Viagens aéreas e comida japonesa no fim de semana são hábitos mais comuns hoje do que há dez anos. Em compensação, quase ninguém mais usa filme fotográfico ou compra máquina de costura, a não ser para uso profissional. Essas mudanças no comportamento da sociedade são levadas em conta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no cálculo da inflação oficial.
O professor Neio Peres Gualda, do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), afirma que as mudanças não foram feitas por motivos políticos ou para manipular os dados a favor do governo. Ele coordena o grupo de acadêmicos responsáveis pelo acompanhamento dos preços no periódico publicado pelo departamento, o Boletim Conjuntura.
O economista destaca que o embasamento técnico das mudanças e as novas ponderações foi a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Como o padrão de consumo muda, o índice de inflação precisa acompanhar as mudanças. "Na primeira pesquisa realizada no Paraná, em 1961, um dos itens que entravam no cálculo era a banha", ilustra.
Na mais recente intervenção do IBGE, o economista ressalta que houve uma mudança muito rápida em um período muito curto. "Houve uma ascensão social muito grande, que alterou toda a estrutura de ponderação do índice", afirma.
Um exemplo é o aumento no peso relativo das loterias e jogos. O economista explica que, quando a maior parte da população tinha um nível baixo de renda, o hábito de fazer apostas era mais contido.
"Com a ascensão social, as pessoas passaram a jogar mais e esse gasto passou a ter um peso maior", comenta. O aumento na renda do brasileiro também explica a elevação do peso relativo de carro próprio, combustíveis e aparelhos eletroeletrônicos na conta do IPCA.
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