Quando falamos da escritora Leticia Wierzchowski a primeira obra que
certamente mencionamos é "A Casa das Sete Mulheres" (2002), que resultou
na minissérie produzida pela Rede Globo e exibida em 2003. Mas poucos
sabem que a obra surgiu a partir da leitura de "Os Varões Assinalados",
de Tabajara Ruas, contando a Revolução Farroupilha através dos homens da
guerra.
A autora, então, em "A Casa das Sete Mulheres", resolveu narrar a
história a partir de um outro olhar, e proporcionou voz e vez às
mulheres da Revolução por meio da perspectiva feminina. Das suas obras,
destaco "O Pintor que Escrevia: Amor e Pecado" (2003).
O
romance não apenas narra a história de dois personagens, Marco Belucci e
Amapola, mas retrata a paisagem do ambiente como se fossem telas
pintadas com simplicidade e beleza: "O céu é de um azul intenso que vai
desbotando para os lados do horizonte. O sol começa a escorregar para o
oeste, e a tarde gasta-se sutilmente, desfolhando-se sobre a imensa
casa branca de dois andares, arranhando o topo da casa, o pequeno
telhado do sótão com sua janelinha azul", escreve, no início da obra.
A
relação entre artes plásticas e literatura não para aí. O título, "O
Pintor que Escrevia", já indica que além de pintar telas, de dar cor à
sua história, o personagem precisa, também, do verbo para captar com
mais completude os acontecimentos. Dessa forma, no avesso de suas telas
há uma espécie de narrativa, textos de um diário.Após a morte de Marco
Belucci, seus quadros são recuperados por um dono de galerias de arte
em São Paulo.
O galerista liberta aquelas obras e desperta o
amor que está adormecido nelas, os mistérios que lá repousam. Logo, a
história deixa o universo de papel e transforma o galerista e nós,
leitores, em cúmplices de seus segredos. Uma dica? Vale a
penadescobri-los.Na literatura infantil, Letícia Wierzchowski inova.
Não escreve histórias preocupadas com lições de moral, funções
pedagógicas, como muito tempo relegou-se ao universo infantil. Ou
então, histórias escritas por adultos que infantilizam ou subestimam a
criticidade e inteligência das crianças.
As obras de
Wierzchowski captam temas delicados, como em "O Menino Paciente" (2007),
acerca da experiência da criança frente a alguma dificuldade, no caso
do livro, à doença. Na obra, a doença deixa de ser vista como
acontecimento isolado e ganha uma dimensão mais ampla, ganha espaço na
literatura. Afinal, toda criança, assim como todo adulto, precisa saber
enfrentar seus medos, mas, antes disso, precisa falar sobre eles,
entender que faz parte da natureza humana temer o que ainda não se
conhece.
E é esse silêncio que a autora propõe romper.
Marcela G. Batalini
Graduada em Letras, Língua Portuguesa e Inglesa e mestranda em Estudos Literários, ambos pela UEM
http://www.odiario.com/dmais/noticia/569550/wierzchowski-inova-na-literatura/