Terça-feira, 15h. Enquanto a maioria dos pessoas que passam pela Avenida Cerro Azul está correndo atrás dos afazeres diários, dois adolescentes de 17 anos estão com amigos fumando maconha e conversando tranquilamente na Praça Pedro Álvares Cabral, também conhecida como "praça dos skatistas". Há três meses eles não frequentam o colégio e não trabalham.
"Fui expulso da escola após entrar na sala com uma garrafa de uísque", conta F. O amigo dele, na mesma situação, foi filmado fumando maconha no banheiro. Os dois não escondem o vício, mas dizem que pretendem voltar aos estudos futuramente. "Minha mãe me ajuda com dinheiro. Vou fazer faculdade um dia, mas no momento quero curtir a vida", afirma.
Esses adolescentes podem ser enquadrados na chamada Geração Nem-Nem (nem estuda, nem trabalha). São jovens entre 16 e 24 anos que não encontram espaço no mercado de trabalho, ou não demonstram interesse em procurar emprego. Levantamento feito pelo IBGE em seis capitais brasileiras revela que eles representam 14,7% da população.
Em Maringá, conforme o Censo de 2010, cerca de 12,5 mil pessoas entre 15 e 30 anos não trabalham ou estudam (3,5% da população). O número é menor que o registrado em 2000, quando eram 12,6 mil jovens (3,8%). Apesar de estar abaixo dos índices das capitais, o número preocupa as autoridades, pois possibilita o aumento da criminalidade e do consumo de recursos com projetos sociais do Governo.
Levantamento do IBGE mostra que grande parte dos jovens dessa geração está na região nordeste (em Recife eles são 26% da população) e pertencem às classes inferiores. Carlos Eduardo Jansen, 26 anos cabe neste quadro. Morador de Feira de Santana (BA), ele se mudou há um mês para Maringá. Jansen está há dois anos desempregado e também não estuda. "Meu último emprego foi como repositor de estoque". Deficiente visual (possui 20% da visão), ele está procurando emprego. "Na minha cidade tinha poucas chances. Meus parentes moram aqui e disseram que Maringá tem serviço sobrando. Estou na luta".
Problemas sociais, como a gravidez precoce, também aumentam as estatísticas. Jocilene dos Santos Gregório, 19 anos, está grávida de oito meses e possui uma filha de 11 meses. Aos 18 anos ela engravidou do namorado e se casou. "Parei de estudar aos 16 anos, por causa do trabalho. Depois da segunda gravidez parei o serviço", conta.
Programas educacionais voltados às crianças e adolescentes são soluções para o problema, conforme a assistente social, mestre em Políticas Públicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Silvana Borges. " A evasão escolar foi apontada como um dos nós críticos do município quando foi apresentado, em 2011, o primeiro Diagnóstico Social da cidade", ressalta.
Famílias em que os responsáveis têm baixa escolaridade e renda, aliada a uma crise do modelo educacional, são, para Silvana, condições favoráveis à Geração Nem-nem. "Avanços tecnológicas, baixos salários e a maior rentabilidade no "mercado ilegal", são outros pontos que levam ao quadro". Para a assistente social, é necessário dar maior atenção à programas voltados para crianças e adolescentes. "A escola integral, políticas de cultura e esporte voltadas à valorização de habilidades são essenciais para recuperar esses jovens".