Eles usam drogas, não estudam e vêm de uma família desestruturada. O perfil, que vale para boa parte dos adolescentes vitimados por homicídios em Sarandi, se aplica à maioria dos jovens infratores no País. É o que mostra uma pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), concluída mês passado.
O estudo mostra que 75% dos jovens condenados por crimes são usuários de drogas, 43% foram criados apenas pela mãe e 36% chegaram à internação pelo crime de roubo. Na região Sul, mais especificamente, chama a atenção o porcentual de internamentos de menores que cometeram assassinatos: 20% do total.Flávio Souza/Câmera Rec-27/1/12
Ramirez Gustavo Vidal, executado a tiros em Sarandi em janeiro
A pesquisa foi feita por uma equipe multidisciplinar que visitou, de
julho de 2010 a outubro de 2011, 320 estabelecimentos de internação no
País - onde estavam internados 17.502 adolescentes que cumprem medidas
socioeducativas de restrição de liberdade. Foram entrevistados 1.898
adolescentes internos.
Outra pesquisa, divulgada neste mês pela
Secretaria de Assistência Social de Londrina, aponta dados semelhantes.
O estudo, feito com 369 adolescentes atendidos pelo Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (Creas), mostra que a
maioria não está na escola, vive só com a mãe e tem renda familiar de
até 2 salários mínimos.
O levantamento também mostra que 52%
dos adolescentes atendidos pelo Creas são reincidentes. A média de
reincidência é a mesma dos que cumprem medidas de internamento nos
Centros de Socioeducação (Cense).
A socióloga Ana Lúcia
Rodrigues, coordenadora do Observatório das Metrópoles – núcleo de
estudos da Universidade Estadual de Maringá (UEM) –, diz que Sarandi,
com metade dos homicídios este ano envolvendo menores, reflete a
realidade nacional. "Essa interiorização da violência é crescente. Por
mais que os números de Sarandi choquem, não são difíceis de resolver.
Bastaria empenho dos governos, de lembrar em colocar os jovens no
orçamento", diz.
Ana Lúcia lembra a frase do comandante do 4º
Batalhão da PM, tenente-coronel Antonio Roberto dos Anjos Padilha, em
entrevista a O Diário, publicada domingo: a criminalidade ocupa o lugar
onde o Estado não está presente. "É comum dizer que a morte está
associada ao tráfico de drogas.
Mas o tráfico está vinculado à
ausência do Estado, com a criança fora da escola, com o jovem sem
assistência", diz. "É um discurso que se repete sempre, mas tem que ser
assim até os gestores se lembrarem de incluir os jovens em seus
programas de governo".
http://www.odiario.com/regiao/noticia/570871/perfil-e-semelhante-no-brasil/