As ruas do Centro de Maringá deixam muito a desejar na limpeza. Culpa não dos garis da prefeitura que fazem seu serviço com zelo, mas sim dos pedestres mal educados e dos lojistas que deixam o lixo espalhados no pé das árvores, ao final da tarde. Preservar a cidade limpa é sobretudo um desafio para a família e a escola formar novas gerações.
A boa educação ainda começa em casa e na escola. Mãe que ensina e cobra do filho para arrumar o quarto, lavar pratos, varrer a casa, preservar o espaço limpo, contribui para formar o senso de cidadania deles.
Professores também devem ensinar e monitorar os alunos para jogar lixo no lixo, não riscar, não colar chiclete ou caca de nariz debaixo das carteiras, dar a descarga no vaso sanitário após o uso, jogar papel sujo no cesto, etc.
Os "deseducados" ao chegar a universidade, que fazer? Afinal, 10% dos universitários se esquecem de dar a descarga! A maioria dos alunos universitários "esquecem" de desligar a luz ou deixar as carteiras organizadas para a próxima aula.
Os próprios professores se ‘esquecem? de apagar o quadro após a aula, de zelar pelos aparelhos, ou mesmo de se apresentarem asseados. Alunos reclamam de um professor mal ajambrado e fedido. É um contrassenso um professor mal educado e mal apresentado. Mas "quem educa os professores"?
A sujeira é mais visível nas universidades públicas do que nas escolas públicas.
Banheiros sujos/limpos deveriam ser quesito dos rankings das universidades. A recente greve dos funcionários da Universidade Estadual de Maringá (UEM) deu visibilidade à importância dos técnicos, burocratas e faxineiros, mas também nos fez pensar sobre a relação limpeza X sujeira.
Vasos sanitários entupidos, mau cheiro, corredores e salas empoeiradas, entulhos nas ruas, também aumentou as pichações nas paredes (a maioria sem inspiração política e com português errado parece instinto canino). A sujeira e o desleixo dos responsáveis pela manutenção do campus eram visíveis bem antes da greve.
Todos defendemos a universidade pública, mas poucos que nela trabalham efetivamente "educam" os alunos para preservarem o patrimônio público.
Por que tratamos o espaço público como terra de ninguém? Alguém se importa para o aumento das pichações na UEM? Cadê os críticos? (Parafraseando Brecht e Zizek: eles começam pichando muros, depois picham paredes dos estabelecimentos públicos, logo estarão pichando as salas de aulas, e ainda justificam tais atos com uma discurso moral cínico. Pichadores, uni-vos!).
São muitas as causas do desleixo no espaço público em geral: herança cultural de que "o público é de ninguém", fracasso da educação pós-moderna cujos pais perderam o controle dos filhos mimados; concepção pedagógica cega para ‘treinar? bons modos, etc.
Infelizmente a nova geração de crianças e jovens imagina a mãe ou empregada escravas, realizando sempre trabalho braçal e sujo. Por isso Bruno Latour perguntou:"Somos realmente modernos"?
Alunas que estudaram no Japão me disseram que lá as escolas não têm empregadas para limpeza. Imagine quem limpa a sala depois da aula? Os alunos. Como eles sabem que vão limpar preservam o ambiente escolar sempre limpo. Professores também fazem sua parte. Eis a diferença entre civilizados e incivilizados.
Lembro-me de quando terminava o 3º. Colegial, em Presidente Bernardes-SP, 1973: o diretor Tuta obrigou a turma a limpar a sala de aula, depois do horário. Todos pegaram na vassoura e no pano de chão para deixar a sala limpa. Eu já tinha experiência doméstica, porque não tinha mãe.
Provavelmente os pais hoje processariam judicialmente a direção da
escola por constranger os seus babies a pegarem na vassoura e no pano
de chão, para limpar a sala de aula que eles sujam. Não bastam
discursos ecologicamente corretos e críticos para evitar a barbárie. É
preciso dar exemplos que educam.
Raymundo Lima
Professor do Departamento de Fundamentos da
Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
http://www.odiario.com/opiniao/noticia/611325/incivilizados/