A fila para a realização da cirurgia bariátrica – vulgarmente conhecida como “redução de estômago” - no Sistema Único de Saúde (SUS) tem 349 pessoas em Maringá. A referência é o Hospital Universitário (HU), que realiza em média quatro intervenções por mês. Considerando o total de pacientes na fila e o número mensal de operações, a espera pode passar de 7 anos.
Alguns já até desistiram. É o caso da artesã Taciliane Michelle Gongora, 32, que hoje tenta fazer a cirurgia pelo plano de saúde que contratou depois de esperar mais de 2 anos na fila do SUS. Com 1,59 metro e 105 kg, ela conta que o peso aumentou depois que teve a segunda filha.
Rafael Silva
Kátia mostra foto antiga; obesidade afetou o primeiro casamento
“E já fiz de tudo para emagrecer: tratamentos com remédios, regimes... Mas de nada adiantaram. A saída é a cirurgia. Às vezes, de tanto esperar, a gente desanima. Pelo SUS eles também pedem um monte de coisa e (a cirurgia) não sai nunca.
Isso deprime, e a gente acaba engordando mais ainda”, desabafa. Ela diz que já enfrentou preconceito por ter sobrepeso. “Quando você vai comprar uma roupa, o vendedor já fala: ‘não tem o seu tamanho’. Existe discriminação e até maus-tratos.”
“Quando você vai comprar
uma roupa, o vendedor já
fala: ‘não tem o seu
tamanho’”
Taciliane Michele Gongora
Artesã
No caso da auxiliar administrativa Kátia Cirlene Adams Correia, 36 anos, a obesidade exerceu influência até sobre o casamento. Ela, que já operou, conta que era magra, mas engordou depois que teve os dois filhos. Kátia diz que o marido não aceitava o fato de ela ter engordado e o divórcio foi inevitável.
Há 5 anos ela casou-se novamente e diz que está feliz com a união. Kátia, que tem 1,74 metro, fez a cirurgia bariátrica há 2 anos, e passou de 136 kg para 70 kg. Ela revela que se cadastrou em Maringá para a operação, mas a fila era enorme, então decidiu procurar outra cidade.
Após o procedimento, Kátia ainda fez abdominoplastia e lipoaspiração nas pernas e braços. “A autoestima muda muito, há uma transformação. Minha vida social é completamente diferente hoje. Não tenho vergonha de sair, de ir a uma loja. Antes não tinha gosto nem para me arrumar”, diz.
O cirurgião-geral Daoud Nasser, professor do Departamento de Medicina da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e que faz cirurgias bariátricas no Hospital Universitário (HU), explica que a unidade não tem estrutura para realizar mais de quatro cirurgias por mês.
“O hospital é pequeno e divide a enfermaria clínico-cirúrgica com várias especialidades. Os atendimentos de urgência ocupam mais espaço, e a cirurgia bariátrica é eletiva”, observa. Nasser ressalta que as filas na saúde pública existem em todo o Brasil, em várias especialidades.
Segundo ele, a redução de estômago é o último recurso contra a obesidade. Ele ressalta que 80% dos que se submeteram à operação continuam magros. Os outros 20% adquiriram peso novamente. Neste último caso, o ganho ocorre porque o organismo assimila açúcar e álcool com muita facilidade.
http://www.odiario.com/cidades/noticia/753466/fila-do-sus-para-reduzir-estomago-tem-349/