Com apenas 30 anos, Armando Pomini, paranaense de Cambé, já é doutor em Química Orgânica. Recentemente, lançou o livro “A química na produção do petróleo” pela Editora Interciência. Como a biografia na área é um pouco enxuta, segundo o próprio professor, o interesse do público pela obra o surpreendeu.
Fotos/João Cláudio Fragoso
![](http://src.odiario.com/Imagem/2013/06/01/g_0206a-06entrevista01.jpg)
Pomini trabalhou na Petrobrás durante 3 anos e atuou nas plataformas de extração do petróleo. Participou de uma das primeiras perfurações e coletas da camada pré-sal na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
Há pouco tempo, trocou a agitada e conturbada vida das plataformas e partiu para a carreira acadêmica. Atualmente, Pomini é professor do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde desenvolve uma série de pesquisas na área energética.
Segundo ele, o jovem que gosta de química e se interessa pelo assunto tem grandes possibilidades de ingressar no mercado de trabalho e conseguir um bom salário, principalmente se for atuar no setor petrolífero, em franca expansão no Brasil. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
O DIÁRIO - Qual o enfoque do livro?
ARMANDO POMINI - A química do petróleo. Nós
discutimos sobre as metodologias necessárias para perfuração e
construção de poços e dutos para levar o petróleo até a plataforma.
Também discutimos sobre a utilização de produtos químicos em ambiente
submarino. Como esses produtos podem auxiliar a produção, contornar
problemas ambientais e até aumentar a produtividade do poço.
O assunto petróleo voltou a ser mais debatido e estudado nos últimos anos?
Vivemos uma circunstância nos últimos 50 anos muito adversa. Começamos nesse período como um País importador. Na década de 70, a alta no preço do petróleo forçou o Brasil a procurar alternativas. Uma delas foi o Pró-álcool; a outra foi a exploração do petróleo em alto mar. A partir da descoberta de petróleo no litoral do Rio de Janeiro, começou um movimento para qualificar pessoas para a cadeia produtiva.
Isso evoluiu de uma forma significativa na década de 80, com a expansão da produção da Bacia de Campos (RJ) e teve um certo arrefecimento na década de 90.
Com a descoberta do pré-sal em 2006/07, o interesse da indústria
petrolífera brasileira renasceu. Ao longo desse interesse, é claro que
temos toda uma cadeia produtiva envolvida na parte de infraestrutura e
recursos humanos. A grande motivação nesse momento é em relação ao
pré-sal.
O País está no caminho certo na exploração do petróleo?
Acredito que estamos no caminho correto. Descobrimos uma grande reserva que é o pré-sal. Estima-se que essa reserva se estenda desde o litoral de Santa Catarina ao litoral de Sergipe ou um pouco mais ao Norte. É a maior descoberta de petróleo em nível mundial dos últimos 20 ou 30 anos.
É um petróleo extremamente difícil de ser produzido devido às características de distância da costa, de profundidade de lâmina d’água e também devido às próprias características químicas desse material. É um petróleo muito mais ácido, com mais impurezas corrosivas que o produzido na Bacia de Campos.
É mais caro que aquele encontrado na camada pós-sal, mas certamente a aposta que o País tem feito em aumentar a produção nessas regiões é correta. Hoje, o Brasil produz 300 mil barris/dia no pré-sal. Nós podemos nos dar ao luxo de ter uma das gasolinas mais baratas do mundo, sendo vendida a R$ 2,80 o litro na região.
Na França, você não encontra a menos de R$ 5,40, justamente porque
nós estamos conseguindo desenvolver tecnologias para alavancar essa
produção. Sabemos que temos uma reserva valiosa e podemos manejar essa
reserva a ponto de nos beneficiarmos como Nação.
Além do combustível, o petróleo pode ser muito aproveitado na indústria de outras formas?
Sim. A maior parte do petróleo é consumido como matéria-prima para combustível em processos de destilação e refino para produzir querosene de aviação, gasolina ou óleo diesel.
Mas o petróleo é uma das fontes mais ricas de matéria prima para
indústria química. Hoje, temos uma gama imensa de produtos feitos à
base de petróleo. Por exemplo, os plásticos, borrachas, até mesmo
moléculas mais elaboradas como fármacos.
Isso pode gerar benefícios ao Brasil?
Sim, a ideia é agregar valor ao produto. Realizar o refino e exportar
produtos refinados ou, ainda, promover uma grande consolidação da
indústria petroquímica nacional de tal forma a tornar o Brasil
importante na produção de plásticos no cenário mundial. A ideia é
agregar valor, gerar empregos e maximizar o potencial de retorno para o
Brasil.
Hoje, existe uma demanda por profissionais nesse sentido?
Sim. As áreas de engenharia química e química estão experimentando,
talvez, sua melhor fase na indústria brasileira. É uma área que tem
grande expectativa de empregabilidade. A maioria das pessoas que partem
para essa área têm boas chances no mercado e com boas perspectivas de
remuneração.
É uma área em que o jovem pode investir e acreditar?
Sem dúvida. Hoje, o químico de petróleo é valorizado e disputado pelo mercado. Atualmente, vários profissionais são trazidos da Europa, Estados Unidos e Ásia para suprir essa demanda, maior que a oferta de mão de obra qualificada, porque a quantidade de cursos de especialização e pós graduação é baixa e os que existem são recentes.
O nível de empregabilidade e salário é alto, mas é claro, com a necessidade de se deslocar até as regiões que oferecem essa oportunidade como o Rio, São Paulo, Espirito Santo e Bahia.
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