A Biblioteca Pública Bento Munhoz da Rocha Netto, embora situada a
poucos metros da Prefeitura de Maringá, no Centro, piorou nos 8 anos da
gestão Silvio Barros. O prefeito chegou a se reunir conosco duas vezes
prometendo um prédio digno para os livros e leitores. Só enrolação.
Não é surpresa que nossos políticos ignorem o valor das bibliotecas
públicas e seus frequentadores. Eles ignoram que as bibliotecas públicas
têm uma função distinta das bibliotecas das escolas. Além de terem
mais títulos, jornais, revistas, mapas, periódicos científicos, as
bibliotecas públicas devem promover grupos de leitura, eventos abertos
ao público.
Sua função precípua é a "política de leiturização",
isto é, favorecer o acesso aos leitores que, por algum motivo, se
encontram fora da escola, mas desejam ler: são aposentados,
concurseiros, desempregados à procura de trabalho, estudantes... Elas
contribuem para a aprendizagem contínua, informação, cultura, lazer e
apoio à educação formal.
Na Bento Munhoz, funciona um Clube de
Leitura, cujo ponto de convergência é a leitura por prazer, a leitura
desinteressada. Uma vez por mês, reunimo-nos para conversar sobre uma
obra literária. Assim, esta importante biblioteca também é um lugar de
socialização mediado pela leitura. Apesar das cadeiras desconfortáveis
(tortura para idosos), de o prédio poder desabar, da ignorância e
cinismo dos políticos gestores, somos resilientes nos nossos encontros
mensais.
Os apocalípticos eletrônicos acham que a internet irá
ocupar o espaço das bibliotecas. Isso é bobagem, porque o novo conceito
de biblioteca pública inclui as novas mídias. Não devemos entender que
a Wikipédia (enciclopédia virtual) substitui as enciclopédias
impressas. Também não devemos acreditar que a leitura de textos
virtuais gera o mesmo efeito assimilativo do que a leitura de textos
impressos.
Algumas pesquisas apontam que a assimilação da
leitura ‘horizontal? de textos impressos é três vezes mais do que a
leitura ‘vertical? de textos eletrônicos.
A primeira função da
biblioteca pública foi de conservar os livros. A segunda, de
democratizar o acesso de todos que querem ler no local, ou fazer um
empréstimo para ler no seu lugar preferido. (75% de brasileiros nunca
pisaram em uma biblioteca pública).
A terceira é a difusão da
literatura, informação e conhecimento. Quarta, as bibliotecas públicas
contribuem para diminuir o analfabetismo funcional e o iletrismo.
Quinto, o novo conceito de biblioteca pública deve incluir novas mídias,
auditórios, salas de estudo e lazer.
As bibliotecas das
escolas têm as funções de apoio ao estudo curricular e fundar o hábito
de leitura nos alunos. Seu acervo precário ou restrito indica que estas
precisam das bibliotecas públicas, portanto, as bibliotecas escolares
são necessárias, mas não substituem as públicas.
Não basta a
escola ter sua biblioteca. Porque os professores precisam ter hábito de
leitura, e desenvolver programas de leiturização com alunos e com
professores também.
Lamentavelmente, os sucessivos prefeitos e
vereadores de Maringá não se interessam pelos livros, bibliotecas e em
formar leitores. Seus olhos enxergam apenas uma cidade de prédios,
carros, comércio vibrante. Quando eles viajam para países de primeira
mundo visitam as bibliotecas? Maringá tem muitas escolas e faculdades,
mas seu povo é culto? Interessa aos dominantes um povo leitor e culto,
ou um povo ignorante?
Em 2008, escrevi neste jornal denunciando
o descaso do poder público para com a biblioteca central. A imprensa
local fez a sua parte noticiando e alertando. O ministério público
cobrou da prefeitura providências, mas nada foi feito. Dos políticos
ignorantes nada podemos esperar, mas cadê a mobilização dos
professores, estudantes e ONGs desta cidade?
Raymundo Lima
Professor da Universidade Estadual
de Maringá (UEM)
http://www.odiario.com/opiniao/noticia/570163/biblioteca-x-ignorancia/