Abrir-se para o mundo se tornou essencial em tempos de globalização do conhecimento. E é o que está fazendo a Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O convênio com 119 instituições de ensino superior nos quatro cantos do globo mostra a disposição da instituição em investir no compartilhamento de talentos. A estimativa é que 200 professores e estudantes da UEM estejam em intercâmbios por universidades mundo afora.
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O que eles trazem de volta na bagagem é compartilhado com colegas de sala e profissão. "A internacionalização reflete no desenvolvimento regional", diz Evanilde Benedito, assessora do Escritório de Cooperação Internacional da UEM e professora auxiliar da instituição há 25 anos.
A maior barreira que os candidatos à internacionalização enfrentam no Brasil é a falta de proficiência em inglês. Por conta disso, sobram bolsas de estudo no exterior. Um conselho para quem quer passar uma temporada de estudos fora: "Tem que aprender inglês", enfatiza Evanilde, que é bióloga e pós-doutora em Ecologia.
O que cativa o pesquisador e o estudante estrangeiro a optar pela
UEM, segundo a professora, é a qualidade do ensino oferecido pela
instituição. A UEM é a 12ª universidade do País, segundo ranking do
jornal Folha de S. Paulo. O interesse dos estrangeiros pelo Brasil
começa pelo idioma. "Eles querem falar o português, aprender cultura e
história."
O DIÁRIO - Por que abrir as portas da UEM para a internacionalização?
EVANILDE BENEDITO - Chegamos em um momento em que não é necessário mais caminhar sozinho, nós precisamos de parcerias. As parcerias nacionais já existem, mas as internacionais, neste processo de globalização e de conhecimento cada vez mais acelerado, são importantes para que estejamos em contato com as melhores universidades do mundo.
A internacionalização passou a ser uma outra função da universidade. Nós temos o ensino, a pesquisa, a extensão e, agora, a internacionalização. Ela passa a ser necessária para as grandes universidades formarem professores e estudantes. E a UEM está nesse processo.
Nós nunca tivemos tantas oportunidades como agora. Infelizmente,
estamos recebendo poucos estudantes este ano por causa da crise na
Europa. Em anos anteriores, tivemos um número muito maior.
Por que a internacionalização é importante?
Porque reflete no desenvolvimento regional. Profissionais agrônomos,
com mobilidade na América do Norte e na Europa, quando voltam trazem
tecnologia nova, conhecimento novo. Os engenheiros capacitados com troca
de experiências em universidades vão trazer também para a nossa região
conhecimentos e informações que estão acontecendo na Europa e na
América do Norte.
Quantos alunos e professores da UEM estão estudando em outros países?
Esse processo é muito dinâmico. Existe um programa chamado Ciência
sem Fronteiras e em janeiro e fevereiro vão sair cerca de 60 alunos,
mas existem outros que estão retornando. Tudo isso apenas neste
programa do governo federal. Professores, estudantes de pós-doutorado e
graduação estão continuamente saindo. Estimamos que esse número passa
de 200, mas ainda é subestimado.
Qual é o tempo de permanência deles?
É variado. Um pesquisador pode ficar uma semana. Ele apresenta um trabalho, visita um laboratório e escreve um artigo. Geralmente, fica de 1 semana a 10 dias. A universidade inclusive está apoiando financeiramente essa mobilidade, com recursos próprios.
Outros ficam 1 mês, 6 meses ou 1 ano. Já o estudante de graduação sai com um plano definido. Ele cursa algumas disciplinas lá fora, fica 4 meses, 1 ano ou até 2 anos. No caso dos maiores períodos, ele tem o duplo diploma. Isso quer dizer que o diploma dele vale lá fora e aqui no Brasil.
Tivemos essa resolução aprovada agora em setembro na UEM. E desde
quinta-feira, com o início da parceria do grupo de Coimbra, de
Portugal, temos os cursos de licenciatura em que os professores podem
ficar até 2 anos lá fora, com bolsas de estudo bastante vantajosas.
Qual o critério de seleção para participar dos programas de mobilidade?
O maior problema hoje é a língua. Estão sobrando bolsas. Os nossos estudantes, não só de Maringá, querem ir para Portugal e Espanha ou para a a América do Sul por causa do idioma. Ano passado, em todo o Brasil, foram 15 mil inscritos nas universidades, mas apenas 1,5 mil conseguiram lograr êxito.
É porque faltam vagas nas universidades portuguesas e sobram nas
universidades de língua inglesa, alemã e francesa. O Brasil tinha
intenção de mandar 100 mil estudantes para o exterior em 4 anos.
Passado 1 ano e alguns meses, foram enviados apenas 15 mil estudantes. E
sobram bolsas. A explicação para isso é realmente a falta de
proficiência em inglês.
Qual conselho a senhora daria para quem quer estudar fora?
Tem que aprender o inglês. Na terça-feira, a UEM inaugura um
laboratório para prestar exames de proficiência. O estudante tem a
língua inglesa, mas para concorrer aos editais precisa ter uma média
para passar. O laboratório será para testes de língua francesa, alemã,
espanhola, italiana e inglesa.
Qual o peso dessa experiência no currículo?
O profissional que tem mobilidade internacional e dupla diplomação tem diferencial no currículo. Quando vão ao exterior, as disciplinas realizadas lá constam do histórico escolar. Missouri, uma universidade americana, está bastante interessada em trabalhar conosco no processo de dupla diplomação.
Eles trouxeram para nós várias oportunidades para que os estudantes fiquem 2 anos aqui e 2 anos lá e voltem para a UEM para concluir o curso. É um exemplo de universidade, mas outras também nos mostraram vários projetos. O Brasil está sendo buscado por vários países.
Recebemos constantemente americanos que querem fazer convênios,
levar nossos estudantes e trazer os deles para cá. O estudante
brasileiro é dinâmico, ele se vira e resolve problemas; ele é bem
recebido lá fora.
Quais são as universidades conveniadas com a UEM?
Temos 69 convênios já firmados e mais 50 em vias de finalização,
totalizando 119 convênios com universidades do mundo todo. Temos
universidades na Europa, na América do Norte, na América do Sul, na
Ásia, na Rússia e na Austrália. Esses três últimos estão em fase de
conclusão.
Quais os resultados da internacionalização?
Na área de engenharia, por exemplo, os estudantes foram até Porto, em Portugal, fizeram a mobilidade e, quando voltaram, trouxeram novos contatos para realizar cursos de pós-graduação. Um exemplo interessante é o da Universidade de Cuyo, na Argentina.
Uma estudante argentina veio fazer mobilidade em Administração,
ficou aqui por 4 meses e participou da Adecon (empresa júnior de
consultoria). Ao voltar para a Argentina, relatou que a experiência na
UEM foi bastante válida e criou uma empresa júnior. E lá eles não
conheciam essa dinâmica.
Os estrangeiros encontram dificuldades quando vêm para cá?
O que me impressionou esses dias foi uma alemã que chegou para fazer mobilidade conosco e veio com o português perfeito, com sotaque, claro, mas falando muito bem. Espanhóis e franceses geralmente chegam com alguma iniciação, mas se interessam muito pelo português.
E nós temos que nos sentir orgulhosos disso, porque a nossa língua é a nossa cultura. Quando visitamos outros países, temos que falar outras línguas, e seria muito bom que viessem e falassem o português. Para recebê-los, é importante que conheçamos o inglês.
Muitos professores que os recebem, nos cursos de pós-graduação, se
prepararam. Estamos com projeto de construir a casa do visitante
estrangeiro, para que tenham um local para ficar. A comida e a cultura
eles curtem bastante.
O que a UEM vende lá fora para convencer estudantes e pesquisadores a vir para cá?
O nível dos nossos cursos. Ocupamos a 19ª posição na América Latina e, segundo ranking da Folha de S. Paulo, somos a 12ª do País. O que cativa as universidades estrangeiras é a cidade. Uma cidade do interior, tranquila e pequena, o que traz segurança para o estrangeiro.
Tem acessibilidade boa, é plana e arborizada. A qualidade e a diversidade de cursos que a universidade tem, são 69 de graduação, também são importantes.