Os primeiros moradores chegaram há 8 mil anos, quando a região entre os rios Ivaí, Pirapó, Tibagi e Paranapanema foi ocupada por caçadores-coletores. Essa população vivia basicamente da caça, pesca e coleta de vegetais e fazia objetos em pedra lascada.
Depois dos caçadores-coletores, vieram os guaranis - povo que confeccionava cerâmicas e iniciou a prática da agricultura na região. Pesquisas apontam que esses indígenas chegaram aqui há 2,5 mil anos.
Conhecer essa parte da História da região só foi possível graças à persistência de pesquisadores, especialmente os do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História da Universidade Estadual de Maringá (UEM). As estantes do imóvel de madeira, aos fundos do bloco G34, guardam 500 peças que contam parte do passado do noroeste.
João Cláudio Fragoso
O professor Lucio Mota mostra peças do laboratório de arqueologia; região chegou a ser ocupada por 200 mil índios guaranis
São vasilhas, pontas de flecha, cachimbos, machados e objetos em pedra lascada usados pelas populações pré-históricas e indígenas. Outros 80 mil fragmentos de pedra e cerâmica que ocupam mais de cem caixas em outra estante esperam para ser organizados.
"O que temos aqui mostra que a região foi muito habitada", diz o professor Lucio Tadeu Mota, do Departamento de História da UEM e pesquisador do laboratório. Registros dos padres jesuítas, datados de 1.600, apontam que a população de guaranis era de 200 mil indivíduos e ocupava a área entre os rios Tibagi e Paraná. "Para a época, era um número grande."
Segundo Mota, ainda há muito para ser descoberto, mas a pesquisa esbarra na falta de dinheiro e de pessoal. "Para visitar um sítio (arqueológico) tem que ter carro, gastar com combustível e equipamentos. Depois tem que ter gente que se interesse por esse tipo de história."
"O que temos aqui (no
laboratório) mostra que a
região foi muito habitada"
Lucio Tadeu Mota -
Professor do Departamento de
História da UEM
Os universitários gostam da área, mas geralmente se frustam depois que descobrem que a arqueologia nem sempre é uma aventura. "Chegam com a ideia de que a pesquisa arqueológica vai ser tipo ‘Indiana Jones’ e que ele vai sair a campo e descobrir um tesouro", brinca.
Uma das lacunas das pesquisas sobre o período pré-histórico do noroeste do Estado é sobre o destino da população de caçadores-coletores. Quando portugueses e espanhóis chegaram ao Brasil, encontraram os guaranis no litoral e às margens do Rio Paraná, e os cainguangues em pontos mais altos.
Não há registros sobre o que aconteceu com os habitantes anteriores. Tadeu explica que entre as hipóteses está a "guaranização" da população. "Os guaranis chegaram, guerrearam, pegaram crianças e mulheres e mataram os homens."
Outra teoria é que o isolamento os dizimou. "Ainda não temos resposta definitiva." Já as doenças trazidas pelos europeus, como sarampo, varíola e gripe, foram a causa do desaparecimento dos guaranis.
Respostas só podem ser obtidas quando - e se - forem encontrados ossos dos caçadores-coletores. Além da falta de recursos e pessoal, um problema atrapalha as pesquisas.
O solo do noroeste acelera a decomposição dos resíduos orgânicos, diferente do da região de Ponta Grossa, onde ossos e palha duram mais tempo, por exemplo. "Aqui, 100 anos depois já não encontramos mais nada"
http://www.odiario.com/zoom/noticia/725708/pesquisas-arqueologicas-mostram-passado-agitado/