As aulas na Universidade Estadual de Maringá (UEM) acabam na próxima semana, mas a cultura continua acontecendo no campus. Algumas manifestações artísticas, como a mostra ao ar livre das esculturas de Marcelo Monteiro e a exposição "Entranhas", com desenhos e ilustrações de Guto Stresser, são alguns exemplos disso.
Quem anda pela passarela central da universidade, mesmo que apressado, se detém para contemplar uma estudante sentada em um tronco de árvore. Nos olhos, uma expressão suave de tristeza e, nas mãos, as páginas de um livro levantadas pelo vento.Rafael Silva
Marcelo Monteiro ao lado da escultura "O Imigrante" sua segunda obra exposta na UEM, próxima ao Instituto de Línguas (ILG)
A cena não é um flagrante do cotidiano e sim uma obra de arte: a escultura em madeira "A Leitora", feita pelo artista plástico e aluno de História Marcelo Monteiro, 31 anos.
A obra, com mais de dois metros de altura e cerca de 700 quilos é a primeira de uma série de quatro que integram o projeto de extensão Arte e Meio Ambiente, do curso de Arquitetura, orientado pela professora Maria Dalva.
Em 2008, a instituição conseguiu uma verba de R$ 29 mil da Caixa Econômica Federal para a confecção das esculturas em madeira, que fazem parte da revitalização da passarela por onde transitam centenas de pessoas todos os dias.
O projeto de intervenção cultural conta com o apoio da Sociedade Eticamente Responsável (SER) e da faculdade Uningá. O objetivo, diz Monteiro, é resgatar a história da UEM e reutilizar a natureza para criar arte. "Dou outra vida para a árvore condenada que foi cortada", diz.
As esculturas foram dispostas de forma estratégica a fim de remeter ao passado da universidade. "A Leitora", por exemplo, fica em frente ao bloco da Pró-Reitoria de Recursos Humanos e Assuntos Comunitários, local onde antigamente ficava a Biblioteca Central.
A segunda escultura, "O Imigrante", está próxima ao Instituto de Línguas e do Instituto de Estudos Japoneses. Ambas foram inauguradas em 2010. A mais recente é a obra intitulada "("...")", que simboliza a origem dos movimentos sociais que existiram dentro da UEM.
O artista explica que, no título incomum da obra, os três pontos significam ao mesmo tempo tudo e nada, as aspas representam ironia e os parênteses colocam em evidência o ideal. "Esta é a minha obra mais madura e provocativa até agora porque mexe com os ânimos e deixa as pessoas desconfortáveis."
Monteiro conta que conversou com ex-funcionários e fez uma pesquisa detalhada para elaborar uma prévia da escultura. "("...")" é uma máscara totêmica de três metros de altura com uma venda nos olhos e uma corda na boca. Olhando mais atentamente, percebe-se que a tira de pano e o fio não estão amarrados.
"Deixando esses dois sentidos prejudicados [visão e fala], quis passar a ideia de que a pessoa tem liberdade para expressar suas opiniões, mas, muitas vezes, achar mais confortável não se expor."
O artista começou a esculpir aos 16 anos e há oito trabalha profissionalmente com sua arte. Ele também realiza cursos na UEM nos quais ensina escultura em giz e argila. Ele também ministra oficinas em escolas de Maringá.
A grande maioria dos seus trabalhos já foi vendida. Nesse período, participou de exposições brasileiras e teve obras premiadas na Mostra Paranaense de Artes Visuais e no 11º Circuito Internacional de Artes, além de fazer parte de uma mostra na Europa, em 2006, com uma peça também feita em madeira.
Segundo Monteiro, a quarta e última obra deverá ficar pronta no começo do ano que vem, e será um trabalho baseado em forma, volume, espaço e movimento, sobre a poética do símbolo da UEM, criado por Rinaldo Costa. É esperar para ver, ao ar livre.
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