ou 'morte natural'. Os mais próximos sentem culpa,
raiva 'por que ele fez isso comigo'. Religiosos ainda consideram o
suicídio um pecado imperdoável. As pesquisas acadêmicas sobre as causas
suicidas ainda são insuficientes. Se o suicida é jovem, universitário,
cabe investigar: Por que deixar a vida quando o futuro se apresenta
como promissor? Há um curso universitário com mais suicidas/ano,
considerando os últimos dez anos? Pode-se prevenir o suicídio?
Alguns trabalhos científicos apontam algumas hipóteses sobre possíveis causas dos suicídios em universitários:
1)
Alunos que deixam pela primeira vez o aconchego de suas famílias, para
morar longe e estudar, sentem-se obrigados a conviver com a solitude e
a solidão. Muitos não conseguem estabelecer novos vínculos de amizade.
A vida acadêmica de estudos, confinada, pode contribuir para esvaziar o
sentido existencial de alguns. O primeiro ano da faculdade deve ser de
total "escuta" e apoio aos filhos na nova vida.
2) Se o curso é
extremamente competitivo, com individualismo exacerbado, aulas
pessimistas, professores apocalípticos, contribuem para gerar
desencanto, desesperança e infelicidade nos alunos propensos à depressão
e outros transtornos psíquicos. A epidemia produtivista na
universidade vem atingindo também alunos, gerando ansiedade, estresse,
distúrbios de alimentação, pânico de não dar conta dos trabalhos e
provas, medo de ser julgado como incapaz pelos colegas e professores,
bullying etc. ("Não deixe que essa universidade, ou algumas pessoas que
nela estão te contaminem assim como fizeram comigo" disse Luiz Carlos
de Oliveira, 20 anos, estudante de filosofia da Unifesp, antes de se
enforcar).
3) Um importante fator indutor de suicídios apontado
por várias pesquisas é o abuso de substâncias, em particular álcool,
drogas lícitas e ilícitas. Alcoolismo e drogas entre universitários
geram descontroles, brigas, acidentes de trânsito, nadar embriagado.
"Universitários são parcela da população que mais consome drogas".
Levantamento da Senad/2010, do Ministério da Justiça, revela que quase
metade dos universitários brasileiros já fez o uso de substâncias
ilícitas. Existe um vale-tudo para superar o tédio da vida
universitária. Quanto mais fácil o aluno tem acesso às drogas ilícitas
ou lícitas maior é a possibilidade de drogadicção e descontroles
emocionais. Pertencer a um grupo usuário de substâncias químicas aumenta
a probabilidade de se tornar 'igual'.
As universidades precisam
ir para além do formalismo das pesquisas e do legalismo de ocasião,
criando serviços efetivos voltados para 'trabalhar' as causas de
transtornos psíquicos em universitários. Os especialistas afirmam que
90% dos suicídios poderiam ser evitados, porque a maioria não quer
morrer, mas sim fugir de "situação desagradável, angustiante, de
sofrimento absoluto", observa José Manoel Bertolote, psiquiatra
professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São
Paulo (Unesp) e consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), autor
do livro "O Suicídio e sua Prevenção"(Ed.Unesp/2013).
http://www.odiario.com/opiniao/noticia/771893/suicidios-e-universidade/