O dólar chegou na casa de R$ 1,90 depois de
diversas investidas do governo para tentar aumentar a cotação da moeda
norte-americana. Mas o que provoca a curiosidade de empresários,
executivos e consumidores é qual o impacto dessa alta.
Economistas e consultores acreditam que significa uma reação para o setor industrial, tornando a produção brasileira mais competitiva no exterior. Mas para o consumidor pode sinalizar cautela na hora de optar por alguns produtos e serviços.
Nos últimos 30 dias, o dólar
subiu R$ 0,12. Isso significa um aumento de 6,62% no período, pois de
R$ 1,81 para 1,93. Neste mês, foi a primeira vez que a moeda atingiu o
patamar de R$ 1,90 desde julho de 2009.
Rafael Silva
Neste mês, após intervenções do governo, o dólar atingiu o patamar de R$ 1,90, o mesmo de julho de 2009
Para a economista e docente da Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Eliane Sbardellati, apesar da indústria considerar o aumento
"tímido", a variação tende a aquecer as exportações. "Na prática,
realmente não gera muitas mudanças no setor industrial. Mas para o
governo, que há meses tenta reverter a situação, o panorama é
positivo", considera ela, que é especialista em Economia Internacional.
Eliane explica que os produtos brasileiros ficam mais baratos no
mercado externo. "Isso gera competitividade com a produção de outros
países", completa. As primeiras reações podem ser observadas no
comparativo daquilo que foi importado e exportado entre bens e
serviços.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a balança comercial teve um
superávit de U$ 560 milhões depois do recente aumento de 6,62% no
dólar. Já as vendas brasileiras ao mercado externo foram de US$ 3,749
bilhões, que significa uma média diária de US$ 1,249 bilhão. O MDIC
aponta que houve crescimento de 18,5% ante o mesmo período de maio de
2011 (US$ 1,055 bilhão).
O consultor Dejair Baptista de Paula
Júnior, da D&R Negócios Empresariais, acredita que o reflexo desse
aumento da divisa norte-americana pode se refletir de forma positiva em
negociações envolvendo compra e vendas de empresas na região de
Maringá num período de 3 meses, caso a moeda se mantenha em alta ou
mesmo no patamar de R$ 1,90.
"Se o mercado externo está bom,
quem pensa em investir acaba optando por arriscar nessa hora", observa
ele, que trabalha na intermediação de compra e vendas de empresas.
"Quando as taxas como os juros reduzem e as cotações como a do dólar
aumentam, quem tem dinheiro guardado na renda fixa (poupança) acaba
querendo arriscar um pouco mais. Os investimentos acabam sendo em
empresas ou imóveis."
O consultor empresarial Erivaldo Luque
Real, da Real Consultoria, observa que com a cotação na faixa de R$
1,80 o panorama era de um País que importava muito e exportava pouco.
Ele cita representantes dos setores de confecção, calçados e o setor
metalomecânico, composto pelos segmentos de máquinas e peças, como os
que mais reclamavam. "Com o dólar baixo do jeito que estava, os
produtos da China e Índia, que têm preços muito mais competitivos,
levavam vantagem", diz. "Essa alta fortalece as empresas no quesito
exportação", completa.
Real frisa que os empresários já previam
um segundo semestre mais animador. Mas a recomendação do consultor é
que eles devem fazer caixa, já que o mercado deverá se levantar, pois
vinha de uma sucessão de baixas nos índices, mas tende a enfrentar
recessão na sequência. "Se até o primeiro semestre de 2013 não melhorar
a situação da Europa, isso trará consequências internas no Brasil."
Consumidor
A economista Eliane Sbardellati observa que a alta do dólar encarece o
preço das viagens para o exterior. Com os Estados Unidos facilitando a
emissão de vistos para brasileiros, o turismo internacional está
aquecido. O dólar mais caro deixa o valor de tarifas e a consequente
compra de produtos importados típicas do turismo mais salgados.
"Certamente nós vamos sentir a mudança no preço. É claro que ainda é
pequena, mas as viagens vão se encarecer."
Quanto às
importações, ela analisa que a cada cinco produtos comprados pelos
brasileiros, um é de origem estrangeira, especialmente dos Estados
Unidos, China e Índia. "Acredito que essa estatística não mude muito
porque a variação foi pequena", avalia.
E para quem fez compras
no exterior e está preocupado com os reflexos nas contas, a economista
explica que é válida a cotação da data do fechamento do cartão crédito.
"O que gera preocupação é no que será feito daqui para frente. E bom
ficar atento, pois o governo vai continuar mexendo para aumentar a
cotação", alerta. "Mas ninguém vai deixar de viajar por causa de uma
variação de R$ 0,12", pondera.
Na análise do consultor Erivaldo
Real, uma das metas do governo com o aumento do dólar é incentivar o
turismo nacional. "Ele quer que o dinheiro fique mais no mercado
interno." Ele acredita que se a tendência continuar até o final do
semestre existe a expectativa de que o câmbio da moeda norte-americana
chegue a R$ 2,10. "Por isso é preciso cautela na hora do turismo."
HISTÓRICO
http://www.odiario.com/zoom/noticia/567610/alta-do-dolar-gera-mais-expectativas-no-mercado/