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‘Petróleo vai muito além dos combustíveis’

Com apenas 30 anos, Armando Pomini, paranaense de Cambé, já é doutor em Química Orgânica. Recentemente, lançou o livro “A química na produção do petróleo” pela Editora Interciência. Como a biografia na área é um pouco enxuta, segundo o próprio professor, o interesse do público pela obra o surpreendeu.

Fotos/João Cláudio Fragoso

Pomini trabalhou na Petrobrás durante 3 anos e atuou nas plataformas de extração do petróleo. Participou de uma das primeiras perfurações e coletas da camada pré-sal na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

Há pouco tempo, trocou a agitada e conturbada vida das plataformas e partiu para a carreira acadêmica. Atualmente, Pomini é professor do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde desenvolve uma série de pesquisas na área energética.

Segundo ele, o jovem que gosta de química e se interessa pelo assunto tem grandes possibilidades de ingressar no mercado de trabalho e conseguir um bom salário, principalmente se for atuar no setor petrolífero, em franca expansão no Brasil. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:


O DIÁRIO - Qual o enfoque do livro?

ARMANDO POMINI - A química do petróleo. Nós discutimos sobre as metodologias necessárias para perfuração e construção de poços e dutos para levar o petróleo até a plataforma. Também discutimos sobre a utilização de produtos químicos em ambiente submarino. Como esses produtos podem auxiliar a produção, contornar problemas ambientais e até aumentar a produtividade do poço.


O assunto petróleo voltou a ser mais debatido e estudado nos últimos anos?

Vivemos uma circunstância nos últimos 50 anos muito adversa. Começamos nesse período como um País importador. Na década de 70, a alta no preço do petróleo forçou o Brasil a procurar alternativas. Uma delas foi o Pró-álcool; a outra foi a exploração do petróleo em alto mar. A partir da descoberta de petróleo no litoral do Rio de Janeiro, começou um movimento para qualificar pessoas para a cadeia produtiva.

Isso evoluiu de uma forma significativa na década de 80, com a expansão da produção da Bacia de Campos (RJ) e teve um certo arrefecimento na década de 90.

Com a descoberta do pré-sal em 2006/07, o interesse da indústria petrolífera brasileira renasceu. Ao longo desse interesse, é claro que temos toda uma cadeia produtiva envolvida na parte de infraestrutura e recursos humanos. A grande motivação nesse momento é em relação ao pré-sal.


O País está no caminho certo na exploração do petróleo?

Acredito que estamos no caminho correto. Descobrimos uma grande reserva que é o pré-sal. Estima-se que essa reserva se estenda desde o litoral de Santa Catarina ao litoral de Sergipe ou um pouco mais ao Norte. É a maior descoberta de petróleo em nível mundial dos últimos 20 ou 30 anos.

É um petróleo extremamente difícil de ser produzido devido às características de distância da costa, de profundidade de lâmina d’água e também devido às próprias características químicas desse material. É um petróleo muito mais ácido, com mais impurezas corrosivas que o produzido na Bacia de Campos.

É mais caro que aquele encontrado na camada pós-sal, mas certamente a aposta que o País tem feito em aumentar a produção nessas regiões é correta. Hoje, o Brasil produz 300 mil barris/dia no pré-sal. Nós podemos nos dar ao luxo de ter uma das gasolinas mais baratas do mundo, sendo vendida a R$ 2,80 o litro na região.

Na França, você não encontra a menos de R$ 5,40, justamente porque nós estamos conseguindo desenvolver tecnologias para alavancar essa produção. Sabemos que temos uma reserva valiosa e podemos manejar essa reserva a ponto de nos beneficiarmos como Nação.


Além do combustível, o petróleo pode ser muito aproveitado na indústria de outras formas?

Sim. A maior parte do petróleo é consumido como matéria-prima para combustível em processos de destilação e refino para produzir querosene de aviação, gasolina ou óleo diesel.

Mas o petróleo é uma das fontes mais ricas de matéria prima para indústria química. Hoje, temos uma gama imensa de produtos feitos à base de petróleo. Por exemplo, os plásticos, borrachas, até mesmo moléculas mais elaboradas como fármacos.


Isso pode gerar benefícios ao Brasil?

Sim, a ideia é agregar valor ao produto. Realizar o refino e exportar produtos refinados ou, ainda, promover uma grande consolidação da indústria petroquímica nacional de tal forma a tornar o Brasil importante na produção de plásticos no cenário mundial. A ideia é agregar valor, gerar empregos e maximizar o potencial de retorno para o Brasil.


Hoje, existe uma demanda por profissionais nesse sentido?

Sim. As áreas de engenharia química e química estão experimentando, talvez, sua melhor fase na indústria brasileira. É uma área que tem grande expectativa de empregabilidade. A maioria das pessoas que partem para essa área têm boas chances no mercado e com boas perspectivas de remuneração.


É uma área em que o jovem pode investir e acreditar?

Sem dúvida. Hoje, o químico de petróleo é valorizado e disputado pelo mercado. Atualmente, vários profissionais são trazidos da Europa, Estados Unidos e Ásia para suprir essa demanda, maior que a oferta de mão de obra qualificada, porque a quantidade de cursos de especialização e pós graduação é baixa e os que existem são recentes.

O nível de empregabilidade e salário é alto, mas é claro, com a necessidade de se deslocar até as regiões que oferecem essa oportunidade como o Rio, São Paulo, Espirito Santo e Bahia.

http://www.odiario.com/cidades/noticia/748416/petroleo-vai-muito-alem-dos-combustiveis/