Desde 2010, quando a Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) recebeu os primeiros alunos, o número de idosos que passaram a frequentar os bancos universitários da cidade saltou de sessenta para 292.
Para 2013, foram abertas mais sessenta vagas e todas já foram preenchidas. "Superou todas as expectativas, a começar pela enorme procura da população. Quando começamos não tínhamos ideia de que a demanda seria tão grande. Frequentemente, temos que recursar alunos", revela a coordenadora da Unati, Regina Taam.
Fotos/João Cláudio Fragoso
Ela conta que, com o passar do tempo, a coordenação também aprendeu que uma hora de aula era pouco para contentar os alunos e, agora, cada aula tem duração de duas horas.
"Aos poucos vamos aprendendo muita coisa, porque os próprios aluno s vão nos sinalizando qual o melhor caminho para a gente acertar", destaca. Antes de começar a ofertar os cursos, os professores da UEM envolvidos na criação da Unati, ouviram a comunidade maringaense e visitaram várias, das mais de 150 instituições similares existentes no País.
Dentro da UEM, a Unati funciona como um órgão da Reitoria, que teve a
criação aprovada pelos conselhos e a garantia da longevidade. "É um
grande avanço o fato de a Unati ter nascida como órgão e não como um
programa de extensão. Esta condição permite uma inserção dentro da
universidade muito mais estável e sólida".
O Diário - Quem são os alunos da Unati de Maringá?
REGINA TAAM - São pessoas com sessenta anos
ou mais, com qualquer nível de escolaridade - até para não excluir de
novo quem já foi um dia excluído da oportunidade de estudar - com
disposição para estudar e ter um convívio com a comunidade. Os cursos
são 100% gratuitos, o que permite que pessoas com poucos recursos
também possam ter a oportunidade de ser aluno da Unati e, ao mesmo
tempo, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Estes alunos também vão se formar e receber um diploma de graduação?
Não se formam, porque não é ofertada a educação formal, mas uma
educação não formal ao longo da vida. Não há um ponto de chegada. A
educação formal é profissionalizante e dá um diploma. A não formal, que
fazemos, é ao longo da vida. Eles entram e ficam o quanto quiserem.
Quais os cursos que são oferecidos?
São muitos cursos, quase 40 no total. Temos Nutrição, Cuidado com Medicamentos, Ler e Escrever com Muito Prazer, Literatura Medieval, Produção dos Medicamentos, Conhecendo o SUS, História da Alimentação, Equilíbrio Corpo e Mente.
Também oferecemos academia de ginástica, hidroginástica e
informática. Temos uma aula de Anatomia, uma de Biologia, para que
possam conhecer os tesouros do solo paranaense. O aluno escolhe o que o
atrai mais e o assunto pelo qual tem mais curiosidade.
Como é o relacionamento destes idosos que ingressam na Unati?
Normalmente, os alunos entram em um nível de estranheza muito grande. Alguns pararam de estudar há muito tempo, outros nunca tinham sonhado em ser aluno de uma universidade, o que faz dessa participação um acontecimento na vida da pessoa.
Posso dizer que tanto na primeira turma que entrou, como nas seguintes, eles chegam tendo que aprender a ser aluno de uma universidade, o que traz algumas implicações. Oferecemos uma educação de nível superior. Os professores são os dos cursos de graduação e pós-graduação da UEM.
Ser aluno da universidade significa seguir algumas regras e atuar
dentro de certos parâmetros. Eles passam a ter todos direitos de um
aluno, mas têm que assumir as responsabilidades e o compromisso de uma
nova inserção na vida, no grupo social, o que é muito bom para toda a
universidade.
Existe uma interação com os acadêmicos mais novos da UEM?
Temos muitos alunos da pós-graduação e da graduação que interagem com os nossos alunos da Unati, trazendo pesquisas e aprendendo muito sobre o processo de envelhecimento que todos nós vivemos.
Há uma interação que proporciona um aprendizado muito bom, pois a
Unati também faz pesquisas e envolve o conhecimento. Acredito que ainda
vão se abrir muitos campos de pesquisa nesta área e que vai se avançar
muito - e precisa avançar - em setores como a Gerontologia e a
Geriatria. Tudo isso ainda é muito novo.
Mas chega a haver uma interação extraclasse entre os alunos?
Em relação aos mais jovens a gente percebe que muitos chegam com alguns preconceitos e esteriótipos. Mas, ao conversar com alunos da Unati, eles mudam o olhar para a questão do envelhecimento e da velhice, o que é muito bom.
Isto muda a relação do jovem com os familiares mais velhos e com outros idosos com quem convivem na sociedade. Por parte dos alunos da Unati também é muito interessante, porque a medida que vão perdendo o estranhamento da universidade, que vão se sentindo mais confortáveis, eles vão curtindo muito.
Temos alguns alunos que fazem questão de comer no Restaurante
Universitário (RU) para se sentir mais aluno da universidade. Também
temos amizades criadas ali, pessoas que se descobrem com os mesmos
interesses e com a mesma afinidade.
Há algum exemplo de que esta afinidade tenha resultado em algum relacionamento entre os alunos?
Há o exemplo de um casal que se formou dentro da Unati. Ele é um
senhor que ficou viúvo, em 2011, e ela uma senhora que morava sozinha.
Os dois formaram um casal, em 2012, e estão começando uma vida nova
juntos.
Alguma outra história que chama a atenção da senhora?
Temos três alunos que decidiram encarar um vestibular. Dois fizeram para História e um Direito. Todos conseguiram a vaga e um deles passou em sexto lugar em História.
Quando entram na Unati, muitos dizem que não sabem se a cabeça vai
dar para isto. Eles têm muito medo das limitações, do grande tempo que
ficaram sem estudar ou por ter estudado pouco. Mas a medida que vão
aprendendo, vão se sentido encorajados.
Os idosos correm mais riscos em relação a problemas de saúde. Existe esta percepção dentro da Unati?
Nesta idade, depois dos sessenta ou dos setenta anos, muitas ocorrências de saúde graves aparecem. Tivemos casos de alunos com diagnóstico de câncer, por exemplo, que foram fazer quimioterapia ou radioterapia. Depois, vimos eles fazendo a rematrícula com o maior entusiasmo.
Não sei o que seria deles sem uma perspectiva de ter um lugar para
voltar. Quando vemos pessoas com esta situação de saúde, estranhamos
como eles têm animo de se matricular em cursos novos, querendo
aprender. São coisas assim que fazem com que queiramos fazer uma Unati
cada vez melhor.
Existe alguma novidade para 2013?
Vamos ter uma experiência nova que é a abertura de vagas para pessoas
que moram em asilos. Temos cinco pessoas que estão
institucionalizadas, que passam os dias no Lar dos Velhinhos e que,
agora, vão poder ter uma vida fora daquele espaço. Claro que vai exigir
um trabalho de adaptação, com todo o cuidado, mas acho que vale a
pena. Vai dar uma vida nova para pessoas com uma rotina marcada apenas
pelas refeições e pelos remédios. Estes cinco moradores fizeram a
matrícula e vão começar a estudar em 2013. Vamos acompanhar, porque
eles estão muito animados. Também estamos, porque se pudermos ampliar
estes benefício, a gente pode fazer um bem muito grande a pessoas, que
por um motivo ou outro, estão abrigadas nestas instituições.
Mais algum projeto, em especial, para ser implantado este ano?
Este ano, a Unati vai gerenciar a criação do Centro de Referencia do Envelhecimento dentro da UEM, para oferecer apoio a toda a população de Maringá.
É um projeto em parceria com a Secretaria Estadual de Justiça e
Cidadania e com a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. É um
outro grande desafio que temos pela frente e que envolve muitas coisas
que queremos realizar.
Qual o limite da Unati?
Hoje, prefiro pensar nas possibilidades. Os limites são os mesmos da universidade pública. Os recursos são do Estado e são limitados. Os recursos humanos e materiais são muito aquem do que a universidade precisa, mas é sempre assim, em todos os setores, e não seria diferente com a Unati. Aqui, os alunos não se formam, entram e não saem.
O desafio é expandir a Unati. Sempre queremos levar os benefícios para mais pessoas. A questão do envelhecimento não vai recuar. Vamos ter cada vez mais na pauta da imprensa e da saúde, a questão do envelhecimento. Com o passar dos anos, vai aumentar tanto a quantidade de idosos, quanto o tempo de vida deles.
A faixa acima dos oitenta cresceu de forma impressionante, o que exige que a sociedade dê respostas. Ou estas pessoas vão colaborar com a sociedade, com as famílias e com a comunidade ou vai ser muito difícil, porque não teremos nem situação asilar e nem leitos de hospital suficientes.
Ou fazemos alguma coisa para que continuem as atividades funcionais em bom estado e com boa qualidade de vida ou vai ser muito difícil para a sociedade. A Unati é parte da solução. Trabalhamos pela redução de problemas para a assistência social, a saúde e outras áreas relacionadas ao envelhecimento.
http://www.odiario.com/cidades/noticia/715671/idosos-com-garantia-de-espaco-na-universidade/