Proposta é unificar o acesso às universidades federais por meio de um teste nacional, sem pegadinhas e perguntas 'decorebas'; professor de cursinho antevê possíveis problemas do novo sistema
Cada universidade brasileira define seus próprios critérios de admissão de estudantes, com suas próprias comissões de vestibular. Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) criou um instrumento que diminui o peso do vestibular no acesso às vagas no ensino superior, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Universidades de todo o País adotaram o Enem em conjunto com o vestibular, em maior ou menor grau, para definir quem entra na instituição.
Agora, o MEC vai além: propõe um novo Enem que substituiria totalmente o vestibular nas universidades federais. A proposta foi apresentada nesta quarta-feira para os reitores das instituições de ensino superior administradas pelo governo federal. No novo formato, o Enem seria unificado para todo o País e valeria como acesso para qualquer universidade federal, independentemente da naturalidade do estudante. O exame seria composto por uma redação e quatro provas de múltipla escolha: português, matemática, ciências naturais e ciências humanas.
A definição da vaga e da instituição dependeria do desempenho no exame nacional. O MEC afirma que a troca do vestibular específico pelo Enem geral substitui a "decoreba" e as pegadinhas dos vestibulares pelo conteúdo abordado ao longo do Ensino Médio.
Para o professor Ivan de Carvalho, do curso preparatório para vestibulares Imagem, em Maringá, o novo modelo será um fracasso se reproduzir a visão formatadora do ensino. Existem vestibulares inteligentes, mas também há os burros: aqueles que cobram um conteúdo decorativo, como se o aluno fosse um balde, onde vários conceitos foram depositados ao longo do currículo escolar, afirma Carvalho.
Para o professor, se o MEC fizer com o novo Enem o que é feito com o ensino público em geral, haverá prejuízo no sistema de admissão. A escola considera que o aluno deve ser formatado, que não tem vontade própria e que deve receber uma série de verdades prontas, considera Carvalho. Se esse pensamento for levado para o novo exame, não vai melhorar em nada o sistema de seleção, acrescenta.
Procurada para comentar o assunto, a Universidade
Estadual de Maringá (UEM), por meio de sua assessoria de comunicação, informa
que está buscando mais detalhes sobre o assunto, antes de posicionar-se
oficialmente sobre o assunto. A proposta só será oficializada na próxima
segunda-feira (leia mais nesta página). O reitor da UEM, Décio Sperandio, estava
em viagem, mas a UEM deverá se posicionar sobre a proposta do MEC ainda nesta
semana.
O exame do vestibular seria composto por uma redação e quatro
provas de múltipla escolha: português, matemática, ciências naturais e ciências
humanas. A definição da vaga e da instituição em que o aluno estudaria, caso
quiser escolher, dependeria do desempenho no exame nacional
Formalização
Haddad formalizará a proposta de unificação do vestibular nas universidades federais, por meio de um novo Enem, na próxima segunda-feira, na Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para que seja discutida nas universidades.
O ministro espera que o novo vestibular possa ser aplicado ainda esse ano, para ingresso dos alunos em 2010. Esse assunto é discutido há décadas e nós estamos maduros o suficiente para dar um passo adiante e rever os nossos processos seletivos que hoje padecem de problemas graves. Eles sinalizam mal como deveria ser o currículo do ensino médio, defendeu Haddad.
Segundo o ministro, o aluno não precisaria fazer vários vestibulares, mas apenas um que teria validade nacional. Haddad citou que modelo semelhante é aplicado nos Estados Unidos com a Scholastic Assessment Test (SAT), uma prova única que serve como ingresso para todas as instituições.
A proposta de Haddad é que o novo exame seja um meio-termo entre o Enem e o vestibular atual. A forma do Enem perguntar é muito interessante, mas ele carece de conteúdos organizativos do ensino médio. O vestibular é fortemente conteudista, mas na maneira de perguntar distorce a realidade do ensino médio. Nós queremos ter um exame nacional que dê conta do conteúdo, mas de forma inteligente, que julgue a capacidade analítica dos estudantes e promova uma mudança na atuação em sala de aula do professor, comparou Haddad.